sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Um passeio à procura da Primavera e de pequenos pormenores nesta pequena cidade: a linda


Não era isto que tinha planeado para hoje (eu e a minha mania de lindos e imensos planos seja a curto, médio ou longo prazo...).
Pensei aproveitar a folga para dormir mais um bocadinho, tentar cumprir a minha-espécie-de-desafio para 2015 de ler um livro por mês (ainda nem a 1/4 do livro vou e amanhã já acaba Fevereiro, não é?... :P) e ficar por casa a descansar e preparar-me para as duas noites de serviço seguidas que aí vêm.


Afinal de contas, desde as 7 da matina que não preguei mais olho, o cérebro a funcionar a mil, só a pensar no que se está a passar hoje de manhã no serviço (logo hoje que pedi troca para ficar em casa descansada!). Acabei por me deixar ficar na cama, agarrada ao telemóvel, a atualizar-me na leitura dos posts recentes dos blogs que sigo.

E depois de ler, finalmente (!), o post da Ana e os comentários que lhe deixaram, reparei que estava sol lá fora e os meus planos tinham que ser obrigatoriamente alterados. Não podia deixar de fazer algo por mim, dar-me tempo para fazer mais do que ler e viajar para um mundo imaginado. Tinha que aproveitar para fazer aquilo que tinha pensado há uns dias, depois de um passeio por cá com a M., logo que tivesse mais disponível num dia de sol: sair de casa com a máquina fotográfica a tiracolo para fotografar alguns dos pequenos pormenores desta cidade e ir à procura dos primeiros sinais da Primavera, a minha estação do ano favorita. Sair à rua. Ver a realidade. Apanhar ar e sol!  ;)

Levantei-me, fiz algumas tarefas domésticas para deixar o ambiente cá em casa mais agradável (por muito que me custem, às vezes, as arrumações, não consigo viver no caos, altera-me o equilíbrio, o mental, que o físico ainda não anda lá muito seguro...) e só depois tomei o pequeno-almoço, nas calmas.


E saí. Mesmo com umas nuvens já a pairar aqui em cima.
Uns segundos depois de estar na rua, ouço um "bom dia, como está?" vindo de um senhor idoso que mora aqui ao lado mas que não me conhece. Fez-me logo sorrir e pensar que tinha tomado a melhor decisão ao deixar o sofá.
Minutos mais tarde, passa por mim um casal. O senhor vê-me a usar a máquina e fica a olhar na direção para onde apontei a objetiva. Como eu, já teria passado ali milhentas vezes, sem reparar com atenção no portão enferrujado. Perguntou-me o que estava a fotografar e disse "muito bem, com a árvore atrás vai ficar uma fotografia muito bonita".


Senti-me uma autêntica turista na minha cidade  ;)


As fotos são um pouco mais que o habitual mas, rapidamente, lhes dão uma vista de olhos.
E aqui estão:













O parque da Alta Vila está muito diferente da altura em que andava na pré e fazíamos lá os nossos passeios e festinhas de final de ano. Caíram imensas árvores no temporal de Janeiro de 2013 (teve direito a nome e tudo - Gong - o que eu aprendo...). Já não existem pássaros nas gaiolas, nem se ouvem as poupas (não me esqueço do típico "cuqueruuu"...). Os muros foram postos abaixo e construíram um edifício novo, com uma arquitetura totalmente desenquadrada do resto do parque. Parece agora um parque bem mais pequenino... Mas, ainda assim, a Alta Vila mantém alguma da sua magia. Isso, ou então são as minhas memórias que me fazem continuar a gostar muito daquele sítio...

A tal foto do portão, que não ficou nadinha de jeito, mas tudo bem, deixo-a aqui.



Uma casa antiga, giríssima, a ser restaurada. Espero que o façam mesmo bem.






Os pneus coloridos, nas hortas urbanas.
E a cultura agrícola na "caixa de correio" das hortas. Ou não estivessem elas ao lado da biblioteca municipal.







Já vos tinha dito que adoro magnólias brancas? (Nota-se, não é?...)
São tão lindas! E só agora percebi que são das primeiras árvores a florir, para chamar a Primavera. ;)


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Passei a ser meio "rato de campo" meio "rato branco de laboratório"


A fábula tinha o rato da cidade, mas eu acho que a imagem fica mais adequada com um rato de laboratório, daqueles de pêlo branco e mãozinhas cor-de-rosa, frágeis e fechados em gaiolas, só com a rodinha para se entreterem (ou nem isso!...).

