sexta-feira, 22 de maio de 2015

Os últimos 42 do UTSM


Quase uma semana depois, o rescaldo da minha primeira maratona de trail running.
Foi a primeira vez que me meti numa alhada com a dimensão desta.
Depois dos Abutres, decidi que estava na altura de alargar horizontes e correr 42km pelos Trilhos da lindíssima Serra de São Mamede, no Trail Longo do UTSM2015.

Se 42km numa maratona não devem ser fáceis, imaginem correr uma distância semelhante a subir e descer montes e vales, entre pedras, pó, riachos, com um calor abrasador e vento, para ajudar à desidratação...


Chegámos a Marvão mesmo em cima da hora.
Os últimos preparativos (e idas várias ao wc com os nervos) atrasaram-nos...
Só deu tempo de subir a correr os degraus até às Portas de Ródão já a ouvir a contagem decrescente para o início da prova.
Fiquei na dúvida se havia um controlo 0 antes do arranque. Perguntei à pessoa mais próxima, um senhor que ficou surpreendido por lhe estar a fazer perguntas já com o pessoal a arrancar. Ficam aqui as minhas desculpas públicas pelos segundos de atraso. E muito obrigada pela atenção!

Disse-me que o primeiro controlo era mais à frente, por isso, siga, que só tinha 10h para fazer o percurso!
Mesmo assim andei em stress nos primeiros metros, a pensar que podia correr 42km sem classificar (parvinha!) até que demos a volta e entrámos pela parte de trás do castelo, onde estavam os membros da organização, no PAC (Posto de Controlo e Abastecimento) 6, o primeiro da minha distância. Alívio...

A primeira metade da prova correu bastante bem, mantive o meu ritmo habitual e pouco mais de duas horas depois já estava no PAC da Sr.ª da Penha, em Castelo de Vide.
Cada vez que passava alguém com o dorsal dos 100k dizia umas palavras de apoio. Eram, são, os meus heróis. Sem dúvida!
No final da descida de Marvão, passei por um atleta dos 100, deitado e completamente rebentado. Abrandei, percebi que mal falava, não conseguia comer, nem beber. Eu sei que sou enfermeira, mas desculpem-me, não fui capaz de parar. Percebi que estava acompanhado e eu não ia poder ajudar em nada de especial... O que ele precisava era de uma maca e soro e eu não tinha nada disso. Para mim aquele era um mau presságio e se eu parasse seria pior para a minha cabeça. É que estas corridas são muito mais psicológicas do que físicas, acreditem. Continuei. Mas aquela cena ficou a moer-me até que ouvi a ambulância... Está safo!

O André foi um querido e acompanhou-me quase sempre, de bicicleta, na primeira metade da prova, a trepar pelos estradões cheios de pedras, alguns com uma calçada romana muito gira.
Agora tenho noção que talvez tenha feito estes primeiros kms demasiado depressa, mas o número 42 era demasiado grande e não me saía da cabeça. Tinha de aproveitar enquanto tinha energia.
Neste PAC perguntei as horas a um membro da organização. "Era só para saber se já são horas de almoçar". Eram mais ou menos 11h. Comi qualquer coisa e segui que ainda era cedo. Metade já estava, faltava o resto!...

O calor começava a apertar. Depois de um bocado pelo meio do monte a curtir todas as sombras que apareciam, fizemos um estradão completamente ao esturreiro. Passei um trio dos 100km, dois rapazes e uma rapariga. Disseram-me que eram de Paços de Ferreira.
Um pouco antes do PAC 8, sentei-me à sombra, para comer uma barrita - o meu almoço! Comi nas calmas e fui vendo o pessoal a passar: o trio dos 100km, o sr Rui de Almada, o Sr Manuel, o Rui que foi à Ultra dos Abutres e a Catarina, que acabou por me fazer companhia nos kms finais...


Com o nível de energia recuperado, comecei a subir e apanhei o trio. Continuei por perto deles até antes do PAC 9, no Convento de Provença, a cerca de 12km da meta.
Havia pizza (!), mas decidi não comer mais nada... (a melhor opção do dia!)
Só tinha sede. Nunca bebi tanta água/isotónico como nesse dia. Enchi o depósito de 1l em todos os abastecimentos. Não conseguia comer. A barriga parecia inchada da água/isotónico que me fartei de beber, mas continuava com SEDE!...
As costas já acusavam as horas a mais em pé. Nas descidas as pernas doíam, mas aproveitava-as todas para correr. Nas subidas tinha que fazer umas paragens para dar descanso à coluna.

Finalmente chegámos a estrada Castelo de Vide - Portalegre. Na véspera tinha visto as fitas e sabia que íamos passar por ali. Comecei a correr ao lado da Catarina, que também fazia esta distância pela primeira vez. Era o nosso km33 e corríamos numa boa. Até que entrámos por uma quinta e começámos a subir o monte... :S

Via Portalegre ali ao lado e nunca mais lá chegava, só subia, subia, o mais rápido que o corpo permitia. Vi um senhor a vomitar (ainda bem que não comi pizza!), um rapaz dos 100k sentado à sombra. Estava quase, mas para ele, era obrigatório parar ali, e eu sentia o mesmo... Só queria ver o fim.
Até que começou uma descida enorme até ao PAC 10, o último antes da meta. Sentei-me uns minutos, não conseguia comer. Segui escadaria abaixo a dizer mal da minha vida, até que vi uma placa a dizer que faltavam 4km...
Em vez de animar e correr até ao fim, o calor e o desgaste foram mais fortes que a vontade. Fui correndo e andando conforme podia. A Catarina passou-me a correr.
Até ver a placa dos 3km... O desespero!
Esses últimos kms só não foram piores porque levei um banho maravilhoso com água à pressão, de uns senhores que estavam a lavar o muro da casa... :P
O trio dos 100km apanhou-me "não acredito que vamos passar-te à frente e fizemos os 100..."
Era o que precisava para continuar. Isso e saber que não tarda, estaria no maldito estádio onde o André estava à minha espera, já avisado por tlm, que eu vinha a morrer...
Mais uma corridita e a bendita placa do último km "quase finisher"! Finalmente vi o André. Deixei passar o trio dos 100, os meus heróis! ;)
Depois de mais umas palavras de incentivo e de lhe dar a mão, lá recomecei a correr. Afinal só faltavam os últimos 400m a correr à volta do campo... Siga, ali não podia dar parte de fraca!
E assim foi, a minha primeira participação num trail longo que, para mim, foi um ultratrail. 

42km a correr? Feito!
Tenho uma medalha de cortiça, bem merecida!!!
Resultados: 106º lugar da geral, 10º feminino e 4º no escalão SenF
Para quem só queria chegar ao fim... Not bad!
Mesmo assim, foi pena não saber que podia ter ficado em 3.º lugar, isso ter-me-ia dado ânimo para não parar de correr... ;)

Esta foto é do último km, mesmo antes de entrar no estádio... Ou: o poder da mente! ;)

Se leram isto tudo até ao fim, parabéns, é como se tivessem feito uma maratona :P

3 comentários:

sofia disse...

Boa pá!
Eu li tudo e fiquei orgulhosa (de ti, claro)!

Filipe Torres disse...

Maratona feita, portanto :) Parabéns, e como participante nos 100km, obrigado pelo apoio!

Dani disse...

Txii, até me senti importante agora com um famoso a vir aqui comentar! Eheh

Sei que vi uma camisola do MIUT mas não tenho a certeza se eras tu. Mas vi a tua filhota toda contente a bater palmas quando entrei no estádio ;)
Com o exemplo de casa, não tarda nada é ela a participante!! :P