terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Vouga Trail 2023 - 25k - De volta aos Abutres 2015?!?

Editado a 15/01 para acrescentar as fotos da lentinha... ;)


Decidi inscrever-me em Dezembro, após os 18kms dos Picos do Açor.
Adorei a experiência de voltar a correr "fora de casa", desfrutar dos trilhos sem pensar em competir!
Tinha de repetir e, desta vez superar-me, sair novamente da "zona de conforto" de provas abaixo dos 20kms...

Natal e Passagem de Ano já foram, chega a primeira semana do ano bem intensa, entre trabalho e cenas da vida que me roubaram alguma energia, mas que me deram ainda mais vontade de cumprir este desafio até ao fim. 💪

Sabia que as previsões meteorológicas para o fim de semana não eram agradáveis, mas o som da chuva a cair lá fora, adiou por uns minutos sair da cama... Até que saltei de debaixo dos lençóis, "Vamos lá aos Abutres 2!"

- "Inês, deixa a mamã vestir-te. Vais para casa da avó, que eu vou correr!
- Não, não, não!
- Sim, sim, que eu gosto de correr!
- Não, a mamã gosta da Inês e do Simão!
- Sim, a mamã gosta muito de vocês, mas também gosta de correr" 😉

Fui até Sever com este pensamento e a ele voltei durante alguns momentos mais desafiantes: "Estou aqui porque gosto!", "Ninguém me obrigou!", "Está a ser divertido!", "Sorri!"

A chuva não parou um segundo que fosse durante as quase 4h da minha prova, nem sequer antes do arranque, pelo que optei por fazer o controlo 0, o mais tarde possível.
Antes disso, tentei perceber o percurso, de modo a que o André pudesse ver-me a passar em algum ponto, mas sem qualquer expectativa de o voltar a ver antes de chegar à meta. Não havia quaisquer condições para ele tirar fotos, nem estar parado (minimamente seco) à espera de alguém a passar...
Só para chegar ao secretariado já tinha ficado toda molhada!

Enfim. Siga, sem reclamar!

Após pouco mais de 1km de estrada a subir, ainda dentro de Sever do Vouga, não tardou a entrarmos nos trilhos completamente encharcados, enlameados e bem espezinhados pelas centenas de atletas da Ultra e dos 35kms... Pois...

A chuva constante, humidade intensa (calculada por mim, de 99% 😝 - só porque conseguia respirar fora de água trrrr), lama um pouco acima de q.b, água a jorrar por todos os cantos fez-me logo relembrar os primeiros kms dos Abutres. Precisamos também de atravessar uns poucos riachos, com àgua pelos joelhos, mas 'tá-se bem.


Estava a ser mesmo divertido!

Até porque nunca caí (que feito!) e, felizmente, não assisti a nenhuma queda aparatosa. 

Agora sim, estava a conhecer Sever como deve ser... E a reconhecer alguns locais por onde já tinha passado, noutras andanças 😎



Fiquei de queixo caído ao passar a Cascata da Cabreia!
Nunca imaginei que estivesse com toda aquela pujança! Realmente impressionante! Linda! E já a meter o seu respeito... 

(não, não sou eu de cabelo curto :P. É só para verem bem com estava a Cabreia!)

Cheguei ao primeiro abastecimento, aos 8kms, de sorriso nos lábios. Mais do que uma pessoa me perguntou se eu estava contente. "Então não havia de estar?!"

Mas a força bruta da natureza veio a revelar-se um pouco mais à frente. 

Algures no km 11, o ribeiro tinha-se transformado num rio e não havia ponte ou corda onde me agarrar...
"Ora bem, eu com pouco mais de 5okgs devo ir por aqui abaixo!"
Felizmente, tememos todos o mesmo. A rapariga que, pouco antes, me tinha ultrapassado, parou, esperou uns segundos por mim, demos as mãos e ela também deu a mão a outros 2 que estavam à nossa frente. Ficamos ali, 4 pessoas agarradas umas às outras, passinho a passinho até chegar à outra margem. Com imensa ajuda de um senhor que ficou parado, dentro de água, próximo à margem do outro lado, para nos ajudar a progredir.
Não cheguei a perceber se era atleta ou da organização, suponho que seja a última hipótese. Mas mal saí da água a tremer com a adrenalina, senti medo... Medo mesmo, do género, "podia ter morrido... Gosto disto mas não foi para isto que eu vim!" E a pensar naquele senhor que ficou para trás, dentro de água, a ajudar outros atletas...

Obriguei-me a continuar, a pedir para não voltar a passar por um desafio assim. O trilho continuou sempre junto à água (quer dizer, a prova toda foi com água por perto, ao lado, por cima, por baixo!!!). Chovia imenso e, no entanto, fiquei com a ideia de ter sido a prova em que mais líquidos bebi.

Uns 500 metros à frente, voltamos a passar numa zona perigosa, nova travessia de rio. Desta vez mais estreita e com ajuda de um membro da organização que estava agarrado a uma árvore com uma das mãos, um pé dentro de água e a outra mão firme que nos ajudava a passar para cima de uma espécie de ponte, que mal se via, por debaixo da água a correr super rápido... 

Nova quebra emocional... E se o rapaz não estivesse ali? Caramba. Isto está de mais! 

Uns metros à frente, já a subir, cruzei-me com outro voluntário que ia com um saco grande na mão. Finalmente iam colocar alguma coisa para tornar aquelas travessias mais seguras! 

(soube, quando já estava em casa, que um rapaz terá ido arrastado pela água uns metros, mas que se conseguiu agarrar a um tronco e safou-se! 😱) 

Ok.. Ribeiros e rios já temos que chegue. Falta a subida. Será que é desta que acaba a água? 

Não, Daniela. Esquece lá isso.

Todos os trilhos tinham lama ou água com fartura, a terra não aguentava nem mais uma gota e não parava de chover! Os socalcos do terreno eram pequenas quedas de água, nas zonas mais planas formaram-se poças gigantes e mesmo os estradões, que cruzamos, estavam transformados em "rios".

