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quinta-feira, 2 de julho de 2020

O nascimento da I.



Este é o nosso relato.
Do parto sonhado por mim, desde que fui mãe pela primeira vez.
Do parto em que eu há muito acredito. Natural. Fisiológico.

A I. veio quando quis e trouxe consigo muito mais do que eu podia alguma vez imaginar!

É o relato de uma enfermeira parteira, ou especialista em saúde materna e obstétrica, porisso, desculpem, antes de mais a sua extensão e também alguns pormenores que vos possam parecem a mais, mas que a mim, como mulher e enfermeira me fazem todo o sentido.
Qualquer coisa, passem à frente no vídeo :P


Sexta à noite senti algumas contrações desde o jantar tardio até à meia-noite, uma da manhã, talvez...
A certa altura achei que devia avisar a nossa parteira. Mas também que bastava enviar uma mensagem.
Estávamos cá em casa, com os padrinhos do Simão e eu fui falando que estava a sentir contrações mas não era coisa que doesse. Só incómodo. Continuamos a conviver na boa. Arrumei a cozinha, siga… Ainda fomos de carro aos pastéis e afinal optámos pelas tartes de maçã do McDonalds :D

De noite passou. Até me levantei uma vez por causa da Bina e estava normal.
Por isso, de manhã, disse à Isabel (que tinha uma aula até às 13h) que estava tudo bem, que nós também tínhamos uma sessão fotográfica e ia dar tempo para tudo! ;)
Fui passear com a Bina, os 20 minutos do costume e, apesar de ter tido algumas contrações no caminho, não as achei diferentes do meu habitual.

Siga para uma sessão fotográfica de um aninho, planeada à última da hora!
O Simão ficou nos meus pais, conforme combinado para a sessão.

Andamos pelo Buçaco. Das 11h até perto das 13h.

Mesmo no final, já os pais estavam a limpar a miúda (fizemos o smash the cake), recomeçaram as contrações.
Sentei-me mas afinal tive que me levantar. Disse ao André que tinham começado e ele pegou no material todo e fomos andando até ao carro. Senti umas 3 ou 4 contrações que já não davam para continuar a caminhar normalmente. Tinha de parar, respirar, apoiar-me e toca a andar.

No carro, mandei mensagem à minha irmã a dizer que não íamos lá almoçar e também disse ao André para não irmos aos pais dele conforme tínhamos combinado uma hora ou duas antes...

Avisei a parteira Isabel por mensagem. "Começaram e estão a ficar mais fortes. Mal acabou a sessão... Vamos agora para casa". Eram 13h04

Uns 10 minutos depois a caminho de casa, senti umas coisas, pensei no rolhão mucoso e perguntei ao André se tinha alguma toalha no carro (nada!), logo depois, pus a mão por fora das calças e vi que era líquido amniótico.
Já o André vinha muito depressa... Eu de olhos fechados para me concentrar e não pensar em mais nada.

Nova mensagem para a Isabel: "rompeu" às 13h17.

A Isabel e a Inês vieram a voar e nós do Buçaco em direção a casa. O mais rápido possível.
As dores eram toleráveis mas bastante frequentes.
Consegui ligar para casa dos meus pais num intervalo e, felizmente, atendeu o meu pai, disse-lhe que o Simão ficava lá para a tarde e nada mais.
No carro, consegui mentalizar a respiração que aprendi nas aulas de yoga. Das ondas do mar. E vim bem.

Ao chegar a casa, saí o mais normal possível do carro porque os vizinhos estavam cá fora a entrar para o carro e mal entrei no prédio, tive de me pôr de 4 nas escadas.
Novo intervalo e fui o mais rápido que pude para a banheira, queria tirar calças e lavar-me. 
E de lá, só saí para a piscina.

Não liguei água para não gastar água quente. Fiquei quase sempre de gatas porque sempre que me levantava vinha logo outra contração e elas continuavam muito frequentes...

O André foi logo tratar da piscina. Não falamos, cada um fez aquilo que tinha de fazer no momento certo.

Em cada contração, comecei a fazer Aaaaaaa, apoiada na beira da banheira, agarrada à mangueira do chuveiro e volta e meia a pensar no barulho que a vizinha velha carrancuda estaria a ouvir.
Precisei vocalizar, não chegava a respiração e para o fim, era até bem alto e fazia eco na banheira... Mas acho que não gritei.

Toquei-me. Senti a cabeça e as contrações continuavam em força. A piscina estava a encher. Pedi ao André para ligar à Isabel. Elas vinham a uns 20 minutos de distância.
E a partir daí ficaram sempre em alta-voz e depois em videochamada. Não ouvia metade do que me diziam e respondia só de vez em quando, mas era o suficiente para me sentir mais acompanhada.

Tiveram receio de não chegar a tempo.
Eu só pensava "espera um pouco bebé" "tenho de ficar de 4 para atrasar isto".
Sabia que estava cada vez mais perto, não havia volta atrás, que podia acontecer ali mesmo na banheira, sozinha, mas eu precisava tanto do apoio delas...

O André começou a carregar no fundo das costas na contração. Era como me sentia melhor.

Entretanto ele lembrou-se de me sugerir passar para a piscina. E lá fui num instante.
Soube depois que o barulho que estava a fazer estava a ser difícil de tolerar para ele :D

Ao entrar na piscina, percebi logo que a água estava num nível muito baixo…
Tentei abrir mais as pernas e baixar a barriga, mas não me sentia bem nessa posição.
E eu precisava tanto de apoio no fundo das costas...
"André põe mais água. Nem que seja fria"
Eu não tinha frio. Até tinha transpirado na banheira. Só queria mais água.