Passo a explicar porquê: eu que gosto tanto de ar livre, que sou tão feliz a correr pelos trilhos dos montes de Portugal (ou pelos caminhos das cabras, como me questionou na segunda-feira o sr. dr. da medicina no trabalho depois de ouvir a expressão trail running ;) ), iniciei ontem a minha experiência em ginásio.

Graças às condições metereológicas nem sempre favoráveis, ao andar mais vezes do que devia a correr sozinha e, nem sempre, em horários ou locais mais apropriados para uma menina (e também para acompanhar o menino que, por causa do trabalho, só consegue treinar btt/ciclismo ao fim-de-semana e parece-me ter alguns problemas com tomar iniciativas para algumas coisas, mas só para algumas...), senti necessidade de complementar os meus treinos de corrida com umas horitas de ginásio por semana.

Depois de discutirmos as condições que os vários ginásios (a sério, aqui há demasiados ginásios por km2!) desta mini-cidade nos oferecem, optámos por nos informar melhor naquele que nos pareceu o mais indicado para nós. E já equipados saímos de casa, para não perder a viagem.

Fomos muito bem recebidos (também mal não era!) e depois de melhor esclarecidos, toca a ir para as máquinas queimar gordurinhas acumuladas de mais de uma semana parada (no meu caso, graças à minha primeira lesão associada ao desporto... estou uma verdadeira atleta! Até já tenho lesões! :P)

Numa horita, fiz 5km de passadeira, pouco mais de 2km de remo e experimentei as máquinas de levantar pesos para fortalecer braços e pernas. E já deu para ficar fartinha... :P

Para quem gosta tanto de respirar o "ar dos pinheiros" não apreciei muito a parte de só ver, à minha frente, uma janela de vidro para o escuro da noite e umas luzes vermelhas sempre a piscar. Senti-me um autêntico rato de laboratório, a correr numa passadeira, que podia bem ser uma rodinha da gaiola, sem destino, sem ver outras paisagens, sempre no mesmo sítio...

Ainda assim, fiquei entusiasmada com a possibilidade de fazer algumas das aulas estruturadas que eles oferecem, nomeadamente a hidroginástica e Pilates, para ver se dou uma ajudinha à minha triste e torta coluna.

Vamos ver se o entusiasmo assim continua nos próximos meses... ;)


E pronto, não vos maço mais com estes assuntos fitnéssicos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Vamos relativizar um pouco os nossos "problemas"?


Depois de uma manhã no bloco operatório de ginecologia a assistir e colaborar numa cirurgia em que a mulher jovem que foi intervencionada ficou mutilada sem uma parte substancial de pele e tecido celular subcutâneo numa zona tão íntima e sensível, o que lhe vai limitar imenso a vida a partir de hoje, tudo graças a um filho-da-mãe de tumor maligno raríssimo...
...chego a casa, ligo o wireless no telemóvel e, através das sugestões do instagram, descubro um site bastante interessante. Numa vista de olhos pela página, esta leva-me a outro tema, outras dificuldades, outras vidas bem complicadas por falta de saúde, neste caso não física, mas mental...

Sou uma sortuda.
E agradeço por isso.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Mama fofinha: passo a passo

Nestas últimas semanas, para aproveitar a oportunidade de ter uma "grávida cobaia" tenho vindo a desenvolver o meu próprio curso pré-parto. É um projeto meu (e que será também da minha querida sócia S. ;)) para este ano, que começa assim a dar os primeiros passos...
Espero que o consigamos tornar mais concreto ao longo do ano.

Apesar de não ter parado um segundinho esta semana, ainda consegui arranjar um bocadito para terminar a mama de pano, a tempo da aula da amamentação.

Não tive como arriscar usar a máquina. Pela minha fraca experiência nas lides da costura, achei que demoraria muito mais tempo, por isso fi-la totalmente à mão.
Já tinha os pedaços de tecido cortados desde a semana passada. Andei a vasculhar nos restos de tecidos da minha mãe e escolhi estes três, pela semelhança com as cores humanas.



A ideia era fazer duas mamas: uma rosada e outra "morena". Contudo, não encontrei, no saco dos restos, nenhum tecido de cor amarelada que me enchesse as medidas.
Ficará para outras núpcias, mas não me esqueço! Prometo.