Ainda fui passada pela Isabel, minha companhia nos Picos do Açor, sempre deu um pouco de ânimo ver uma cara conhecida. Ia cheia de energia, eu nem por isso...

A subida pareceu interminável... Nem é que tivesse uma inclinação impossível, mas...

Não sentia muito frio, tinha tirado o capuz há imenso tempo, ia apenas com o buff a fazer de bandolete, casaco "impermeável" completamente encharcado mas sempre fechadinho, mãos brancas e inchadas, luvas nos bolsos da frente do casaco todas molhadas, era indiferente tentar colocá-las nessa altura...
O vento ia aumentando à medida que subia e estar, constantemente, a meter os pés da água já se estava a tornar um massacre!
Ainda parei uns segundos, sentada num posto de transformação. Precisava de uma pausa, mas teve de ser muito breve, não podia deixar-me arrefecer.

"Enquanto não chegar lá acima, a água não vai parar", pensei. 
Acabei por dizer isto em voz alta, para o rapaz que ia ao meu lado há uns metros. Ele acenou com a cabeça.

A primeira metade da prova foi, praticamente, o tempo todo assim, em silêncio. Virada para os meus pensamentos. Os trilhos e a serra a imporem todo o respeito e cuidado. 

Fui gerindo a minha energia com pequenos goles de isotónico, uma barrita, que mastiguei imenso tempo e, mais tarde, um gel. Não repeti o erro do Açor. Parei e comi nos 2 abastecimentos. Sem comer/beber não ia aguentar este desafio...

Um bom pedaço depois de passarmos uma placa a dizer "Rota da Água e da Pedra" chegámos, 
finalmente, à parte mais alta! Chuva a bater tipo facas na cara, bora correr pelo estradão abaixo. E que bem que soube aquele pedaço de descida! Fiquei mais quente, ganhei outro ânimo!

Volta e meia via fitas pelo chão, não resistiram aos elementos... Houve um local ou outro em que fiquei na dúvida em relação ao percurso mas nada que levasse a me perder. Nessa altura já ia mais ou menos a par com as mesmas pessoas, que tenha conhecimento dos nomes, os Antónios e a Nádia, com as meias F*ck Covid 😁

A chegada ao segundo abastecimento desde o início da descida acabou por ser rápida e soube tão bem parar e comer, ainda que o local fosse frio e sem grande abrigo para a chuva que vinha de todos os lados... Nova receita: marmelada com sal 😖

Certo, faltam 8kms, as minhas costas ainda se estão a aguentar bem, "já não há-de ser nada!", vamos ao resto!

Mantive-me perto dos mesmos até ao final e acabei por passar algum tempo a conversar com a Nádia e com um dos Antónios. Os temas começaram pela nossa naturalidade, as provas que já fizemos e, entretanto, dei por mim já a falar sobre o meu trabalho. Pronto, quem me conhece sabe que esse tema dá pano para mangas... 😜
O que é certo é que os kms passaram e mal dei por eles, as subidas faziam-se mais a caminhar que a tentar manter o trote, fui passada por várias pessoas nestes últimos kms, mas não dei importância, não dava para muito mais. Ainda assim, sempre que podia, corria. Já era hora de terminar!
Mal conseguia ver o que dizia no meu relógio, tinha apontado para mais de 3h de prova e já ia perto das 4h... 😬
Como era de esperar, não vi o André toda a prova. Também mal vi os fotógrafos debaixo de umas capas pretas (nem eles me viram a mim, né? fotos com aquela chuva?...).

Travessia de estrada mais larga... Já estamos na civilização, está a acabar!

Ainda voltei a passar o António das cãibras, a Nádia, idem-aspas, incentivei-os a seguirem.
Comecei a ouvir o microfone e mantive o ritmo, já sozinha pelo parque da cidade.

Na pequena rampa até à meta, qual campeã (toda molhada a parecer um pito 😅), tirei finalmente o casaco e a mochila: há que mostrar as cores do clube a chegar à meta!



Tá feita!!! 💪
E estou viva!
Cumpri o desafio "pintado de verde" e também de castanho-pantone-laminha 😅
Cheia de frio, mas viva 😁


Mais uma prova para a história...

Qual será a próxima?!?


P.S.: Tal foi a aventura que me deu vontade de ressuscitar este blogue ao fim de uns 3 anos. Só para acrescentar que enquanto me lembrar da trabalheira que dá escrever aqui, não volto aqui, ok? Até à próxima!!! 😅

domingo, 13 de dezembro de 2020

A minha preparação

Há séculos que ando para escrever isto. A ver se é desta que sai 


Quando contei às pessoas sobre o nosso parto, com bastante frequência ouvi "que corajosa", "só tu, eu não era capaz"...

Ficava sempre a pensar que coragem não era de todo o termo certo. 

Admito que depois dum parto assim me senti muito forte e realizada, mas não uma pessoa mais corajosa.

Coragem para mim, era (é!) , no meio desta pandemia e medidas horríveis tomadas nos serviços de saúde, ter de parir no hospital. Sem acompanhante, com medo de testar positivo para covid e ser forçado o afastamento do bebé, não lhe ser permitido o primeiro contacto pele a pele e oferecido o meu leite.

Para mim, este afastamento era, sem dúvida, o que maior angústia me causava. Não apenas por mim, pela solidão do pós-parto que sabia que me ia custar imenso, mas, principalmente, pelo bebé! Que direito temos nós de privar os bebés da presença e contacto direto com a mãe à nascença? Porquê desperdiçar o melhor alimento de todos? Que implicações teria (teve e terá para tantos bebés) esse afastamento, na amamentação, na ligação mãe/família - bebé, no desenvolvimento do seu sistema imunitário e psicológico? 

Fico triste só de imaginar isto... E revoltada de pensar que poderei ter de compactuar com isto (quanto mais não seja por omissão) no meu regresso ao trabalho  :'(

Mas não era sobre estas medidas estúpidas e sem qualquer fundamento científico que queria escrever. Serve apenas para explicar que foram também um dos motivos para a minha escolha.