Comecei a sentir puxes e acho que me toquei novamente. Mas a cabeça até estava mais ou menos em cima. Nunca percebi dilatação, nem me interessou explorar. Só tentei perceber a proximidade da cabeça.

As parteiras começaram a videochamada a uns 5 minutos de chegarem e assustaram-se porque me viram na piscina e já com alguma vontade de puxar.
Pediram ao André para deixar a porta do prédio e casa aberta.
Segundo a Isabel, a Inês, saiu do carro que ficou todo mal estacionado, ainda em andamento :D

Mal chegou, deu-me a mão e a partir daí percebi que precisava de estar sempre a dar a mão a alguém, além da pressão atrás, no fundo das costas.

A Inês lembrou-se que nós queríamos filmagens e começou a filmar.

(e eu não tive tempo para fazer a tarte de maçã, nem ligar a música, nem pôr as luzinhas e pendurar os mantras que tinha pintado toda contente uns dias antes)

As parteiras perceberam que a água estava baixa e disseram ao André para entrar para subir o nível da água. Ele estava ao pé de mim já a fazer pressão no sacro.
Já dentro de água continuou sempre. Mesmo no intervalo das contrações. Só me sentia bem assim.


Na piscina, sentia que estava perto mas, ao mesmo tempo, que nunca mais chegava a hora.
Tive momentos em que chorei. Não pela dor, mas porque talvez duvidasse da nossa capacidade ou simplesmente porque me vinha ao subconsciente o parto do Simão.
E também dormia ou descansava nos curtos períodos de intervalo.

Chorava uns segundos e calava-me. E puxava.
A determinada altura a Bina, lá fora, chorou comigo…
Esteve sempre calada. Não ladrou. Foi impecável. Mas sentiu e chorou comigo.

A Isabel e a Inês tentaram pôr mais água quente com tachos aquecidos na cozinha mas não houve tempo para muito mais... Entretanto tiraram a mangueira que continuava a encher já com água fria. Fui eu que disse "tirem isto daqui!"
Porque a dado momento, olhei para baixo e não me fazia sentido aquilo ali no sitio onde ia nascer o bebé.

Toquei-me novamente e percebi que tinha cabelo.
Na banheira pareceu-me que não.. (adoro bebés cabeludos!)

A Isabel que, logo que pôde, equipou-se melhor, ficou sempre junto a mim, sentada numa cadeira e depois em pé para eu ficar a suspender-me agarrada aos braços dela durante o puxe.


Senti arder. Penso que primeiro à frente e depois no rabo: o anel de fogo.
"Está a arder!"
Fui dizendo o que sentia porque as parteiras nunca me tocaram.
Eu fui a minha parteira.

Em certo momento estava meio irritada, talvez de pensar que nunca mais nascia ou manter as minhas dúvidas na nossa capacidade de parir/nascer e tentei com as mãos afastar os lábios. Só percebi isso porque vi no vídeo. Mas não sentia que estava a fazer grande coisa.

Entretanto a cabeça lá saiu.
Não consegui "respirar o bebé para fora" como aprendi com a Janeth Balaskas e a Núria Vives. Fiz mesmo força. Empurrei-a e senti os pés dela também a empurrar cá dentro.

A única coisa que posso apontar a mim mesma neste nascimento foi essa pressa no final.
Tive de meter lá as mãos!

Senti-lhe a cara cá fora e vi que tinha uma circular do cordão ao pescoço. Disse em voz alta, mas percebi logo que era larga.
Só aí a Isabel pôs as mãos na água e tirou o cordão. Disse-me depois, que o fez só para eu não estar com essa preocupação, mas que não era necessário. E eu sabia que não.

Entretanto, achei que estava a demorar a sair o resto do corpo e pedi-lhes ajuda. E não demorou nada, mas pronto. Cabeça de enfermeira moldada por anos de experiências assistidas, sempre com intervenção, em vez de deixar os bebés rodarem e saírem por eles.

"Ajudem-me!" Qualquer coisa do género. "Tirem o bebé".

Mas as parteiras esperaram.

E a bebé saiu e eu puxei-a logo para o meu colo e sentei-me. O André ao meu lado.
Um cordão muito comprido. Ficou logo branquinho.

Chorei. Muito. Em simultâneo com ela.
Agradeci muito ao André. Sem ele não era possível. Dei-lhe beijinhos.

Só depois vi que era uma menina.
Eu sabia cá dentro que era…

"Temos uma filha".
Senti necessidade de dizer em voz alta para acreditar.


Entretanto, as parteiras foram buscar uma toalha molhada em água quente porque a da piscina não estava à temperatura ideal...

Uns minutos depois acharam melhor ela sair para não ter frio. E tudo bem. O cordão já tinha parado de pulsar e também eu comecei a tremer.

Depois de cortarem o cordão (o André não quis porque lhe fazia impressão), ele saiu da piscina, secou-se e passaram-na para o colo dele.

Entretanto a Isabel percebeu que a placenta já se estaria a soltar.
Pedi-lhe um tempo.
Respirei, fiz força e puxei eu pelo cordão.
Saiu muito bem.
Pareceu me pequenina. O cordão era mais fininho que o do Simão.
Passei-a para a taça. Tenho uma foto ou duas a rir-me com a placenta na mão. Que felicidade! :P

Ajudaram-me a sair e secaram-me. Fui para a chaise longue do sofá a tremer. Puseram muitas toalhas para ficar mais quente.
Mas, quem mais me aqueceu foi ela. Estava tão quentinha vinda do colo do pai ;)

Depois ali ficamos um tempo.
As parteiras confirmaram que não estava a perder sangue e foram fazer os prints da placenta para a cozinha. Pareceu-me que se estavam a divertir com os trabalhos manuais :)

E eu a namorar com a minha bebé. Sossegadinhas, sem interferências.

