Esta carta é para ti bebé,
no dia em que completas as 24 semanas na minha barriga e depois duma semana caótica no mundo, com as notícias sobre maldito vírus a aproximarem-se cada vez mais de nós...
Ainda não sei o teu sexo, decidi não saber até te ver nascer. Só o papá é que sabe e está a guardar bem o segredo. Não pensamos ainda em nomes, embora já me tenham vindo alguns à ideia. Penso que não te deverás incomodar muito se só decidirmos depois de te conhecermos...
Imaginei viver esta gravidez duma forma completamente diferente daquela que está a acontecer...
Planeei, na minha cabeça, continuar a fazer os meus relatos semanais ou pelo menos mensais da tua gestação, mas com o pouco tempo que me sobrou com o trabalho têm vindo a ser constantemente adiados.
Planeei correr mais, mas pouco depois do primeiro trimestre já não me senti bem para o fazer.
Planeei trabalhar para me manter ativa, pelo menos até ao final de Março ou meio de Abril mas, esta semana, com o cansaço dos turnos, situações complicadas que pareço atrair, a maldita variz que está cada vez pior e a aproximação assustadora do coronavírus, desisti.
Precisava de me concentrar em ti, na nossa saúde e nos proteger.
Planeei fazer algumas coisas enquanto estivesse por casa, sendo certo que teria umas horas por dia para nós, enquanto o mano estivesse na escolinha, mas... O meu coração disse-me que não valia a pena esperar pela decisão do governo de fechar as escolas para ficar com o S. em casa e assim fiz. O nosso isolamento social começou, na medida do possível e apesar do pai continuar a ter de ir trabalhar :|
Sinto que não tenho o tempo que gostaria para ti. Talvez venha a sentir isso toda a vida...
Hoje fizeste 24 semanas e o meu pensamento neste momento de grandes duvidas e ansiedade é que, se precisares nascer mais cedo, já irão investir em ti, meu bebé pequenino. Como se não fosses, até agora, tão real como a partir de hoje... Como se não te sentisse mexer (e bem!) há semanas, meses até! Mas são assim as regras de atuação. E eu sei demasiado bem como têm de ser respeitadas.
Meu amor pequenino, obrigada por todos os pontapézinhos e empurrões que me dás. Não imaginas a tranquilidade e esperança que me transmitem (apesar de por vezes doerem um bocadinho...) neste tempo de grande angústia, em que, notícia atrás de notícia, ficamos cada vez com o coração mais apertadinho...
Que o tempo ajude a que esta pandemia se controle o mais rápido possível e que tu venhas no teu tempo, com tranquilidade e todo o amor que temos para te dar.
Da mamã,
D.
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sexta-feira, 13 de março de 2020
quarta-feira, 27 de junho de 2018
Nelo Tri-Epic 2018
Passados uns anos e com alguns kms de treino de corrida nas pernas, aceitei o desafio de participar no TriChallenge, aquela que até agora foi a única prova que me fez desistir...
Como o desafio ainda mete o seu respeito (35kms BTT, 15kms Trail e 6kms canoa!!!), tenho-me preparado conforme posso para o superar. A ideia será sempre e "só", chegar ao fim (apesar de sonhar com um pouco mais, claro :P)
Ora, nada melhor para treinar para uma espécie de triatlo que outra prova semelhante (apenas com menos kms na parte da canoa - 3 em vez de 6kms), e igualmente com GPS como única forma de orientação. Sendo assim, rumámos a Barcelos no fim de semana passado, com os meus sogros para tomar conta do puto, para participar no Nelo Tri Epic, uma organização dos bem conhecidos Amigos da Montanha.
O melhor e que mais aliciava o André era a ideia de poder ganhar a prova à geral e levar como prémio a canoa Nelo 510 Cup (patrocínio super espetacular da Nelo!)...