Parir em casa. De forma fisiológica. Sem pressas, sem protocolos, sem intervenções desnecessárias e com efeitos eventualmente danosos. Oferecer o melhor nascimento possível para a minha filha. A melhor transição para a vida cá fora.

O melhor parto para mim e para o meu bebé. Depois percebi, também, o melhor pós-parto que poderíamos ter tido. 


Então, como me preparei? 


Procurei, em primeiro lugar o apoio da pessoa mais envolvida e importante para nós, o A. óbvio. Inicialmente, pedi-lhe que tentassemos um parto diferente do parto do Simão (expliquei-lhe o quanto foi difícil para mim aceitar o que aconteceu) e que, para isso, fosse comigo a uma consulta com a nossa parteira. Aos poucos, pedi que ponderasse a possibilidade de termos a nossa bebé em casa. Decisão que também eu fui tomando com o passar do tempo...

Escolhi para estar connosco as pessoas que me transmitiam melhor apoio e segurança, durante a gravidez, parto e pós-parto. Digo sempre que foi o melhor investimento que fiz na minha vida. Sem dúvida que não está ao alcance de todos (infelizmente!) mas é, sem qualquer dúvida, muito compensador. Senti bem a diferença de ser acompanhada por uma parteira. Para mim, ter a presença e acompanhamento da parteira que eu escolhi, no meu parto, era uma das maiores fontes de segurança.

Optei por revelar os meus planos apenas a quem eu sabia que me iria passar tranquilidade e apoio. Tinha perfeita noção dos riscos, das eventuais complicações. Não precisava de absolutamente mais ninguém que mas lembrasse e me fizesse duvidar da minha escolha. Não disse que iria tentar o parto em casa à obstetra que (eu escolhi e) me seguia no hospital, nem ao médico de família. Decidi ainda não contar aos nossos pais para não lhes causar ansiedade e essa ansiedade voltar em espelho para mim. 

Afastei-me o máximo de tudo e todos os que me pudessem fazer-me sentir mais preocupada, ansiosa, angustiada, incapaz. Até da televisão com as suas notícias nada animadoras ou partilhas em redes sociais com as quais não concordava, me afastei.

Li bastante, procurei informação sobre parto fisiológico um pouco por todo o lado por essa Internet fora. O que, felizmente, aumentou exponencialmente com a pandemia. Não faltaram/faltam lives, reuniões online, partilhas de experiências...

Na verdade, a minha preparação em termos de recolha de informação começou bem antes de engravidar da I. Começou com todas as formações que fui fazendo desde que o S. nasceu. Spinning Babies, Parto Ativo, Respiração com Núria Vives, Parto Fisiológico e Preparação para o Parto na Água com a minha parteira Isabel Ferreira...

Apoiei-me também nas boas experiências que o meu trabalho me trouxe sobretudo nos últimos meses. Sem dúvida sonhei com um parto em 4 apoios, sem tempo para nada, como o que assisti aos pés da cama 17 às 5 e qualquer coisa da manhã.

Dei apoio online a outras grávidas. Ajudava-me imenso, continuar a dar de mim como profissional a outras mulheres e famílias a passar pelo mesmo que eu. 

Mais perto do parto, escrevi o meu plano de parto e tentei ainda preparar o cenário com a pintura de uns mantras para pendurar e uma lista de músicas com significado para mim (que não tive tempo de usar!  :P) 


E fisicamente?

Mantive-me o mais ativa possível. Sempre. 

Corri até me sentir bem, trabalhei até ao estalar da pandemia (o nosso hospital acabaria por mandar, e muito bem, todas as grávidas para casa ou teletrabalho, se possível uns diazitos depois) , fiz caminhadas, yoga para grávidas, pilates, fizemos amor, obriguei-me a comer melhor e a beber pelo menos 1,5L de água por dia, fiz massagem perineal e alguns exercícios de Kegel para fortalecer o períneo, peguei no Simão ao colo até ao fim sempre que preciso, sem medo. Decidi que íamos até à última, continuar a nossa vida. Jantar com os nossos amigos já com contrações e fazer a sessão fotográfica que tínhamos marcado apesar de poder entrar em TP a qualquer momento, tal como aconteceu. 

Estive atenta aos sinais do meu corpo, abrandei quando necessário, mas também soube desvalorizar as contrações de Braxton-Hicks que muito stress me causaram na primeira gravidez.

Mentalizei que iria demorar, que ia doer, mas que a dor não era uma coisa má, mas algo necessário para o meu corpo perceber o que era preciso fazer, que posição, respiração ou outras medidas adotar em cada momento. 



E aos poucos, como escrevi atrás, com o passar do tempo e a recolha de informação de todos os lados, o aumento da confiança em nós, comecei a acreditar que era possível. Que nós as duas íamos conseguir. 

Não foi uma decisão tomada de ânimo leve. Percebi que quem prepara um parto em casa, tem de estar mesmo muito preparada. Tem de preparar a mala na mesma e tem de preparar a mente para a eventualidade do plano A não resultar e aceitar o plano B, C ou D...

Acima de tudo, acreditei. Em mim, em nós. Íamos conseguir parir/nascer da melhor forma possível. 

Preparei-me para tudo, menos para um parto tão rápido e positivo :D



(e ao fim de uma manhã, lá consegui acabar este testamento :P) 

quinta-feira, 2 de julho de 2020

O nascimento da I.



Este é o nosso relato.
Do parto sonhado por mim, desde que fui mãe pela primeira vez.
Do parto em que eu há muito acredito. Natural. Fisiológico.

A I. veio quando quis e trouxe consigo muito mais do que eu podia alguma vez imaginar!