Só mais tarde fizeram os registos e deram os pontos com anestesia local spray.
Sem picada.
Tinha lacerado um bocadinho para o rabo. Superficial, felizmente, e sem apanhar a porcaria das varizes.


Passado um bocado, pesaram e mediram a bebé e administraram a vitamina K enquanto ela estava a mamar. Só chorou mesmo ao sair da agulha.

Liguei para casa dos meus pais ainda a bebé estava a chorar.
Achei melhor fazer uma videochamada para o Simão nos ver e mostrar à minha mãe e irmã que tinha nascido. Em casa. E era uma menina. ;)


O Simão achou piada ela estar a chorar. Ficou todo eufórico.

A Isabel e a Inês começaram a arrumar tudo. Esvaziar a piscina e arrumar as toalhas sujas.

A minha mãe achou que estivéssemos sozinhos! Virei a câmara para as parteiras e ela ficou mais descansada.
Disse-lhes para virem quando quisessem. Estávamos tão bem…

Mais tarde, falamos com os pais do André. Primeiro, ele enviou umas mensagens e logo a seguir o pai dele fez uma publicação no facebook :P. Depois por telefone, o que deixou a mãe dele super confusa por eu "já" estar em casa :D
Eles vieram também conhecer a bebé e só depois de cá estarem é que perceberam que tinha sido cá em casa.

As parteiras foram embora umas 3 horas ou mais depois do parto. Ainda comeram e beberam café. Pelo menos a Isabel que não tinha almoçado. Não lhe demos tempo!!!
Eu também comi carne e arroz eram umas 17h. Que maravilha de começo de puerpério!  :D

Antes de saírem, estivemos a ver a lista de nomes mas não chegamos a conclusão nenhuma e vimos também o vídeo do momento do nascimento. Nesse preciso momento, a bebé começou a chorar! Super sensitiva. Tive que lhe dizer que a mamã estava bem, mas imaginava que a ela lhe tivesse doído...

Depois de saírem e antes de chegar a minha irmã, mãe e Simão, conversámos os dois.
Disse ao André para ser ele a decidir o nome.
Achei que merecia.
Ele apoiou-me para além de qualquer expectativa!...

Tinha de ser ele a escolher o nome.

Ele consultou novamente a minha lista com as duas colunas: menino ou menina.

E daí ficou Inês.


Inês
Parto natural, em casa
27.06.2020    15h17

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Para ti bebé


O momento de te conhecer está cada vez mais perto...

Já passamos por tanto juntos/as!...

Descobri-te no meio duma gastroenterite. Com tantas voltas, pensei que te perdesse.
Lidámos com a morte, bem de frente, e, infelizmente, por várias vezes...
O teu avô sobreviveu a um enfarte.
Vivemos uma pandemia que abanou tudo e todos mas que, felizmente, nos proporcionou momentos em família únicos. Nos devolveu tempo uns para os outros. Nos uniu apesar de nos afastar.

No meio disto tudo, nunca duvidei duma coisa: és e serás uma pessoa muito forte!

Parece que passou imenso tempo desde que te soube dentro de mim e, em simultâneo, que foi esta noite.
Vivo entre a tranquilidade de aproveitar a gravidez (que afinal já não me chateia nada!) e os últimos momentos desta vida a 3 e a curiosidade e entusiasmo pelo momento em que te vamos conhecer...
A ti, meu/minha bebé que já fazes parte da nossa vida mesmo antes sequer de existires fisicamente.

Queres saber dum pequeno segredo?
Eu e o teu pai, há um pouco mais de 10 anos, quando afirmamos o nosso amor, conversamos sobre ter filhos.
Sim, filhos. Um filho único nunca foi o nosso plano.
Por isso, bebé, podes ter a certeza que já existes há muito tempo...

Quero muito viver o teu parto.
Quero muito abraçar-te. Sentir o teu cheiro e pele de bebé que é das melhores coisas do mundo! Quero também decorar o teu rosto, confirmar se realmente és cópia do teu mano (maldita ecografia 3D  que me deixou nessa expectativa!).
Ao mesmo tempo, sei que estás aqui bem, protegido/a e arrumadinho/a, e esta gravidez, apesar de tudo, tem me dado momentos tão felizes...

Desculpa esta minha ambivalência de sentimentos. Deve ser simplesmente uma resistência à mudança que passará mal sinta a tua vontade de vir cá para fora.
Desculpa também estes planos de última hora que me fazem pensar que daria jeito continuares aí por dentro mais uns diazitos. É feitio, já me conheces...
Mas, como sabes, tenho conversado contigo, às vezes só por pensamento, mas tu entendes-me, tenho a certeza.

Não será novidade, mas tens cá fora uma mamã e um papá que te vão adorar ainda mais, um mano mais velho que já tem imensos planos para quando tu chegares, uma cadela enorme que vai, muito provavelmente, querer-te comer de tanta curiosidade em te conhecer, mas não leves a mal. É amor  :P

Tens também tias, tios, avós e avôs, primos e muitos amigos que estão ansiosos com a tua chegada ao lado da terra.
Quanto mais não seja para saber se afinal és menino ou menina!   ;) 



A festa do teu nascimento está preparada.
Só nos falta saber o dia e hora ;)

Vem quando quiseres meu amor mais pequenininho. Estamos prontos para ti!