De acordo com a lista de inscritos, eu era a única mulher a fazer a prova individual. As outras participantes iam às estafetas por modalidade. Apesar disso, e mesmo sem a companhia da minha amiga que fará dupla comigo no TriChallenge, estava decidida a ir e chegar ao fim. Mais um pódio "garantido" portanto ;)
Acabámos por ficar em Braga na véspera e ainda fomos dar uma voltinha às ruas do centro histórico depois de jantar, já que era o fim de semana do São João. Mesmo de noite estava imenso calor e previa-se um bom dia de praia no sábado...
À partida, o speaker com o seu sistema de som móvel tipo troley (achei piada à coluna com rodinhas :P) veio logo falar comigo, porque supostamente eu era a única mulher no arranque. Já estava com os nervos pré-prova, mas ainda deu para trautear a música do Anselmo Ralph :D
Acabei por saber, um pouco mais tarde, que havia outra senhora na prova individual, uma espanhola, sem GPS. Não me perguntem como fez a prova, mas acredito que tenha andado sempre colada ao grupo do fim.
Arrancámos uns minutinhos depois da hora prevista e o meu GPS vai abaixo passados uns segundos!!!
Pensei que estava tramada, mas depois de o desligar e voltar a ligar (velho truque de engenharia avançada LOL) ele voltou à vida e nunca mais falhou.
Siga, pela estrada, a ganhar velocidade para não ficar muito atrás. No entanto, percebi que nem era preciso esforçar-me muito, o pessoal parecia ir a medo, afinal ainda tínhamos muitos kms pela frente...
Já no trilho, consegui passar dois meninos (adoro passar gajos eheh) e fui andando bastante tempo sozinha, a um ritmo satisfatório para mim que não percebo nada de BTT, sempre a ver se não me enganava muito com a navegação.
Depois do km 20, comecei a ver dois rapazes à minha frente e meti na ideia que havia de os ultrapassar. Há que criar objetivos para motivar :P
O problema foi que pouco depois começamos a subir a sério, pelo meio de calhaus de granito, à bela maneira da montanha dos Amigos.
Um pouco mais à frente, acabei por conseguir apanhar os rapazes e ultrapassá-los, toda contente. Mal eu sabia que iam ser a minha companhia e apoio no trail...
Mais ou menos aos 30kms comecei a ouvir rancho, estava no Minho, carago!
Tão bom sair do monte e perceber que já estamos perto da civilização :P
Estava quase a acabar a primeira etapa!
Tirando o calor e já ter um bocadinho de fome, estava bem disposta e pronta a seguir.
A verdade é que não havia um único abastecimento de sólidos em nenhuma das etapas, só na zona de transição. Estava à espera disso e supostamente precavida, mas um dos géis que levava deve ser saltado do bolso do equipamento...
Antes de chegar à zona de transição, cruzei-me com um atleta com dorsal de trail a correr, perdido, no percurso do BTT. Tinha a certeza que ele estava enganado, não havia ali coincidência dos tracks de GPS, por isso avisei-o para voltar para trás.
Na transição, confirmei com o meu sogro que a prova do André estava a correr bem, comi o que pude, certifiquei-me que levava os flaks cheios e geis e barritas para o que fosse preciso.
Custou bastante fazer a mudança das pernas do modo bicicleta, para modo corrida. Já estava imenso calor e eu que nem gosto muito de BTT, só me imaginava a fazer os 14,5kms de trail em cima da bike...
Lá segui em passo meio lento e encontrei o atleta-perdido (esqueci-me de lhe perguntar o nome!), já tinha feito 2km a mais. Seguimos a par num single track agradável junto ao rio e ainda acompanhámos por um bocadinho dois atletas das estafetas, todos frescos.
O calor da hora de almoço era insuportável, mesmo à sombra não se sentia grande alívio... Quando aparecia uma subidita, parava logo de correr. Ia seguindo a passo, não dava para mais.
Fui seguindo sozinha e pelos 3/4km apanhei um grupo de rapazes da zona de Vila Real que também iam quase sempre a passo. Ainda brincaram comigo "Vais ao pódio, mas ainda tens de penar!"
Agradeci com o melhor sorriso amarelo que arranjei e lá fui andando com eles até que o trilho tornou-se mais plano e acabei por recomeçar a correr, devagarinho e eles ficaram para trás.