É o relato de uma enfermeira parteira, ou especialista em saúde materna e obstétrica, porisso, desculpem, antes de mais a sua extensão e também alguns pormenores que vos possam parecem a mais, mas que a mim, como mulher e enfermeira me fazem todo o sentido.
Qualquer coisa, passem à frente no vídeo :P


Sexta à noite senti algumas contrações desde o jantar tardio até à meia-noite, uma da manhã, talvez...
A certa altura achei que devia avisar a nossa parteira. Mas também que bastava enviar uma mensagem.
Estávamos cá em casa, com os padrinhos do Simão e eu fui falando que estava a sentir contrações mas não era coisa que doesse. Só incómodo. Continuamos a conviver na boa. Arrumei a cozinha, siga… Ainda fomos de carro aos pastéis e afinal optámos pelas tartes de maçã do McDonalds :D

De noite passou. Até me levantei uma vez por causa da Bina e estava normal.
Por isso, de manhã, disse à Isabel (que tinha uma aula até às 13h) que estava tudo bem, que nós também tínhamos uma sessão fotográfica e ia dar tempo para tudo! ;)
Fui passear com a Bina, os 20 minutos do costume e, apesar de ter tido algumas contrações no caminho, não as achei diferentes do meu habitual.

Siga para uma sessão fotográfica de um aninho, planeada à última da hora!
O Simão ficou nos meus pais, conforme combinado para a sessão.

Andamos pelo Buçaco. Das 11h até perto das 13h.

Mesmo no final, já os pais estavam a limpar a miúda (fizemos o smash the cake), recomeçaram as contrações.
Sentei-me mas afinal tive que me levantar. Disse ao André que tinham começado e ele pegou no material todo e fomos andando até ao carro. Senti umas 3 ou 4 contrações que já não davam para continuar a caminhar normalmente. Tinha de parar, respirar, apoiar-me e toca a andar.

No carro, mandei mensagem à minha irmã a dizer que não íamos lá almoçar e também disse ao André para não irmos aos pais dele conforme tínhamos combinado uma hora ou duas antes...

Avisei a parteira Isabel por mensagem. "Começaram e estão a ficar mais fortes. Mal acabou a sessão... Vamos agora para casa". Eram 13h04

Uns 10 minutos depois a caminho de casa, senti umas coisas, pensei no rolhão mucoso e perguntei ao André se tinha alguma toalha no carro (nada!), logo depois, pus a mão por fora das calças e vi que era líquido amniótico.
Já o André vinha muito depressa... Eu de olhos fechados para me concentrar e não pensar em mais nada.

Nova mensagem para a Isabel: "rompeu" às 13h17.

A Isabel e a Inês vieram a voar e nós do Buçaco em direção a casa. O mais rápido possível.
As dores eram toleráveis mas bastante frequentes.
Consegui ligar para casa dos meus pais num intervalo e, felizmente, atendeu o meu pai, disse-lhe que o Simão ficava lá para a tarde e nada mais.
No carro, consegui mentalizar a respiração que aprendi nas aulas de yoga. Das ondas do mar. E vim bem.

Ao chegar a casa, saí o mais normal possível do carro porque os vizinhos estavam cá fora a entrar para o carro e mal entrei no prédio, tive de me pôr de 4 nas escadas.
Novo intervalo e fui o mais rápido que pude para a banheira, queria tirar calças e lavar-me. 
E de lá, só saí para a piscina.

Não liguei água para não gastar água quente. Fiquei quase sempre de gatas porque sempre que me levantava vinha logo outra contração e elas continuavam muito frequentes...

O André foi logo tratar da piscina. Não falamos, cada um fez aquilo que tinha de fazer no momento certo.

Em cada contração, comecei a fazer Aaaaaaa, apoiada na beira da banheira, agarrada à mangueira do chuveiro e volta e meia a pensar no barulho que a vizinha velha carrancuda estaria a ouvir.
Precisei vocalizar, não chegava a respiração e para o fim, era até bem alto e fazia eco na banheira... Mas acho que não gritei.

Toquei-me. Senti a cabeça e as contrações continuavam em força. A piscina estava a encher. Pedi ao André para ligar à Isabel. Elas vinham a uns 20 minutos de distância.
E a partir daí ficaram sempre em alta-voz e depois em videochamada. Não ouvia metade do que me diziam e respondia só de vez em quando, mas era o suficiente para me sentir mais acompanhada.

Tiveram receio de não chegar a tempo.
Eu só pensava "espera um pouco bebé" "tenho de ficar de 4 para atrasar isto".
Sabia que estava cada vez mais perto, não havia volta atrás, que podia acontecer ali mesmo na banheira, sozinha, mas eu precisava tanto do apoio delas...

O André começou a carregar no fundo das costas na contração. Era como me sentia melhor.

Entretanto ele lembrou-se de me sugerir passar para a piscina. E lá fui num instante.
Soube depois que o barulho que estava a fazer estava a ser difícil de tolerar para ele :D

Ao entrar na piscina, percebi logo que a água estava num nível muito baixo…
Tentei abrir mais as pernas e baixar a barriga, mas não me sentia bem nessa posição.
E eu precisava tanto de apoio no fundo das costas...
"André põe mais água. Nem que seja fria"
Eu não tinha frio. Até tinha transpirado na banheira. Só queria mais água.

Comecei a sentir puxes e acho que me toquei novamente. Mas a cabeça até estava mais ou menos em cima. Nunca percebi dilatação, nem me interessou explorar. Só tentei perceber a proximidade da cabeça.

As parteiras começaram a videochamada a uns 5 minutos de chegarem e assustaram-se porque me viram na piscina e já com alguma vontade de puxar.
Pediram ao André para deixar a porta do prédio e casa aberta.
Segundo a Isabel, a Inês, saiu do carro que ficou todo mal estacionado, ainda em andamento :D

Mal chegou, deu-me a mão e a partir daí percebi que precisava de estar sempre a dar a mão a alguém, além da pressão atrás, no fundo das costas.

A Inês lembrou-se que nós queríamos filmagens e começou a filmar.

(e eu não tive tempo para fazer a tarte de maçã, nem ligar a música, nem pôr as luzinhas e pendurar os mantras que tinha pintado toda contente uns dias antes)

As parteiras perceberam que a água estava baixa e disseram ao André para entrar para subir o nível da água. Ele estava ao pé de mim já a fazer pressão no sacro.
Já dentro de água continuou sempre. Mesmo no intervalo das contrações. Só me sentia bem assim.