Mamã Daniela
24.06.2020
38 semanas e 5 dias

sábado, 13 de junho de 2020

Para ti S., em breve irmão mais velho


Sabes uma coisa?
Tens sido incrível com a mamã!


Dás-me muito miminho e abracinhos, fazes festas na barriga, falas bastante no bebé, que para ti, se mexe sempre que pões a mão na minha barriga, ainda que seja só por uma fracção de segundo.

Desde que te contei, às 9 semanas, que estávamos à espera de um bebé e te pedi segredo.
Achei que tinha feito asneira (tinha decidido esperar pelo Natal para contar aos avós), mas tu, ainda nem 3 anos feitos, soubeste guardar o nosso segredo exemplarmente.
Ficaste logo feliz, quiseste ver o bebé e disseste que a Ana (a tua educadora!) ia ficar contente :D
Só mencionavas o bebé quando estávamos os 2 ou os 3 juntos e tinhas um sorriso especial quando pensavas no assunto.


Sabes S., a mamã tem aprendido imenso contigo!
Desde que eras uma sementinha na minha barriga...
Ser tua mãe, as experiências que tenho vivido contigo, têm feito de mim uma pessoa melhor, tenho crescido imenso, não apenas a nível pessoal como profissionalmente. Abriste-me vários horizontes que eu não conhecia de todo.
Por tua causa, esta gravidez (apesar da loucura da pandemia) foi vivida de uma forma bem mais positiva, tranquila e também mais ativa e saudável.

Não podia ter melhor preparação para este momento, que tudo aquilo que me ensinaste e ensinas todos os dias.

Agora que se aproxima o momento de conhecermos o/a bebé, estou a tentar imaginar-me como mãe de dois e penso ainda mais vezes se estarei à altura da tarefa. Tenho receio de não conseguir dividir de forma justa o amor e a atenção... Espero estar à altura do desafio, mas também que a transição seja mais suave por não ser exatamente tudo novo.
Sei que para ti também vai ser um grande desafio teres de nos partilhar com outra pessoa... 

Mas sabes S., dar-te um mano ou mana foi uma das coisas que mais pesou na decisão de termos outro filho. Para mim, ter irmãos é não estar mais sozinho, é ter um/a amigo/a e poder partilhar a vida para sempre com essa pessoa que é um pouco de nós, mesmo quando os nossos pais já não estão cá. Por isso, este é o maior "presente" que te podíamos alguma vez dar.

Este período em que temos estado por casa, permitiu-nos dedicar-te mais tempo, mas também me fez perceber ainda mais a falta que faz teres alguém com quem brincar, arreliar-te, fazer asneiras em conjunto... A Bina nem sempre alinha nas tuas brincadeiras :P



Ainda há bem pouco tempo ficavas chateado com a ideia de seres "mais velho" e agora, com o tempo e graças à história dos 3 porquinhos que adoras, sabes que isso é uma coisa boa! "Eu sou irmão", dizes tu com orgulho ;)

Sei que vais sentir alguns ciúmes, quem nunca? Mas também sei que vais ser super carinhoso e protetor. Basta ver como reages desde sempre, perante bebés mais pequenos que tu!
Tens um modo especial, muito suave, de fazer festinhas e dar beijinhos. Nem pareces ter a idade que tens.


Obrigada pela sugestão do nome Martinho para o bebé, meu pequenito. Mas algo me diz que não a vamos aceitar...  Espero que isso não te incomode muito... :P

Obrigada também por alinhares na minha última novidade das fraldinhas reutilizáveis. Pareces um boneco a andar com o volume das fraldas de noite mas é giro saber que gostas destas fraldas porque "dão para dar palmadas no rabo" :P

Não tarda, a mamã "vai tirar o bebé" como tu perguntaste ao papá no outro dia em que fui às análises e a nossa vida nunca mais vai ser como antes...

Vai ser, 
com certeza, melhor, meu pequenito!

Amo-te muito!
Tenho muito orgulho em ti ;)


A mamã D.

13.06.2020
Às 37 semanas e 1 dia de bebé2

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Nascer está a mudar

Há muito que não escrevo sobre a minha outra paixão, a saúde materna...
Já lá vão 4 anos que sou especialista nesta área, mas é um amor bem mais antigo.

Quando engravidei, decidi que não fazia sentido partilhar aqui os meus pensamentos e ideias sobre a maternidade. Não queria tornar isto um babyblog.

Mas desde que fui a uma formação sobre Parto Ativo com a inspiradora Janet Balaskas (fundadora do Active Birth Center em Londres) que renovei a minha motivação para defender, conforme posso, a bandeira do parto.
O mundo precisa de mais partos naturais, fisiológicos, ativos, não apenas pelo movimento físico, mas pelo papel ativo que a mulher/casal/bebé podem e devem assumir no seu parto/nascimento, sempre que tal é possível.

No meu dia-a-dia de trabalho (numa maternidade central) assisto diariamente à força esmagadora das políticas do nascimento.
Refiro-me a todas as normas, deveres, obrigações no parto institucionalizado que não respeitam a liberdade/autonomia/poder/capacidade da mulher/casal/bebé para parir/nascer.
São políticas que não oferecem opções naturais, pelo contrário, forçam a intervenções para minimizar o efeito de outras intervenções.
E, em muitos casos, não se regem por evidências científicas, mas apenas por tradição, porque "aqui' é assim...
Porque mesmo quando o risco é baixo, é sublinhado o medo e o risco do parto. Risco que é aumentado de sobremaneira pela interferência médicas e tecnológica.

