quarta-feira, 27 de junho de 2018

Nelo Tri-Epic 2018

Passados uns anos e com alguns kms de treino de corrida nas pernas, aceitei o desafio de participar no TriChallenge, aquela que até agora foi a única prova que me fez desistir...

Como o desafio ainda mete o seu respeito (35kms BTT, 15kms Trail e 6kms canoa!!!), tenho-me preparado conforme posso para o superar. A ideia será sempre e "só", chegar ao fim (apesar de sonhar com um pouco mais, claro :P)

Ora, nada melhor para treinar para uma espécie de triatlo que outra prova semelhante (apenas com menos kms na parte da canoa - 3 em vez de 6kms), e igualmente com GPS como única forma de orientação. Sendo assim, rumámos a Barcelos no fim de semana passado, com os meus sogros para tomar conta do puto, para participar no Nelo Tri Epic, uma organização dos bem conhecidos Amigos da Montanha.
O melhor e que mais aliciava o André era a ideia de poder ganhar a prova à geral e levar como prémio a canoa Nelo 510 Cup (patrocínio super espetacular da Nelo!)...

De acordo com a lista de inscritos, eu era a única mulher a fazer a prova individual. As outras participantes iam às estafetas por modalidade. Apesar disso, e mesmo sem a companhia da minha amiga que fará dupla comigo no TriChallenge, estava decidida a ir e chegar ao fim. Mais um pódio "garantido" portanto ;)

Acabámos por ficar em Braga na véspera e ainda fomos dar uma voltinha às ruas do centro histórico depois de jantar, já que era o fim de semana do São João. Mesmo de noite estava imenso calor e previa-se um bom dia de praia no sábado...


À partida, o speaker com o seu sistema de som móvel tipo troley (achei piada à coluna com rodinhas :P) veio logo falar comigo, porque supostamente eu era a única mulher no arranque. Já estava com os nervos pré-prova, mas ainda deu para trautear a música do Anselmo Ralph :D
Acabei por saber, um pouco mais tarde, que havia outra senhora na prova individual, uma espanhola, sem GPS. Não me perguntem como fez a prova, mas acredito que tenha andado sempre colada ao grupo do fim.

Arrancámos uns minutinhos depois da hora prevista e o meu GPS vai abaixo passados uns segundos!!!
Pensei que estava tramada, mas depois de o desligar e voltar a ligar (velho truque de engenharia avançada LOL) ele voltou à vida e nunca mais falhou.
Siga, pela estrada, a ganhar velocidade para não ficar muito atrás. No entanto, percebi que nem era preciso esforçar-me muito, o pessoal parecia ir a medo, afinal ainda tínhamos muitos kms pela frente...

Já no trilho, consegui passar dois meninos (adoro passar gajos eheh) e fui andando bastante tempo sozinha, a um ritmo satisfatório para mim que não percebo nada de BTT, sempre a ver se não me enganava muito com a navegação.
Depois do km 20, comecei a ver dois rapazes à minha frente e meti na ideia que havia de os ultrapassar. Há que criar objetivos para motivar  :P
O problema foi que pouco depois começamos a subir a sério, pelo meio de calhaus de granito, à bela maneira da montanha dos Amigos.
Um pouco mais à frente, acabei por conseguir apanhar os rapazes e ultrapassá-los, toda contente. Mal eu sabia que iam ser a minha companhia e apoio no trail...

Mais ou menos aos 30kms comecei a ouvir rancho, estava no Minho, carago!
Tão bom sair do monte e perceber que já estamos perto da civilização :P
Estava quase a acabar a primeira etapa!
Tirando o calor e já ter um bocadinho de fome, estava bem disposta e pronta a seguir.
A verdade é que não havia um único abastecimento de sólidos em nenhuma das etapas, só na zona de transição. Estava à espera disso e supostamente precavida, mas um dos géis que levava deve ser saltado do bolso do equipamento...

Antes de chegar à zona de transição, cruzei-me com um atleta com dorsal de trail a correr, perdido, no percurso do BTT. Tinha a certeza que ele estava enganado, não havia ali coincidência dos tracks de GPS, por isso avisei-o para voltar para trás.