Cortei quatro pedaços de tecido: um redondo para a base, dois circulares com um buraco no meio para a forma da mama e da aréola e um quadrado pequenino para o mamilo.
Enchi as formas com fibra sintética em forma de bolinhas, que quase parece algodão. Este tipo de fibra molda-se muito facilmente e deu imenso jeito, sobretudo, para encher o mamilo.




Depois de coser a forma da mama à base e enchê-la, fiz a forma do mamilo, desperdicei o tecido em excesso e cosi-o ao tecido da aréola.





Ficou um bocadito grande de mais, mesmo para a boca do meu modelo, o Joãozinho...
Lá terei que o fazer de novo.




Por fim, ao juntar a aréola à mama, acrescentei mais um pouquinho de fibra para lhe dar volume e tentei disfarçar a linha por baixo dos tecidos...



Et voilá!



Fiquei tão orgulhosa do resultado final. ;)

Mesmo com os pequenos pormenores a melhorar, gostei muito de ver o meu mini-projeto acabado.
Está super fofa! E já serviu muito bem para o propósito: mexer e dar exemplos sem usar a minha própria mama :P


Desculpem a qualidade das fotos, mas já era de noite quando me dediquei a terminar a maminha ;)

Ufa, chegou o fim desta semana!

E que semana...
O trabalho foi, praticamente todos os dias, super exigente e cansativo, e entre a lesão que fiz no domingo no joelho que me limitou os movimentos e impediu os treinos, as aulas de preparação para o parto (e ainda me baldei a dar a aula prática...), farmácias fechadas por ser dia de Carnaval (viva o Carnaval! Porque ninguém pode levar a mal :S), injeções para o pai e para a mãe (naquela casa era só mortos e feridos, credo!), mais uma noite de serviço para arrumar comigo, ir fazer as análises e a prova de esforço, a limpeza da casa em tempo recorde, a ida à pressa à sessão de formação em serviço e a preparação de um jantar cá em casa com os nossos amigos do secundário, ainda consegui chegar mesmo na hora H e assistir aos primeiros minutos de vida da bebé de uma conhecida...

Ufa! Acabou a semana. Alegria minha gente!
É Sábado e, afinal, está sol  ;)

Agora, depois da louça lavada e a casa limpa e arrumada (de novo!), há que aproveitar bem o sofá, não fazer nenhum ou talvez ir para a rua aproveitar o quentinho do sol e esquecer que amanhã é domingo que, para mim, vai ser dia de trabalho...

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Be my Valentine...

Com chuva ou sem chuva, com frio ou calor, com namorado(a) ou sem ele(a), façam alguma coisa para que o vosso dia 14 de Fevereiro de 2015 seja melhor!

É só um conselho que vos deixo e eu não mando nada... ;)

Um dia feliz para todos!




(Andava para fotografar este decalque grafitado há mais de um ano... Passo por ele de carro todos os dias. Já tá!)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

As suspeitas confirmaram-se

1.º Afinal os problemas gástricos, não devem ser mesmo gástricos, mas sim vesiculares. Parece que tenho a vesícula preguiçosa, por isso, há que fazer medicação durante uns dias e tenho de saber identificar quais os alimentos a evitar pela minha intolerância.


2.º O mais provável é que não seja síndrome vertiginoso, apenas uma sensibilidade maior a coisas que mexem com os líquidos no labirinto dos meus ouvidos, ou basicamente, com a minha sensação de equilíbrio.
Conclusão: tenho de tomar outros comprimidos durante uns tempos e afastar-me da minha cadeira de balouço nova (que foi a responsável pelo desencadear destas vertigens malucas) durante MESES... :(

Juro que pensava que não, mas afinal sou uma sensívelzinha-mete-nojo!!!
Uma autêntica menina que, ainda por cima, por agora, tem que se encher de comprimidos...