Pelos 5,5kms, tínhamos de atravessar uma estrada bastante movimentada. Estive ali uns minutos ao sol a tentar passar e já meio desorientada, vi uma paragem de autocarro do outro lado da estrada com um banco de madeira. Tinha MESMO de parar.
Sentei-me, e acabei por me deitar logo a seguir e pôr as pernas para o ar. Estava super quente e quase de certeza hipotensa.
O grupo de rapazes apareceu, perguntaram se precisava de ajuda, mas disse-lhes para seguirem. Na altura ainda acreditava que ia recuperar.
Tentei levantar-me duas ou três vezes mas estava muito zonza...
Ia ter de desistir... Caramba, logo no início do trail!!
Quando estava a ponderar se esperava mais um pouco ou ligava para a organização, apareceu um casal de carro a oferecem-me água. Lembraram-se de vir dar apoio só porque sim. Como disse o rapaz "eu também faço trails e sei como é levar a marretada"
Entretanto, apareceram os dois rapazes que eu tinha ultrapassado no BTT, o João de Famalicão e o Miguel de Rio Tinto. Continuaram a partir daí sempre comigo.
Só me comecei a sentir melhor depois de me molharem as pernas e braços. Estava mesmo quente e sem aquela preciosa ajuda não tinha conseguido continuar.
O casal ofereceu-nos água, cola, bananas, melancia. Tinham tudo! Sem outras palavras, simplesmente fantásticos!
Já estava bem melhor quando apareceu uma carrinha da organização. Estavam uns metros à frente e o grupo de Vila Real tinha-os avisado que eu não me estava a sentir bem ;)
Com a recuperação possível, agradecemos imenso ao casal e lá segui na companhia dos meus novos amigos.
Desde esse momento, sempre que havia pontos de controlo com água, fazia questão de me molhar toda e encher os sacos, sempre a sonhar com um mergulho no rio quando fosse a parte da canoa.
Apanhámos o grupo de Trás os Montes no ponto de controlo seguinte. Um deles estava muito em baixo, o Daniel, lembrava como eu estava há uns minutos atrás. Molhei-lhe as pernas e dei-lhe algum ânimo mas sabia que, felizmente, ele tinha companhia e eu tinha que seguir enquanto podia.
Depois de subir um bom bocado e nos debatermos com o track do GPS (se estivesse sozinha tinha-me perdido muito mais vezes...), finalmente chegámos ao marco geodésico, o pico mais alto do trail (onde me lembrava de ter passado no primeiro trail em que fiz na minha vida!). A partir daí era "só" descer até Barcelos. Foi a parte mais rápida e divertida. A saltitar pelo meio das rochas de granito.
Quase no fim da descida da montanha, acabámos por apanhar novamente o atleta-perdido. Já ia com quase 19km!!! Que pontaria pro engano :P
Nos últimos kms do trail, fui tentando correr mas a falta de sombra à chegada à cidade, estava outra vez a dar cabo de mim.
Passámos pelo riacho que nos tinham dito que existia, mas o muro para sair de lá era demasiado alto para eu conseguir trepar... Siga, ao calor...
Já em Barcelos, os meus companheiros começaram a correr e eu fui andando conforme podia, a tentar estar à sombra tanto quanto era possível.
Em 14,5km de trail devo ter feito mais de metade a andar. Nunca me tinha acontecido.
Lembrei-me imensas vezes do TSM debaixo dos 40 graus de Portalegre. Foi demais. Mas o que interessava era chegar ao fim.
Perto da zona de transição, vejo o André já sem o equipamento. Estava contente por só faltar a parte da canoa, mas ao mesmo tempo, completamente estourada! Nem me lembrei de lhe perguntar como tinha corrido a prova e em que lugar ficou.
Só lhe pedia água, cola, bananas... :P
Enchi duas garrafas de água, enfiei-me dentro do colete, dei uma beijoca ao meu pequenito que estava todo sorridente na zona da meta e segui a passo para a zona de entrada no rio.
Ainda não conseguia voltar a correr.