Na piscina, sentia que estava perto mas, ao mesmo tempo, que nunca mais chegava a hora.
Tive momentos em que chorei. Não pela dor, mas porque talvez duvidasse da nossa capacidade ou simplesmente porque me vinha ao subconsciente o parto do Simão.
E também dormia ou descansava nos curtos períodos de intervalo.

Chorava uns segundos e calava-me. E puxava.
A determinada altura a Bina, lá fora, chorou comigo…
Esteve sempre calada. Não ladrou. Foi impecável. Mas sentiu e chorou comigo.

A Isabel e a Inês tentaram pôr mais água quente com tachos aquecidos na cozinha mas não houve tempo para muito mais... Entretanto tiraram a mangueira que continuava a encher já com água fria. Fui eu que disse "tirem isto daqui!"
Porque a dado momento, olhei para baixo e não me fazia sentido aquilo ali no sitio onde ia nascer o bebé.

Toquei-me novamente e percebi que tinha cabelo.
Na banheira pareceu-me que não.. (adoro bebés cabeludos!)

A Isabel que, logo que pôde, equipou-se melhor, ficou sempre junto a mim, sentada numa cadeira e depois em pé para eu ficar a suspender-me agarrada aos braços dela durante o puxe.


Senti arder. Penso que primeiro à frente e depois no rabo: o anel de fogo.
"Está a arder!"
Fui dizendo o que sentia porque as parteiras nunca me tocaram.
Eu fui a minha parteira.

Em certo momento estava meio irritada, talvez de pensar que nunca mais nascia ou manter as minhas dúvidas na nossa capacidade de parir/nascer e tentei com as mãos afastar os lábios. Só percebi isso porque vi no vídeo. Mas não sentia que estava a fazer grande coisa.

Entretanto a cabeça lá saiu.
Não consegui "respirar o bebé para fora" como aprendi com a Janeth Balaskas e a Núria Vives. Fiz mesmo força. Empurrei-a e senti os pés dela também a empurrar cá dentro.

A única coisa que posso apontar a mim mesma neste nascimento foi essa pressa no final.
Tive de meter lá as mãos!

Senti-lhe a cara cá fora e vi que tinha uma circular do cordão ao pescoço. Disse em voz alta, mas percebi logo que era larga.
Só aí a Isabel pôs as mãos na água e tirou o cordão. Disse-me depois, que o fez só para eu não estar com essa preocupação, mas que não era necessário. E eu sabia que não.

Entretanto, achei que estava a demorar a sair o resto do corpo e pedi-lhes ajuda. E não demorou nada, mas pronto. Cabeça de enfermeira moldada por anos de experiências assistidas, sempre com intervenção, em vez de deixar os bebés rodarem e saírem por eles.

"Ajudem-me!" Qualquer coisa do género. "Tirem o bebé".

Mas as parteiras esperaram.

E a bebé saiu e eu puxei-a logo para o meu colo e sentei-me. O André ao meu lado.
Um cordão muito comprido. Ficou logo branquinho.

Chorei. Muito. Em simultâneo com ela.
Agradeci muito ao André. Sem ele não era possível. Dei-lhe beijinhos.

Só depois vi que era uma menina.
Eu sabia cá dentro que era…

"Temos uma filha".
Senti necessidade de dizer em voz alta para acreditar.


Entretanto, as parteiras foram buscar uma toalha molhada em água quente porque a da piscina não estava à temperatura ideal...

Uns minutos depois acharam melhor ela sair para não ter frio. E tudo bem. O cordão já tinha parado de pulsar e também eu comecei a tremer.

Depois de cortarem o cordão (o André não quis porque lhe fazia impressão), ele saiu da piscina, secou-se e passaram-na para o colo dele.

Entretanto a Isabel percebeu que a placenta já se estaria a soltar.
Pedi-lhe um tempo.
Respirei, fiz força e puxei eu pelo cordão.
Saiu muito bem.
Pareceu me pequenina. O cordão era mais fininho que o do Simão.
Passei-a para a taça. Tenho uma foto ou duas a rir-me com a placenta na mão. Que felicidade! :P

Ajudaram-me a sair e secaram-me. Fui para a chaise longue do sofá a tremer. Puseram muitas toalhas para ficar mais quente.
Mas, quem mais me aqueceu foi ela. Estava tão quentinha vinda do colo do pai ;)

Depois ali ficamos um tempo.
As parteiras confirmaram que não estava a perder sangue e foram fazer os prints da placenta para a cozinha. Pareceu-me que se estavam a divertir com os trabalhos manuais :)

E eu a namorar com a minha bebé. Sossegadinhas, sem interferências.

Só mais tarde fizeram os registos e deram os pontos com anestesia local spray.
Sem picada.
Tinha lacerado um bocadinho para o rabo. Superficial, felizmente, e sem apanhar a porcaria das varizes.


Passado um bocado, pesaram e mediram a bebé e administraram a vitamina K enquanto ela estava a mamar. Só chorou mesmo ao sair da agulha.

Liguei para casa dos meus pais ainda a bebé estava a chorar.
Achei melhor fazer uma videochamada para o Simão nos ver e mostrar à minha mãe e irmã que tinha nascido. Em casa. E era uma menina. ;)


O Simão achou piada ela estar a chorar. Ficou todo eufórico.

A Isabel e a Inês começaram a arrumar tudo. Esvaziar a piscina e arrumar as toalhas sujas.

A minha mãe achou que estivéssemos sozinhos! Virei a câmara para as parteiras e ela ficou mais descansada.
Disse-lhes para virem quando quisessem. Estávamos tão bem…

Mais tarde, falamos com os pais do André. Primeiro, ele enviou umas mensagens e logo a seguir o pai dele fez uma publicação no facebook :P. Depois por telefone, o que deixou a mãe dele super confusa por eu "já" estar em casa :D
Eles vieram também conhecer a bebé e só depois de cá estarem é que perceberam que tinha sido cá em casa.