E foi nisto que deu a minha consulta de rotina. Há que celebrar ao som desta música:


Dead or alive - You Spin me around (like a record)

Yeah I, I got to know your name
Well and I, could trace your private number baby
All I know is that to me
You look like you're lots of fun
Open up your lovin' arms
I want some

Well I...I set my sights on you
(and no one else will do)
And I, I've got to have my way now, baby
(and no one else will do)
And I, I've got to have my way now, baby
All I know is that to me
You look like you're havin' fun
Open up your lovin' arms
Watch out, here I come

*You spin me right round, baby
right round like a record, baby
Right round round round
You spin me right round, baby
Right round like a record, baby
Right round round round

I, I got be your friend now, baby
And I would like to move in
Just a little bit closer
(little bit closer)

**All I know is that to me
You look like you're lots of fun
Open up your lovin' arms
Watch out, here I come

[*Repeat]

I want your love
I want your love
[**Repeat]

[*Repeat and fade with ad lib]

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

2.ª ida à praia do ano, desta vez em modo: manhã de domingo

A primeira vez que fui à praia em 2015 foi para dar uma corridinha.

Mas, porque a vida não são só corridas (essa ficou para hoje, que já andava a ressacar ;) ) e bicicletas, ontem de manhã, fui à passear à praia para aproveitar o domingo, descontraidamente, com a máquina fotográfica a tiracolo, a aproveitar o sol e dar tempo para recuperar da tosse...
Não é meu, é certo, mas nem o cão me faltou ;)

Estava mesmo a precisar de apanhar ar, quebrar a rotina casa-trabalho-casa e trocar dois dedos de conversa...

O Offshore está recuperado e bem giro.
Até o Yaki adorou o passeio! Olhem só para ele todo feliz ;)









Venham mais domingos solarengos e bons como este!

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Home update #9 e... já aprendias a tirar fotografias...

Back to reality.
E para isso, não há nada como "A" ida ao IKEA do ano.

Perdemos a cabeça e, finalmente, tenho a cadeira de balouço e o meu aparador de sonho!!! ;)

Aqui estão eles, os meus novos móveis, lindos como eles só:


E o que eu demorei para chegar a esta foto relativamente apresentável?!?...
Se é no automático, o flash teima em disparar e a foto fica com uma luz artificial manhosa.
Se é no "P" fica demasiado branca e, muito provavelmente, tremida... :S

Sou demasiado amadora nestas andanças. Já tirava um cursinho de fotografia, já...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

V Trilhos dos Abutres (27k) - Frio, lama, chuva, lama, granizo, lama, vento, lama, paisagens incríveis, trilhos fantásticos, mais umas amizades no trilho e mais uma chegada ao fim!

Pois, o título ficou muito comprido, eu sei...
A culpa foi da lama, retiro da minha pessoa qualquer responsabilidade. E assim também se vão preparando para o meu maior post de sempre.


Se estás já cansado de ouvir falar ou ler sobre os Abutres de certeza que é porque não participaste na prova, sugiro que não continues a ler o que se segue.
Eu sei que já passou quase uma semana do acontecimento, mas só ontem tive acesso à amostra de uma foto numa zona mítica do percurso e fazia questão de ilustrar este post com ela.
Além disso, o meu sistema imunitário, afinal, não é assim tão poderoso e, esta semana, tive direito a relembrar o que é estar com 38,5º C de temperatura e a definhar no sofá, depois de mais uma noite de serviço daquelas...


Mas bem, bora lá contar-vos como foi a minha experiência "abútrica".
Estão preparados?!?


Na noite anterior, para não falhar à tradição, não consegui dormir nadinha de jeito. O A. uma vez mais, vomitou a meio da noite (as desculpas que ele arranja sempre para falhar às provas de trail running :P), depois, também eu fui tratar de ir mais leve para a prova (o meu sistema nervoso é um querido!).
Lá fora, continuava a chover a potes.

De manhãzinha, toca a despachar para ir ter com os outros 2 resistentes da nossa equipa. De 12 inscritos, apenas sobraram 3 malucos que insistiram viver o V Trilhos dos Abutres: um homem e duas mulheres.
Esqueci-me que era dia de feira e fui pelo percurso mais chato para ir ter com eles. Ir por lá, fez-me ver que o rio já tinha ultrapassado, e bem, as margens. Os campos estavam completamente alagados, como ainda não tinha acontecido este ano. E no meu pensamento "Ok... Mas não é isto que me vai fazer desistir!"

Siga caminho e sem grande chuva, mas sempre com nuvens negras a pairar em cima das montanhas que iríamos trepar. Soubemos que a prova da ultra tinha sido adiada umas horas, a organização tinha ponderado cancelar/adiar o evento, mas optaram por alterar alguns percursos e esperar que as águas da chuva intensa da noite, escorressem montes abaixo e aliviassem os trilhos...