Na transição, confirmei com o meu sogro que a prova do André estava a correr bem, comi o que pude, certifiquei-me que levava os flaks cheios e geis e barritas para o que fosse preciso.

Custou bastante fazer a mudança das pernas do modo bicicleta, para modo corrida. Já estava imenso calor e eu que nem gosto muito de BTT, só me imaginava a fazer os 14,5kms de trail em cima da bike...

Lá segui em passo meio lento e encontrei o atleta-perdido (esqueci-me de lhe perguntar o nome!), já tinha feito 2km a mais. Seguimos a par num single track agradável  junto ao rio e ainda acompanhámos por um bocadinho dois atletas das estafetas, todos frescos.

O calor da hora de almoço era insuportável, mesmo à sombra não se sentia grande alívio... Quando aparecia uma subidita, parava logo de correr. Ia seguindo a passo, não dava para mais.

Fui seguindo sozinha e pelos 3/4km apanhei um grupo de rapazes da zona de Vila Real que também iam quase sempre a passo. Ainda brincaram comigo "Vais ao pódio, mas ainda tens de penar!"
Agradeci com o melhor sorriso amarelo que arranjei e lá fui andando com eles até que o trilho tornou-se mais plano e acabei por recomeçar a correr, devagarinho e eles ficaram para trás.

Pelos 5,5kms, tínhamos de atravessar uma estrada bastante movimentada. Estive ali uns minutos ao sol a tentar passar e já meio desorientada, vi uma paragem de autocarro do outro lado da estrada com um banco de madeira. Tinha MESMO de parar.
Sentei-me, e acabei por me deitar logo a seguir e pôr as pernas para o ar. Estava super quente e quase de certeza hipotensa.

O grupo de rapazes apareceu, perguntaram se precisava de ajuda, mas disse-lhes para seguirem. Na altura ainda acreditava que ia recuperar.
Tentei levantar-me duas ou três vezes mas estava muito zonza...
Ia ter de desistir... Caramba, logo no início do trail!!

Quando estava a ponderar se esperava mais um pouco ou ligava para a organização, apareceu um casal de carro a oferecem-me água. Lembraram-se de vir dar apoio só porque sim. Como disse o rapaz "eu também faço trails e sei como é levar a marretada"

Entretanto, apareceram os dois rapazes que eu tinha ultrapassado no BTT, o João de Famalicão e o Miguel de Rio Tinto. Continuaram a partir daí sempre comigo.

Só me comecei a sentir melhor depois de me molharem as pernas e braços. Estava mesmo quente e sem aquela preciosa ajuda não tinha conseguido continuar.

O casal ofereceu-nos água, cola, bananas, melancia. Tinham tudo! Sem outras palavras, simplesmente fantásticos!
Já estava bem melhor quando apareceu uma carrinha da organização. Estavam uns metros à frente e o grupo de Vila Real tinha-os avisado que eu não me estava a sentir bem ;)

Com a recuperação possível, agradecemos imenso ao casal e lá segui na companhia dos meus novos amigos.

Desde esse momento, sempre que havia pontos de controlo com água, fazia questão de me molhar toda e  encher os sacos, sempre a sonhar com um mergulho no rio quando fosse a parte da canoa.

Apanhámos o grupo de Trás os Montes no ponto de controlo seguinte. Um deles estava muito em baixo, o Daniel, lembrava como eu estava há uns minutos atrás. Molhei-lhe as pernas e dei-lhe algum ânimo mas sabia que, felizmente, ele tinha companhia e eu tinha que seguir enquanto podia.

Depois de subir um bom bocado e nos debatermos com o track do GPS (se estivesse sozinha tinha-me perdido muito mais vezes...), finalmente chegámos ao marco geodésico, o pico mais alto do trail (onde me lembrava de ter passado no primeiro trail em que fiz na minha vida!). A partir daí era "só" descer até Barcelos. Foi a parte mais rápida e divertida. A saltitar pelo meio das rochas de granito.
Quase no fim da descida da montanha, acabámos por apanhar novamente o atleta-perdido. Já ia com quase 19km!!! Que pontaria pro engano :P

Nos últimos kms do trail, fui tentando correr mas a falta de sombra à chegada à cidade, estava outra vez a dar cabo de mim.
Passámos pelo riacho que nos tinham dito que existia, mas o muro para sair de lá era demasiado alto para eu conseguir trepar... Siga, ao calor...
Já em Barcelos, os meus companheiros começaram a correr e eu fui andando conforme podia, a tentar estar à sombra tanto quanto era possível.