As parteiras foram embora umas 3 horas ou mais depois do parto. Ainda comeram e beberam café. Pelo menos a Isabel que não tinha almoçado. Não lhe demos tempo!!!
Eu também comi carne e arroz eram umas 17h. Que maravilha de começo de puerpério!  :D

Antes de saírem, estivemos a ver a lista de nomes mas não chegamos a conclusão nenhuma e vimos também o vídeo do momento do nascimento. Nesse preciso momento, a bebé começou a chorar! Super sensitiva. Tive que lhe dizer que a mamã estava bem, mas imaginava que a ela lhe tivesse doído...

Depois de saírem e antes de chegar a minha irmã, mãe e Simão, conversámos os dois.
Disse ao André para ser ele a decidir o nome.
Achei que merecia.
Ele apoiou-me para além de qualquer expectativa!...

Tinha de ser ele a escolher o nome.

Ele consultou novamente a minha lista com as duas colunas: menino ou menina.

E daí ficou Inês.


Inês
Parto natural, em casa
27.06.2020    15h17

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Para ti bebé


O momento de te conhecer está cada vez mais perto...

Já passamos por tanto juntos/as!...

Descobri-te no meio duma gastroenterite. Com tantas voltas, pensei que te perdesse.
Lidámos com a morte, bem de frente, e, infelizmente, por várias vezes...
O teu avô sobreviveu a um enfarte.
Vivemos uma pandemia que abanou tudo e todos mas que, felizmente, nos proporcionou momentos em família únicos. Nos devolveu tempo uns para os outros. Nos uniu apesar de nos afastar.

No meio disto tudo, nunca duvidei duma coisa: és e serás uma pessoa muito forte!

Parece que passou imenso tempo desde que te soube dentro de mim e, em simultâneo, que foi esta noite.
Vivo entre a tranquilidade de aproveitar a gravidez (que afinal já não me chateia nada!) e os últimos momentos desta vida a 3 e a curiosidade e entusiasmo pelo momento em que te vamos conhecer...
A ti, meu/minha bebé que já fazes parte da nossa vida mesmo antes sequer de existires fisicamente.

Queres saber dum pequeno segredo?
Eu e o teu pai, há um pouco mais de 10 anos, quando afirmamos o nosso amor, conversamos sobre ter filhos.
Sim, filhos. Um filho único nunca foi o nosso plano.
Por isso, bebé, podes ter a certeza que já existes há muito tempo...

Quero muito viver o teu parto.
Quero muito abraçar-te. Sentir o teu cheiro e pele de bebé que é das melhores coisas do mundo! Quero também decorar o teu rosto, confirmar se realmente és cópia do teu mano (maldita ecografia 3D  que me deixou nessa expectativa!).
Ao mesmo tempo, sei que estás aqui bem, protegido/a e arrumadinho/a, e esta gravidez, apesar de tudo, tem me dado momentos tão felizes...

Desculpa esta minha ambivalência de sentimentos. Deve ser simplesmente uma resistência à mudança que passará mal sinta a tua vontade de vir cá para fora.
Desculpa também estes planos de última hora que me fazem pensar que daria jeito continuares aí por dentro mais uns diazitos. É feitio, já me conheces...
Mas, como sabes, tenho conversado contigo, às vezes só por pensamento, mas tu entendes-me, tenho a certeza.

Não será novidade, mas tens cá fora uma mamã e um papá que te vão adorar ainda mais, um mano mais velho que já tem imensos planos para quando tu chegares, uma cadela enorme que vai, muito provavelmente, querer-te comer de tanta curiosidade em te conhecer, mas não leves a mal. É amor  :P

Tens também tias, tios, avós e avôs, primos e muitos amigos que estão ansiosos com a tua chegada ao lado da terra.
Quanto mais não seja para saber se afinal és menino ou menina!   ;) 



A festa do teu nascimento está preparada.
Só nos falta saber o dia e hora ;)

Vem quando quiseres meu amor mais pequenininho. Estamos prontos para ti!



Mamã Daniela
24.06.2020
38 semanas e 5 dias

sábado, 13 de junho de 2020

Para ti S., em breve irmão mais velho


Sabes uma coisa?
Tens sido incrível com a mamã!


Dás-me muito miminho e abracinhos, fazes festas na barriga, falas bastante no bebé, que para ti, se mexe sempre que pões a mão na minha barriga, ainda que seja só por uma fracção de segundo.

Desde que te contei, às 9 semanas, que estávamos à espera de um bebé e te pedi segredo.
Achei que tinha feito asneira (tinha decidido esperar pelo Natal para contar aos avós), mas tu, ainda nem 3 anos feitos, soubeste guardar o nosso segredo exemplarmente.
Ficaste logo feliz, quiseste ver o bebé e disseste que a Ana (a tua educadora!) ia ficar contente :D
Só mencionavas o bebé quando estávamos os 2 ou os 3 juntos e tinhas um sorriso especial quando pensavas no assunto.


Sabes S., a mamã tem aprendido imenso contigo!
Desde que eras uma sementinha na minha barriga...
Ser tua mãe, as experiências que tenho vivido contigo, têm feito de mim uma pessoa melhor, tenho crescido imenso, não apenas a nível pessoal como profissionalmente. Abriste-me vários horizontes que eu não conhecia de todo.
Por tua causa, esta gravidez (apesar da loucura da pandemia) foi vivida de uma forma bem mais positiva, tranquila e também mais ativa e saudável.

Não podia ter melhor preparação para este momento, que tudo aquilo que me ensinaste e ensinas todos os dias.

Agora que se aproxima o momento de conhecermos o/a bebé, estou a tentar imaginar-me como mãe de dois e penso ainda mais vezes se estarei à altura da tarefa. Tenho receio de não conseguir dividir de forma justa o amor e a atenção... Espero estar à altura do desafio, mas também que a transição seja mais suave por não ser exatamente tudo novo.
Sei que para ti também vai ser um grande desafio teres de nos partilhar com outra pessoa... 