Em Miranda do Corvo estava bem fresquinho e ora fazia sol, ora desatava a chover como nunca...
Às 10h começou a Ultra (50k). Lá foram eles todos contentes. Começaram com sol.
A nossa prova ficaria para as 10h30. Stresszinho a aumentar com a aproximação da hora. Só pedíamos que não chovesse no arranque, para podermos aquecer um bocadinho. Com o atraso, tínhamos também receio de já chegar ao fim da tarde, com pouca luz natural, o que, sem frontal (aquelas luzinhas que se põem na testa p.e.) seria bem mais complicado...


10h40 arrancámos. Eu e a A.L. mantivemo-nos juntas, apesar de eu achar que ela corre mais que eu. Sabíamos que os trilhos iam ser muito duros (até perigosos) e era importante ter alguém conhecido por perto em caso de necessidade.
Nem 1km fizemos e começou a chover. Os trilhos estavam cheios de lama, mole onde enterrávamos as sapatilhas, que pareciam querer sair dos pés, ou então, de pequenos riachos castanhos que não nos deixavam ver o que estava por baixo, fossem pedras escorregadias, paus ou mais lama...

O pessoal que ia por perto estava super animado e nós também. Dizíamos piadas, ríamo-nos dos que escorregavam na lama (e dávamos uma mãozinha se fosse preciso, claro!), sorríamos para as câmarazitas de filmar dos outros participantes. Um deles andava, 
de cada vez que passávamos por uma zona mais escorregadia, tentava, a todo o custo, apanhar quedas aparatosas no vídeo...  :P

Primeiro desafio:

Saltar um riacho de água por baixo de um viaduto, com mais ou menos 1m de largura. Safei-me bem. E afinal este nem era bem um desafio, como percebi pelo que se seguiu... Mas deu logo para ficar molhada até aos joelhos...
Bem pior que eu, pessoal que vi nas fotos a atirarem-se completamente à água, só para passaram mais depressa... Diria, pouco inteligentes...


Tipo isto:
(dafuq?!)

Continuámos o nosso caminho e, durante um bocadinho, deu para correr, esticar as pernas e aquecer (dentro do possível...).
Começamos a andar a par do rio e de pequenas quedas de água. Decidi calçar as minhas luvinhas novas (tê-las levado foi o que me safou, mais à frente... sem dúvida, foram a minha melhor aquisição de equipamento de trail até hoje) sempre que fosse preciso agarrar-me a alguma coisa ou trepar.
Apanhámos a primeira descida cheia de lama e sem vegetação a onde nos pudessemos agarrar. A A.L. ía à minha frente com medo de escorregar. Até que eu experimentei baixar-me, juntar os pés e escorregar por ali abaixo com a ajuda das mãos. Tipo "sku", mas sem pousar o rabo no chão, estão a ver? Resultou. E a partir daí não quis outra coisa. ;)


Sempre que possível tentávamos correr, mas era difícil, pela lama, a inclinação e a quantidade de gente que, nesta fase, ainda ia à nossa frente. Entretanto, pude adorar a paisagem, ver a água a correr furiosamente riachos abaixo, mesmo ao nosso lado.

Desafios seguintes:

Descemos por um "mini-precipício", agarrados a uma corda (benditas luvas!) que acabava antes do final da descida... E, mais uma vez, tive de recorrer à "minha" técnica maravilha de sku. Teria sido exemplar, não tivesse eu afastado a perna esquerda a escorregar, o que fez com que eu ficasse com um tronco entre as pernas... Valeu por mais um momento de risada graças à posição parva em que fiquei. :P
Trepámos uma parede de lama imensa em que tínhamos que encontrar socalcos mais ou menos firmes para subir. A A.L. começou a ficar para trás e a queixar-se de dores nas costas...
Começámos a subir a montanha e o granizo a atacar-nos com força. Só imaginávamos apanhar neve lá em cima...
Pior que a parede de lama, tivemos que trepar um muro de pedras, mais alto que eu, que se tinha transformado numa pequena queda de água...

Passamos por várias pontes rústicas de madeira. Uma delas mesmo em frente a uma cascata que, nesse dia, graças à chuva, estava gigante. A força da água era tanta que sentíamos as gotas do vapor de água na cara. Um cenário simplesmente magnífico! Lindo, lindo!
Lembro-me de pensar "isto sim, são os Abutres..."
(Tenho pena que a amostra não faça jus ao que vimos...)