Em 14,5km de trail devo ter feito mais de metade a andar. Nunca me tinha acontecido.
Lembrei-me imensas vezes do TSM debaixo dos 40 graus de Portalegre. Foi demais. Mas o que interessava era chegar ao fim.

Perto da zona de transição, vejo o André já sem o equipamento. Estava contente por só faltar a parte da canoa, mas ao mesmo tempo, completamente estourada! Nem me lembrei de lhe perguntar como tinha corrido a prova e em que lugar ficou.
Só lhe pedia água, cola, bananas... :P

Enchi duas garrafas de água, enfiei-me dentro do colete, dei uma beijoca ao meu pequenito que estava todo sorridente na zona da meta e segui a passo para a zona de entrada no rio.
Ainda não conseguia voltar a correr.
Tinham-nos avisado que ainda ficava a uns 300m de distância e bem que custaram a fazer esses metros.
De qualquer maneira estava feliz, eram mais ou menos 14h. Ainda tinha uma hora para fazer a parte da canoa até ao suposto limite temporal da prova.

Quando cheguei ao rio, esqueci-me de dar o tão esperado mergulho. Tava mais preocupada em orientar-te com os pedais (nem sabia que existiam pedais na canoa! :P) e pagaias!

Lá fui andando aos esses até me orientar mais ou menos com aquilo e siga rio acima.
Do lado direito começo a ver um atleta na água. Tinha virado a canoa! Pensei "tou lixada, então isto vira?"
Uns metros à frente percebi que era o atleta-perdido. Só podia!! 

Decidi continuar porque se o tentasse ajudar caía à água também. Entretanto veio um barco a motor da organização ajudá-lo a virar a canoa.

Do outro lado do rio, já vinham em sentido contrário os meus companheiros do trail. Todos contentes e a dar-me força para continuar.

Só nesta altura apareceram algumas nuvenzitas no céu e vento para ajudar a refrescar. Já me sentia outra. Só faltavam um bocadinho de nada para acabar!

Antes de chegar à bóia, ainda me atrapalhei com as algas que prendiam o leme, mas um senhor da organização que estava de canoa, veio-me dar um empurrãozinho.

Já no sentido da corrente, fui aumentando o ritmo.
Passei pelo Daniel (aquele que estava a morrer no trail como eu) e fizemos uma festa! Pensei que ele tinha desistido, mas lá vinha ele com o resto da malta de Vila Real.

Fui o mais rápido que consegui até à margem e depois de ter calçado as sapatilhas, bota a correr pelo trilho fora até às meta! Já não parei. Estava fresca e cheia de energia. Nem parecia a mesma.



Ainda deu para mandar um salto ao cruzar a meta :D

O pessoal da organização veio ter comigo a dar os parabéns. Já disse que eles foram todos super simpáticos? Acho que não, mas digo agora: impecáveis!

"Parabéns, e ainda tens direito a uma canoa!"
"O quê?!?"

Só aí fiz o clic: o André tinha ganho a prova! Uhuuuu!!!
A canoa é nossa!!!
E vai ser em rosinha-choque, como eu pedi... 😊


Antes da entrega dos prémios, já passava das 15h, vimos chegar do trail um grupo grande onde estava a outra mulher em prova individual.
A organização fez questão de esperar para ver se ela acabava a prova e ia ao pódio comigo, mas demorou bastante a ir para a canoa e lá fui eu (sozinha) mais uma vez ao pódio:

1.º lugar femininos! Eheh


Depois deste relat
o super extenso (sorry not sorry!), só posso acrescentar:

Que prova espetacular!
Recomendo! Sem dúvida alguma.

Organização 5 estrelas, super simpáticos, trilhos bem escolhidos e com técnica q.b. dada a dimensão da prova, pontos de controlo bem espalhados pelo trilho. Melhor só mesmo com um posto com comida a meio do BTT.