Mas sabes S., dar-te um mano ou mana foi uma das coisas que mais pesou na decisão de termos outro filho. Para mim, ter irmãos é não estar mais sozinho, é ter um/a amigo/a e poder partilhar a vida para sempre com essa pessoa que é um pouco de nós, mesmo quando os nossos pais já não estão cá. Por isso, este é o maior "presente" que te podíamos alguma vez dar.

Este período em que temos estado por casa, permitiu-nos dedicar-te mais tempo, mas também me fez perceber ainda mais a falta que faz teres alguém com quem brincar, arreliar-te, fazer asneiras em conjunto... A Bina nem sempre alinha nas tuas brincadeiras :P



Ainda há bem pouco tempo ficavas chateado com a ideia de seres "mais velho" e agora, com o tempo e graças à história dos 3 porquinhos que adoras, sabes que isso é uma coisa boa! "Eu sou irmão", dizes tu com orgulho ;)

Sei que vais sentir alguns ciúmes, quem nunca? Mas também sei que vais ser super carinhoso e protetor. Basta ver como reages desde sempre, perante bebés mais pequenos que tu!
Tens um modo especial, muito suave, de fazer festinhas e dar beijinhos. Nem pareces ter a idade que tens.


Obrigada pela sugestão do nome Martinho para o bebé, meu pequenito. Mas algo me diz que não a vamos aceitar...  Espero que isso não te incomode muito... :P

Obrigada também por alinhares na minha última novidade das fraldinhas reutilizáveis. Pareces um boneco a andar com o volume das fraldas de noite mas é giro saber que gostas destas fraldas porque "dão para dar palmadas no rabo" :P

Não tarda, a mamã "vai tirar o bebé" como tu perguntaste ao papá no outro dia em que fui às análises e a nossa vida nunca mais vai ser como antes...

Vai ser, 
com certeza, melhor, meu pequenito!

Amo-te muito!
Tenho muito orgulho em ti ;)


A mamã D.

13.06.2020
Às 37 semanas e 1 dia de bebé2

sexta-feira, 13 de março de 2020

24 semanas

Esta carta é para ti bebé,
no dia em que completas as 24 semanas na minha barriga e depois duma semana caótica no mundo, com as notícias sobre maldito vírus a aproximarem-se cada vez mais de nós...

Ainda não sei o teu sexo, decidi não saber até te ver nascer. Só o papá é que sabe e está a guardar bem o segredo. Não pensamos ainda em nomes, embora já me tenham vindo alguns à ideia. Penso que não te deverás incomodar muito se só decidirmos depois de te conhecermos...

Imaginei viver esta gravidez duma forma completamente diferente daquela que está a acontecer... 

Planeei, na minha cabeça, continuar a fazer os meus relatos semanais ou pelo menos mensais da tua gestação, mas com o pouco tempo que me sobrou com o trabalho têm vindo a ser constantemente adiados.
Planeei correr mais, mas pouco depois do primeiro trimestre já não me senti bem para o fazer. 
Planeei trabalhar para me manter ativa, pelo menos até ao final de Março ou meio de Abril mas, esta semana, com o cansaço dos turnos, situações complicadas que pareço atrair, a maldita variz que está cada vez pior e a aproximação assustadora do coronavírus, desisti.

Precisava de me concentrar em ti, na nossa saúde e nos proteger.

Planeei fazer algumas coisas enquanto estivesse por casa, sendo certo que teria umas horas por dia para nós, enquanto o mano estivesse na escolinha, mas... O meu coração disse-me que não valia a pena esperar pela decisão do governo de fechar as escolas para ficar com o S. em casa e assim fiz. O nosso isolamento social começou, na medida do possível e apesar do pai continuar a ter de ir trabalhar :|

Sinto que não tenho o tempo que gostaria para ti. Talvez venha a sentir isso toda a vida...

Hoje fizeste 24 semanas e o meu pensamento neste momento de grandes duvidas e ansiedade é que, se precisares nascer mais cedo, já irão investir em ti, meu bebé pequenino. Como se não fosses, até agora, tão real como a partir de hoje... Como se não te sentisse mexer (e bem!) há semanas, meses até! Mas são assim as regras de atuação. E eu sei demasiado bem como têm de ser respeitadas.

Meu amor pequenino, obrigada por todos os pontapézinhos e empurrões que me dás. Não imaginas a tranquilidade e esperança que me transmitem (apesar de por vezes doerem um bocadinho...) neste tempo de grande angústia, em que, notícia atrás de notícia, ficamos cada vez com o coração mais apertadinho... 

Que o tempo ajude a que esta pandemia se controle o mais rápido possível e que tu venhas no teu tempo, com tranquilidade e todo o amor que temos para te dar.

Da mamã,
D.

domingo, 7 de abril de 2019

Zela SkyRace 2019 ou Trail do Pedregulho e do Granizo nas trombas

Saímos de casa com a chuvinha a cair com vontade. Passámos por uma zona com neve na estrada e o granizo a bater no vidro praticamente todo o caminho na autoestrada...
"Tá bonito" pensei.
E o A. também...

Já em Vouzela a chuva parecia começar a dar tréguas quando fomos levantar os dorsais, mas logo continuou... Ainda assistimos à partida dos 42k e a imaginar o que já não tinham passado os dos 63k desde as 7 da manhã...
O A. queria desistir. Estivemos um bocado no carro a pensar no que fazer (nota: para a próxima voltar a chegar em cima da hora!).
Também ponderei desistir mas...
"O pá vamos lá! "

Já tínhamos faltado no ano passado. Íamos perder a oportunidade, estando ali? Siga e logo se vê!

Num instante fomos para a zona da partida e começa a abrir o sol. O que é certo foi que arrancamos com sol e assim se manteve por uma hora.

As pernas não acharam muita piada ao arranque a frio. Estavam pesadas e não respondiam à minha vontade de manter o trote nas subidas.
Aos poucos lá me fui sentido melhor.
Depois da primeira escalada de pedregulhos de granito comecei a correr.