Encontrei hoje este texto no facebook do "Badassmotherbirther" e fiz a minha tradução:

"Imaginem o quanto as políticas de nascimento mudariam se todas as mulheres:
- Percebessem que são elas que têm o poder
- Percebessem que elas e só elas dominam o seu corpo
- Não fossem ensinadas a ter medo do parto
- Lhes fosse perguntado se podiam ser tocadas em vez de forçadas
- Fossem ensinadas a acreditar no seu corpo e no parto

Imaginem o quanto as políticas de nascimento mudariam se o parto fosse considerado um evento natural da vida em vez de uma emergência


Imaginem o quanto as políticas de nascimento mudariam se tomassemos o parto como algo nosso

Não As políticas de nascimento deixarão de existir quando elas não tiverem mais poder sobre o TEU parto

Uma mulher confiante, tem opiniões e consegue parir segundo os seus termos é muito assustadora para as políticas do nascimento


As políticas do nascimento têm medo que TU acordes


Imagina se os papéis fossem invertidos e estas tivessem medo em vez de ti..."




Para terminar, só para esclarecer e não pensarem que estou doida:
Os avanços da tecnologia e da medicina são uma importante conquista. Felizmente temos fácil e rápido acesso às mesmas nos casos em que são realmente necessárias ou sempre que são necessárias.
Mas para tudo, deve haver peso, conta e medida, para que o benefício da sua utilização não se torne inferior ao prejuízo.
O parto é um acontecimento normal, natural, fisiológico, para o qual o corpo da mulher e do bebé estão preparados. A cultura é que nos fez esquecer isso...

Mas a cultura já está a mudar ;)


sexta-feira, 4 de maio de 2018

Em vez de rosa ou azul bebé...

... às vezes surge o negro. O outro lado da obstetrícia. Aquele que tento aceitar mas ao qual nunca me hei-de habituar.

Pode-se dizer que tenho tido sorte nos meus turnos. É que depois de mudar de serviço e passar a prestar cuidados imediatos aos recém-nascidos, regra geral, nascem bem ou então não me calha a mim essa função.
A verdade é que em mais de dois anos foi na semana passada a primeira vez que colaborei numa intubação traqueal.

Lembro-me bem do nome da mãe, de outros pormenores acerca da senhora e da cesariana em si e também que os pais ainda não tinham decidido o nome da miúda.

Nasceu antes do tempo e, soube hoje de manhã, morreu antes (?) do tempo.

Fiquei triste, pensei na mãe, no pai, na irmã mais velha... Mas o meu turno seguiu e não voltei ao assunto.

Na creche, reparei que a educadora do S. quase me pediu desculpa pelas coisinhas que tinham feito.
Só quando cheguei a casa percebi porque não consegui sorrir com as lembrancinhas do Dia da Mãe.

Tínhamos de escrever num papel que dizia "Ser mãe é..."

Estamos a pouco mais de um dia do Dia da Mãe, no meu serviço afixámos uns cartazes todos engraçados a desejar um dia feliz e preparámos umas lembranças para as parturientes, na tv o tema é super frequente, na creche também tinha umas pequenas surpresas, mas só me vem à ideia as mães de colo vazio...

Penso nesta mãe e em todas as outras que nunca o chegaram a ser biologicamente, ou que perderam os seus bebés antes ou depois de nascerem...
De todas as mães que amam para sempre, mas sem ter a quem dar esse amor.

Faz-me lembrar e agradecer muitas vezes pela sorte que tenho.
Ouvir a palavra "mamã", vê-lo a sorrir enquanto corre para mim, sentir os abracinhos fofos do meu pequenino, apreciar cada momento do seu crescimento e desenvolvimento, ensina-lo a ser melhor pessoa.



Ser mãe é ter motivos para sorrir e ser feliz todos os dias. É amar para sempre.
Foi o que escrevi no papelinho.


Um abraço apertado a todas as mamãs que amam a um céu de distância!

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

14.02.2017

Num instante, passou 1 ano desde que te conhecemos, pequeno S.
Como hoje também é dia de recordar, deixo aqui alguns excertos do relato do dia do teu nascimento.

"Dia dos Namorados e, a partir de agora, o TEU DIA, meu amor pequenino! ❤️❤️❤️

Acordei por volta das 3 e meia, estava ansiosa com o que iria acontecer na maternidade. Sempre a achar que devia estar "atrasado" e que mais valia a Dra não fazer nada e deixar evoluir naturalmente. Estive de volta dos meus pensamentos até por volta das 5 quando fui beber um chá... Voltei para o quarto com uma moinha na zona das costas, mas nada de especial. Se calhar era só impressão minha.
Às 7 fui ao wc e ao voltar para a cama comecei a sentir contrações leves nas costas com intervalos de mais ou menos 10 min. Não doía nada de especial e deixei-me ficar na cama...
Entretanto, as contrações começaram a doer um bocadito mais, embora toleráveis com a respiração, contudo com intervalos de uns 5 min. Não estava a contar, mas pareceram-me muito seguidas. Levantei-me e fui tomar o pequeno almoço. Nem pensar sair de casa sem tomar o pequeno-almoço, imaginando que ia estar n horas sem comer!...
As contrações estavam realmente seguidas, por isso pedi ao papá para se despachar. Estava mesmo em trabalho de parto! Vim para cima vestir-me. Só me sentia bem baixada de cócoras, a respirar fundo. A meio de uma contração, eram umas 7:55 sentir rebentar a bolsa de águas. Tipo bolha. Felizmente não molhei a roupa que me tinha custado tanto vestir 😅

Pedi ao papá para antes de sairmos de casa, tirarmos a foto das 39 semanas, já que seria a última da gravidez. E desta vez, gostava que ele também aparecesse 😍
Mas já não havia grande tempo para isso, as contrações estavam a começar a apertar e os intervalos cada vez mais curtos.