(ali vou eu! ;)

A subida da montanha foi-se fazendo nas calmas. Subíamos agarrados a cordas, correntes, de gatas, como calhava! Apesar do frio e da chuva que nos ia dando algumas tréguas, sentia-me bem. Não estava ainda muito cansada e fui incentivando a A.L. a continuar e a ir bebendo água aos poucos. Tínhamos que chegar, pelo menos, ao Posto de Abastecimento dos 17km que sabíamos ser já a descer. Ela que é uma força da natureza, estava de rastos, com dores "nos rins" e as mãos a inchar... :S

Cheguei ao ponto mais alto e percebi que a A.L. estava um pouco mais para trás. Lá em cima estava um vento gélido. As minhas luvas, mesmo meio molhadas e cheias de lama, conseguiam manter as minhas mãos quentes, graças à capinha para as pontas dos dedos. Para não arrefecer, decidi continuar ao meu ritmo e esperar por ela no abastecimento.

Na descida, surgiu mais um desafio:
O trilho tinha-se transformado em linha de água. A água corria sem parar por ali abaixo e eram raros os sítios onde nos conseguíamos desviar um pouco do seu trajeto.
Siga água abaixo e não reclama! :P
De facto, era mais fácil descer por onde havia água, porque o solo era mais firme que nas margens cheias de lama. Sempre com cuidado, para não dar um malho em sítios com pedras e a usar a "minha" técnica nas descidas lamacentas.

Até que, já a ver um estradão e dois marmanjos da organização ali parados a ver-nos passar, enquanto grelhavam umas febras (nem senti fome com o cheiro, só me apeteceu aquecer aos mãos nas brasas...), existia um lago lamacento enorme...
Vai a D. cheia de confiança, à frente de uns poucos de gajos (ainda por cima! Burra de não os ter deixado passar primeiro para ver o melhor caminho...), segue em direção ao lago e, já dentro dele, com água pelos joelhos, sente o pé esquerdo a escorregar (outra vez o esquerdo!)...
Conclusão: água gelada até à cintura! ;)  Só não mergulhei, porque fiquei segura num tronco que estava debaixo de água (ufa!).
Mando uns berros. Os meus companheiros de luta ajudam-me a sair da água e perguntam-me se estou bem, se me magoei. "Não, estou bem. É a água!...". Eles "tá fria?!". Eu "Nãaaaaoo, tá booooaaaa!" :P

Toca a correr dali para fora, para tentar aquecer. O abastecimento dos 17km estava a uns metros... Gondramaz, uma pequena aldeia no meio do nada, mesmo muito gira. Hei-de lá voltar.
Parei. Neste abastecimento, como nos outros todos. Coisa que não costumo sentir necessidade nas provas, mas nos Abutres era crucial. Além disso, queria ver como estava a A.L.
Esperei um pouco, comi uns deliciosos bocados de laranja, banana e uns quadradinhos de marmelada. A minha colega de equipa tardava em aparecer e eu estava a ficar gelada...


Decidi continuar. Não sem antes pedir a umas pessoas que estavam ali a assistir para a avisarem que eu tive de continuar para não arrefecer mais.
Logo a seguir, vi o J.P. (que bom ver uma cara conhecida!), marido da A.L. Estava a ver se nós passávamos. Pedi-lhe que voltasse para trás e fosse ao encontro dela. A minha colega optou por desistir neste ponto da prova.

E eu segui sozinha. Faltavam 10km, não haviam de custar mais que os que já tinha feito...
(E vocês, se aguentaram até agora, deixem-se estar. Afinal só faltam 10km de descrição. O pior já passou... ;)

Ouvi dois corredores que iam perto de mim a queixarem-se do frio nas mãos. Comecei a mandar bocas na brincadeira "eu vou aqui com as minhas mãos quentinhas!" "estas luvas são um espetáculo! A melhor compra de sempre...". Eles entraram na brincadeira e começaram a conversar comigo. Soube de onde eram. Afinal eles conheciam provas onde eu já tinha participado e outras que foram realizadas na minha terra. E eu conhecia uma prova organizada pela equipa de um deles ;)