A organização apelava à nossa criatividade. As fitas estavam espalhadas pelas encostas de pedras com distância suficiente para cada um decidir qual o melhor caminho. Diria que, às vezes até estavam afastadas de mais nas zonas de escalada. Ou eu andava ceguinha! :P
Mas não me perdi. A velocidade a que fiz a prova não o permitia ;)

Adorei o percurso, com um sobe e desce de parte pernas, maioritariamente em zonas repletas de pedregulhos para escalar ou descer, como manda a paisagem da Serra do Caramulo e algumas passagens pelo rio, a saltar de pedra em pedra.


Os vestígios do fogo de há mais de dois anos ainda lá estão. Por várias vezes fiquei com as mãos todas pretas por me apoiar nos troncos queimados, mas a vegetação baixa já estava verde e crescida para colorir a paisagem.

Menos agradável foi estar no cimo do monte a levar chapadas de granizo de lado na cara e a ver os relâmpagos a cair a curtos metros de distância...
Foi o que me fez despachar para sair dali o mais rapidamente possível e ainda passei uns atletas dos 42k antes da divisão (!)

Desde aí vim acompanhada por um sr que afinal é quase meu vizinho e que já tinha conhecido no Trail da Lousã. À conversa e com alguém a puxar por nós, custa menos ;)

A parte final foi bastante rolante e lá consegui acabar às 12:30, objetivo que tracei mais perto do final.

E à chegada a surpresa de ter feito 5º lugar Fem! (4º SenF)
Not bad... ;)

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Fomos ali ver os dinossauros e já viemos!


Ontem foi dia de fazer uma pausa nos poucos treinos e ir com a famelga até à Lourinhã ver o novo parque dos dinossauros.

Há 2 anos visitamos o Museu da Lourinhã e desde que ouvimos falar na inauguração do Dino Parque (fez em Fevereiro um ano) que tínhamos vontade de levar lá os miúdos.



O Simão não é grande adepto de dinossauros, prefere carrinhos e afins (o tema óbvio do 2.º aniversário), mas pareceu-nos entusiasmado com a ideia.




Afinal, adorou!
Ele e os outros primos todos ;)
Primeiro guardou respeitinho pelos bichos que eles são grandes, mas lá perdeu o medo, fez-lhes festas, fartou-se de correr, imitar os dinossauros, e só mesmo no final se mostrou mais cansadito, mesmo com a visita a calhar na hora habitual da sesta.











É um bom programa familiar.
Preparem-se é para pelo menos umas 3 horas de visita, com tempo para as pausas em todos os pequenos parques espalhados pelos circuitos e as atividades 
para miúdos de  diferentes idades no final.







Foi tão divertido, que até me deu vontade de vir aqui escrever.
A ver volto daqui a uns dias para contar como correu o meu passeio pelo Zela... :P



quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Nascer está a mudar

Há muito que não escrevo sobre a minha outra paixão, a saúde materna...
Já lá vão 4 anos que sou especialista nesta área, mas é um amor bem mais antigo.

Quando engravidei, decidi que não fazia sentido partilhar aqui os meus pensamentos e ideias sobre a maternidade. Não queria tornar isto um babyblog.

Mas desde que fui a uma formação sobre Parto Ativo com a inspiradora Janet Balaskas (fundadora do Active Birth Center em Londres) que renovei a minha motivação para defender, conforme posso, a bandeira do parto.
O mundo precisa de mais partos naturais, fisiológicos, ativos, não apenas pelo movimento físico, mas pelo papel ativo que a mulher/casal/bebé podem e devem assumir no seu parto/nascimento, sempre que tal é possível.

No meu dia-a-dia de trabalho (numa maternidade central) assisto diariamente à força esmagadora das políticas do nascimento.
Refiro-me a todas as normas, deveres, obrigações no parto institucionalizado que não respeitam a liberdade/autonomia/poder/capacidade da mulher/casal/bebé para parir/nascer.
São políticas que não oferecem opções naturais, pelo contrário, forçam a intervenções para minimizar o efeito de outras intervenções.
E, em muitos casos, não se regem por evidências científicas, mas apenas por tradição, porque "aqui' é assim...
Porque mesmo quando o risco é baixo, é sublinhado o medo e o risco do parto. Risco que é aumentado de sobremaneira pela interferência médicas e tecnológica.

Encontrei hoje este texto no facebook do "Badassmotherbirther" e fiz a minha tradução:

"Imaginem o quanto as políticas de nascimento mudariam se todas as mulheres:
- Percebessem que são elas que têm o poder
- Percebessem que elas e só elas dominam o seu corpo
- Não fossem ensinadas a ter medo do parto
- Lhes fosse perguntado se podiam ser tocadas em vez de forçadas
- Fossem ensinadas a acreditar no seu corpo e no parto

Imaginem o quanto as políticas de nascimento mudariam se o parto fosse considerado um evento natural da vida em vez de uma emergência


Imaginem o quanto as políticas de nascimento mudariam se tomassemos o parto como algo nosso

Não As políticas de nascimento deixarão de existir quando elas não tiverem mais poder sobre o TEU parto

Uma mulher confiante, tem opiniões e consegue parir segundo os seus termos é muito assustadora para as políticas do nascimento


As políticas do nascimento têm medo que TU acordes


Imagina se os papéis fossem invertidos e estas tivessem medo em vez de ti..."




Para terminar, só para esclarecer e não pensarem que estou doida:
Os avanços da tecnologia e da medicina são uma importante conquista. Felizmente temos fácil e rápido acesso às mesmas nos casos em que são realmente necessárias ou sempre que são necessárias.
Mas para tudo, deve haver peso, conta e medida, para que o benefício da sua utilização não se torne inferior ao prejuízo.
O parto é um acontecimento normal, natural, fisiológico, para o qual o corpo da mulher e do bebé estão preparados. A cultura é que nos fez esquecer isso...

Mas a cultura já está a mudar ;)