Seguimos para a maternidade, estava bastante trânsito e reparei que as contrações vinham com intervalos de 3/4 min. Não me sentia nada bem sentada no carro, mas lá fui respirando e nos intervalos sorria para o papá saber que eu estava bem e ainda mandei mensagens à tia Sofia e à Julieta a contar o que estava a acontecer.
O papá foi sempre nas calmas a cumprir as normas do trânsito, apesar de me apetecer que ele ligasse os 4 piscas e toca a despachar dali para fora.

Chegámos à maternidade eram quase 9:30. O papá foi estacionar. Eu pedi à administrativa para me inscrever na urgência e disse-lhe logo que estava em TP. Passado muito pouco tempo, a Lenita veio ter comigo e disse-me para entrar. Fui para a parte da Ginecologia. A Lenita ficou admirada com a minha maneira de lidar com as contrações - preferia sempre pôr-me de cócoras ou joelhos no chão para respirar melhor. Quando a Dr Inês chegou ficou surpreendida por eu já estar assim... Ela achava apenas que eu tinha vindo à urgência nas calmas, conforme ela me pediu.
Observou-me e tinha apenas 1 cm de dilatação. Grrr
Fiquei frustrada ao ouvir isto... Mas ela acrescentou que lhe parecia que ia evoluir rápido.

O papá chegou e eu chamei-o para vir ter comigo. Como as contrações se mantinham seguidas, fui para o internamento. A Lena perguntou-me se queria ir de cadeira de rodas e eu respondi "não, ainda me atrasas o TP!". A Dra ficou toda contente de ouvir a minha resposta :)
Chegámos lá acima e estavam a limpar o quarto do pré-parto, por isso eu e outra senhora que estava na urgência fomos para um quarto com duas grávidas de pouco tempo. O papá tinha ido buscar as malas ao carro. E eu, naquele quarto apertado, só me sentia bem na bola de pilates.

Quem nos recebeu foi a Cátia, admirada de eu estar grávida. Passou por mim no corredor, a Dra Adelaide que me perguntou o porquê de eu ter vindo parir na MBB, respondi-lhe "então assim posso fazer o pele a pele" :)
Na altura conseguia sorrir nos intervalos. Estava feliz por estar quase a conhecer-te e sentia que conseguia controlar bem a dor.

O papá ligou-me a dizer que ninguém o atendia na urgência por causa das malas. Acabei por ir eu de escadas ter com ele para o deixar entrar. Tudo para ver se acelerava o parto e não estar no quarto...
Do meu lado esquerdo no quarto, estava uma senhora muito chata, sempre a tentar falar para mim, mas eu nem lhe conseguia responder, estive tão pouco tempo lá no quarto, mas já não a podia ouvir, distraía-me da respiração.
Troquei a roupa que trazia por uma camisa de dormir na casa de banho, onde senti várias contrações seguidas.

Voltei para o quarto e a Cátia queria-me pôr o registo, mas eu não me sentia nada bem deitada, precisava de me mexer! Ela viu que eu estava aflita e decidiu observar-me antes do registo. Estava com 2,5cm de dilatação e com as dores que senti na marquesa, imagino que ela tenha dado "um jeitinho"... 😁 Ligou, logo a seguir para a sala a sugerir a minha transferência e analgesia epidural. A Dra Margarida ficou meio aparvalhada com a sugestão, até porque não sabia que Daniela ela se estava a referir, mas estava bem disposta e fartou-se de brincar com a situação ;)

Entrei na sala pelo meu próprio pé. Estava bem naquele instante. Não me lembro de ter visto o papá antes de ir para a sala, mas acho que sim porque ainda voltei para o quarto uns segundos... Na sala estava além da Dra Margarida, a Filipa Leite (fiquei tão contente de a ver! Imaginei logo que fosse ela a fazer o parto 😊), o TóZé e a Luísa.
Mal entramos no quarto 3 da sala de partos, tive uma contração forte e pus-me de cócoras com as mãos dadas. Eles acharam piada à minha reação e a Luísa tirou-me uma foto 🙈. Parecia que agora as contrações duravam uma eternidade a passar.
Entretanto, a Filipa pediu-me para deitar para colocar o registo. Eram 10:40 quando iniciou o registo. Antes disso, mal senti outra contração dei um salto na cama para me ajoelhar agarrada à cabeceira. Até se assustaram porque me mexi mesmo muito rápido! Nem eu sei como fiz aquilo 😅. A Luísa quis me tirar outra foto, mas pedi para não tirar.
Lá me controlei, obriguei-me a deitar. Vieram as minhas colegas Isabel Costa, Teresa e a nova colega Angela, com o carrinho da epidural. Antes de iniciarem a técnica apareceu a Susana com as mãos muito frias que me souberam tão bem... Estava com medo de me mexer durante a epidural, mas consegui controlar-me muito bem (acho eu!) e além disso, a Dra foi super rápida e não me magoou nadinha. Só ardeu a lidocaina. Fiz questão de dizer que não sabia como as sras se queixam tanto. Nem me lembro de sentir o choque...
Demorou um bocadinho a fazer efeito, mas ao fim de duas ou três contrações, senti a dor a aliviar e as pernas a ficarem dormentes.