Seguimos por trilhos e levadas, fizemos uma pequena parte de um percurso pedestre, passámos o rio de um lado para o outro, em cima das pontezinhas de troncos, mais umas poucas vezes. Nesta zona, passaram por nós os dois primeiros classificados da Ultra, em altas velocidades, como se nada fosse (como se não levassem, pelo menos, mais 25km que nós nas pernas...).
Na altura, nem cheguei a saber o nome dos meus novos companheiros de luta... Mas, até ao último abastecimento a 5km do final, continuámos juntos, na galhofa, como se nos conhecessemos há mais tempo... Como não podia falhar, veio à baila o tema TopMáquina e respetivas Teorias-Top-do-Trail, o facto de eu ser enfermeira e, alegadamente, ter andado a meter-prá-veia e outros assuntos nessa linha... ;D ;D
Uma risada, que nos manteve bem dispostos e distraídos por um bom bocado, esquecendo um pouco as dificuldades vividas e o que ainda estava para vir até à meta...


No último abastecimento antes do fim. A A.L. e o J.P. estavam à minha espera. Incentivaram-me a continuar. A não perder muito tempo porque era uma das 10 ou 12 primeiras.
Nem sei o que me deu, até ali não tinha pensado na classificação, nunca foi o meu objetivo primário. Mas, na altura, meti na cabeça que tinha de me manter nas 10 primeiras classificadas. Afinal, não me lembrava de ser passada por nenhuma mulher pelo meio da prova, eu é que fui passando... "São só mais 5km? Ok, vamos lá!"

E, para terminar, segui outra vez sozinha.
Eram só 5km, de facto, mas não eram 5km de corrida. Destes, 3 ou mais eram de lama, pura. Mole e falsa como a que tínhamos apanhado no início... Fui andando, como pude. Ainda tive oportunidade de fazer uma pose parola para um fotógrafo que estava a seguir a um lago de lama à espera de apanhar um qualquer descuidado que lá se enfiasse... :P

Custou-me muuuiiito esta parte. Só me imaginava a perder ali o chip ou uma sapatilha e ficar ali que tempos, sozinha, à procura... Demorei imenso tempo aqui e fui passada por uma data de gente.


Acabou, finalmente, a lama e começou a corrida em plano, estrada, até chegar quase à meta. Seria um bom sprint final, não tivesse eu meio quilo de areia nas sapatilhas e mais de 20km impossíveis nas pernas. Mesmo assim, nesta fase, passei uns 3 corredores (homens, à pois é!... ;)



(a areia por baixo da sola das minhas sapatilhas. Litros e litros de água limpa depois, que os meus pais lhe passaram, para tentar tirar a lama...)

E, só para acabar em beleza, uma rampa até ao pavilhão da meta, super inclinada, escorregadia e cheia de lama... Foi o único sítio do percurso onde fui incapaz de me rir para a foto. Ainda por cima, logo aqui, fui ultrapassada por uma mulher... :S

Chego ao cimo dessa rampinha. Expiro com força, espero 2 ou 3 segundos e arranco a correr para os últimos 200m até à meta.

E já está! Aquela sensação incrível de dever cumprido! Objetivos superados!
Consegui chegar ao fim... ;)  Braços no ar, um sorriso na cara.


Comer qualquer coisa, debater-me para tirar o chip dos atacadores da sapatilha e dar um abraço os meus companheiros de luta e novos amigos do mundo trail ;)

V Trilhos dos Abutres (27K): 12.º lugar Fem., 9.º lugar Sen F (o meu escalão), 4h49. Feito. ;)
Para mim, a prova de trail running mais dura mas mais bonita de sempre!












Podem ler aqui um excelente relato de quem viveu a experiência do Ultra Abutres.

Se ainda tiverem coragem, para melhor perceberem aquilo porque passámos, deixo-vos o link de um vídeo (onde eu apareço! uhu :P).
Alerto apenas para a edição "meio-esquizo" do vídeo. Os mais sensíveis podem ficar enjoados ou a convulsivar ao fim de uns minutos... Eheheh


Fotos minhas durante a prova?
Simplesmente impossível. Para além de não ter levado nenhum aparelho à prova de água e lama, precisei das minhas duas mãos livres em todo o percurso e muito admiro quem conseguiu fazer vídeos como este...


Deixem-se de tretas, o vídeo tem 20 min e meio, ok. Eu estive lá quase 5 horas... Custa-vos assim tanto?!
Ok, façam como entenderem... :P



Pronto, já acabei.