O papá entrou, trazido pela Dra Margarida. Ri-me por ter a bata ao contrário ;). Dentro do possível, ao longo do tempo que estive na sala, fiz questão que ele soubesse que eu estava bem. Afinal estava feliz, era o teu dia, o dia em que finalmente te íamos conhecer cá fora! 😍

Ao longo da manhã tive várias visitas das minhas colegas, a Catarina, a Marta, a Susana, as colegas que estavam na sala de partos, a Cátia que voltou para ver como eu estava... Fui mandando mensagens pelo Messenger e telemóvel, a dar informações à tia Sofia, à Julieta, às primas de Trás os Montes e a várias amigas que já foram ou estão quase a ser mamãs.
Passado um pouco fui observada e já estava com 4cm. Fiquei aliviada por ver que, apesar da epidural estava a evoluir. De qualquer maneira, tinha ficado a perfusão desligada desde a colocação do cateter. Ligaram entretanto e a sensação de pernas demasiado dormentes começou a fazer-se sentir. Era muito estranho estar assim, sentia-me enorme e pensava muitas vezes se não estaria a atrasar o trabalho de parto... Pedi para baixar a perfusão, mas passado algum tempo comecei a sentir dor, à esquerda. Tive que levar reforço e aumentaram novamente a perfusão... 😬
Ainda tive esperança que o parto se desse até às 16h para ser a Filipa, mas não deu... A Sra da sala 1 foi para cesariana e na sala 2 entrou uma Sra pouco depois de mim que pariu por volta das 17h. Penso que seria a Sra que tinha entrado ao mesmo tempo que eu na urgência...
Apesar de estar ali à espera, deitada, sem comer, as horas foram-se passando e estava bem disposta. Ajudava a passar o tempo, as visitas das colegas do bloco (...) e poder usar a internet 🤓. Tentaram convencer o Amílcar que te íamos mudar o nome para Valentim e, pelos vistos ele acreditou 😜

Volta e meia lá vinha a dor à esquerda, do fundo da coluna para a anca. Já tinha a perna toda dormente mas só aliviava com os bólus. Parecia-me que seria da minha posição mantida ao fim de tantas horas... A dilatação foi evoluindo, 5/6 cm, depois 7/8cm, mas com apresentação direita posterior, o que me fazia pensar que seria preciso fazer um esforço maior para tu saíres. Fui fazendo previsões da hora, calculei que seria pelas 20h e qualquer coisa. 

Ao longo da tarde fui observada pela Dra Inês e pela Dra Tânia Ascensão. Da parte da tarde, estavam na Sala a Sandra Sobreiro, a Flor e a Cláudia Dias. Entrou uma senhora para o quarto 2 que pariu uns minutos depois. Depois desse parto, ficamos só nós na sala.

Recebi a visita da Regina que só se foi embora, depois da tia Tânia vir ter conosco ao fim da tarde. A Catarina também fez questão de nos fazer companhia quase uma hora depois do horário de saída, já que tinha tido uma urgência no bloco. A tia Tânia ficou sempre a acompanhar-nos até ao fim. Fez-me umas massagens de pressão nas costas que me aliviaram imenso a dor à esquerda. Foi super querida e não arredou pé nos momentos mais importantes. A tia Sara também esteve conosco desde o fim do dia até tu nasceres. Ouvir as conversas das minhas amigas ajudava a passar o tempo. 

Por volta das 20h estava com a dilatação quase completa e disse à tia Sofia que podia jantar nas calmas e vir, porque sabia que ia demorar um pouco mais a nascer. Quando a tia e a avó Fátima chegaram, tinha eu a começado a fazer força.

Ao início era meio estranho fazer força com as pernas dormentes, mas pedi à Cláudia para durante a observação me dar indicações sobre a maneira mais correta de puxar, de modo a que ela sentisse diferença. E lá fui fazendo força a ver se descias...

Fiz força durante uma hora mais ou menos, de lado, com a cabeceira elevada e um lençol a apoiar a perna de baixo, enquanto eu segurava a perna de cima. As minhas amigas, a tia Sofia e a avó estavam do lado de fora, no corredor, mas com a porta aberta e iam conversando. Tentei fazer força sentada e, pela primeira vez, tiveste uma desaceleração no registo e eu senti que estava com a tensão baixa. Passou rápido, mas a Sandra pediu às minhas amigas que ficassem do lado de fora, com a porta fechada e a partir daí estive concentrada na tarefa apenas com o papá ao pé de mim. A tia Tânia, ficou na sala de partos, pertinho da porta do quarto.

Ao fim dessa hora, fui observada novamente pela Dra Inês que me perguntou se eu queria continuar a fazer força ou se queria uma ajudinha. Respondi logo que preferia tentar mais um bocado. Não tinha dor nem estava cansada, por isso, porque não? Imaginei sempre que a ajuda fosse uma ventosa, e não havia naquele momento necessidade nenhuma de te sujeitar a isso...

A Sandra sugeriu que tentasse fazer força de cócoras. Experimentámos para ver se toleravas e como estava tudo ok, assim fiz, parecia um sapo, sentada a tentar empurrar-te cá para fora. 😊
Reparei que ao longo deste tempo em que fiz força, o teu registo foi sempre maravilhoso, nem um sinal de sofrimento ou aperto. Estavas cheio de energia, a curtir o trabalho de parto, como se nada fosse 😎

Tinha passado pouco tempo quando comecei a sentir dor ao fundo da coluna, sempre que vinha uma contração. Como me ia concentrando na força, era mais fácil de tolerar até que se foi tornando cada vez mais difícil... Disse ao papá que talvez tivesse que desistir de fazer força sozinha e teria que ser um parto instrumentado. Ainda assim, estive quase uma hora nesta posição até que a Dra Inês me observou novamente, insistiu mais um pouco com os puxes, a Florbela fez força em cima da minha barriga para testar de notavam diferenças e nada. "Vamos fazer cesariana".

"Cesariana?"

Nunca imaginei ouvir esta palavra e caiu em mim com um peso enorme... Comecei a chorar agarrada às mãos do papá, mal o deixaram entrar novamente na sala.

Não me apercebi praticamente dos preparativos para ir parto bloco. Só chorava e tentava acalmar-me com o apoio do papá. Não cheguei a ver a avó nem a tia antes de entrar para o bloco.
Fui transferida cheia de dores nas costas sempre que a contração apertava. Aqui não conseguia de todo controlar-me. Estava muito triste com o desfecho ao fim de 12 horas na sala de partos...

A tia Tânia equipou-se e entrou para o bloco. Ficou sempre junto a mim e ficou combinado que era ela que te ia receber e vestir.

Pedi para me preparem para fazer o contacto pele a pele. Nem deixaria eu que acontecesse de outra forma, já que tinha de ser cesariana...
Estava preocupada por causa disso, porque parecia que a epidural nunca mais fazia efeito. A Dra Inês e a Dra Ana Raquel iam preparando as coisas super depressa...
Eu só pensava que deviam esperar um bocadinho, não queria nada ter de levar propofol e não te ouvir chorar ou perder a oportunidade de te receber no meu colo.
Pedi à Tânia que me beliscasse a barriga e continuava a sentir um bocadinho de dor. A Dra Margarida fez o teste do álcool e eu senti a temperatura...
No entanto, quando pinçaram a barriga não tive dor e a cesariana começou. Sentia e sabia de cor e salteado tudo o que estavam a fazer.

Lembrei-me da prima Catarina que não tolerou estas sensações, mas a mim não me fez diferença, felizmente. Doeu talvez quando afastaram os músculos mas depois de mais um reforço da epidural, fiquei bem. Também fez impressão quando empurraram a minha barriga para tu saíres, mas foi muito rápido.

A Sara ficou de fora a fazer de elo de comunicação com a família. Assim eles estiveram sempre informados do estado das coisas e puderam entrar para a sala dos recém nascidos e ver-te segundos depois do nascimento.

A Claudia fez uma reportagem fotográfica espetacular! Eu nem percebi, mas ela entrou no bloco e captou a tua saída para o mundo.

💙 Nasceste assim às 22:15h do dia 14.02.2017, Simão, o meu amor pequenino grande! ❤️

Ouvi-te logo chorar.
A Tânia pegou em ti e mostrou-me a tua carinha. Achei-te bonito. Não me lembro se chorei, mas acho que sim, pelas fotos...
Senti-me estranha. Não foi de imediato que acreditei que era tua mãe e tu o meu filho. Mas ao mesmo tempo, tive a sensação de "finalmente estás cá fora!"

Ouvi risos do outro lado da porta. Estavam a comentar o tamanho da tua pilinha ☺️🙊

Uns minutitos depois, ouvi teu peso 3710 gramas! Ainda estava sentida, mas ao ouvir que eras tão grande, percebi que tinha sido o melhor para nós os dois...

Preparam-me para te receber e lá vieste tu, com a fralda, o gorro e as meias 😍
Deitaram-te de lado e tu sempre a chorar...
Falei para ti, dei-te beijinhos, mas demoravas a acalmar. E choravas com vigor!

A Cristina sugeriu que te pusesse a mamar, achei que era cedo, mas mal te viraram de barriga para baixo, de encontro com a minha, levantaste a cabecinha e abriste a boca para abocanhar a mama! Dei-te uma ajudinha e começaste a mamar, ao mesmo tempo que senti as tuas perninhas a gatinhar para te acomodares melhor à mama 😍
Senti um orgulho enorme de ti!
Parece que adivinhaste o meu papel na implementação do procedimento e não me deixaste ficar nada mal! 👏🏼💙

Estares comigo durante o resto do tempo da cesariana distraiu-me do resto. A Tânia voltou com a máquina e tirou umas fotos da tua primeira mamada. São recordações lindas para toda a nossa vida!❤️

No final da cesariana levaram-te para seres vestido pela Tânia com a ajuda da Isaura. A Cláudia continuou com as fotos. Fartaste-te de chorar! 😜

Ainda perguntei à Cristina se tinha muita gordurinha subcutânea e ela disse "nada, sequinha" 😎. A Carla estava de volta dos registos no computador e eu já me sentia bem para ir colaborando com a Cristina nas limpezas finais. Mas tinha as pernas dormentes e ia deixando cair a perna para fora da mesa 😅

Neste intervalo, foste ao colo do papá e da avó que estava super nervosa e sempre a dizer que tu tinhas fome, segundo contou a Sofia ;)

Ainda te trouxeram para a minha mama quando eu já estava pronta, mas vieram logo buscar-nos. Só à saída da sala vi novamente o papá a quem dei muitos beijinhos e a avó e a tia Sofia. Elas ainda subiram para o 3 piso mas foram logo embora. Tive pena porque queria saber a reação delas quando te viram...

Ficaste junto a mim a mamar e o papá também até perto da meia noite. Demos muitos beijinhos. Estávamos tão felizes de te ter aqui conosco! ❤️"




"(Nota: escrevi todo o relato do parto dia 25.02, contigo a dormir ao meu colinho, com a cabeça no meu peito, depois de teres mamado. Ficaste todo vermelhinho de estares tão quentinho e volta e meia choraste. Parecia que estavas a ter pesadelos ou a sentir comigo, as partes mais difíceis deste relato...
Amo-te muito meu bebé!)"