Tinham-nos avisado que ainda ficava a uns 300m de distância e bem que custaram a fazer esses metros.
De qualquer maneira estava feliz, eram mais ou menos 14h. Ainda tinha uma hora para fazer a parte da canoa até ao suposto limite temporal da prova.
Quando cheguei ao rio, esqueci-me de dar o tão esperado mergulho. Tava mais preocupada em orientar-te com os pedais (nem sabia que existiam pedais na canoa! :P) e pagaias!
Lá fui andando aos esses até me orientar mais ou menos com aquilo e siga rio acima.
Do lado direito começo a ver um atleta na água. Tinha virado a canoa! Pensei "tou lixada, então isto vira?"
Uns metros à frente percebi que era o atleta-perdido. Só podia!!
Decidi continuar porque se o tentasse ajudar caía à água também. Entretanto veio um barco a motor da organização ajudá-lo a virar a canoa.
Do outro lado do rio, já vinham em sentido contrário os meus companheiros do trail. Todos contentes e a dar-me força para continuar.
Só nesta altura apareceram algumas nuvenzitas no céu e vento para ajudar a refrescar. Já me sentia outra. Só faltavam um bocadinho de nada para acabar!
Antes de chegar à bóia, ainda me atrapalhei com as algas que prendiam o leme, mas um senhor da organização que estava de canoa, veio-me dar um empurrãozinho.
Já no sentido da corrente, fui aumentando o ritmo.
Passei pelo Daniel (aquele que estava a morrer no trail como eu) e fizemos uma festa! Pensei que ele tinha desistido, mas lá vinha ele com o resto da malta de Vila Real.
Fui o mais rápido que consegui até à margem e depois de ter calçado as sapatilhas, bota a correr pelo trilho fora até às meta! Já não parei. Estava fresca e cheia de energia. Nem parecia a mesma.
Ainda deu para mandar um salto ao cruzar a meta :D
O pessoal da organização veio ter comigo a dar os parabéns. Já disse que eles foram todos super simpáticos? Acho que não, mas digo agora: impecáveis!
"Parabéns, e ainda tens direito a uma canoa!"
"O quê?!?"
Só aí fiz o clic: o André tinha ganho a prova! Uhuuuu!!!
A canoa é nossa!!!
E vai ser em rosinha-choque, como eu pedi... 😊
Antes da entrega dos prémios, já passava das 15h, vimos chegar do trail um grupo grande onde estava a outra mulher em prova individual.
A organização fez questão de esperar para ver se ela acabava a prova e ia ao pódio comigo, mas demorou bastante a ir para a canoa e lá fui eu (sozinha) mais uma vez ao pódio:
1.º lugar femininos! Eheh
Depois deste relato super extenso (sorry not sorry!), só posso acrescentar:
Que prova espetacular!
Recomendo! Sem dúvida alguma.
Organização 5 estrelas, super simpáticos, trilhos bem escolhidos e com técnica q.b. dada a dimensão da prova, pontos de controlo bem espalhados pelo trilho. Melhor só mesmo com um posto com comida a meio do BTT.
Como o desafio ainda mete o seu respeito (35kms BTT, 15kms Trail e 6kms canoa!!!), tenho-me preparado conforme posso para o superar. A ideia será sempre e "só", chegar ao fim (apesar de sonhar com um pouco mais, claro :P)
Ora, nada melhor para treinar para uma espécie de triatlo que outra prova semelhante (apenas com menos kms na parte da canoa - 3 em vez de 6kms), e igualmente com GPS como única forma de orientação. Sendo assim, rumámos a Barcelos no fim de semana passado, com os meus sogros para tomar conta do puto, para participar no Nelo Tri Epic, uma organização dos bem conhecidos Amigos da Montanha.
O melhor e que mais aliciava o André era a ideia de poder ganhar a prova à geral e levar como prémio a canoa Nelo 510 Cup (patrocínio super espetacular da Nelo!)...
De acordo com a lista de inscritos, eu era a única mulher a fazer a prova individual. As outras participantes iam às estafetas por modalidade. Apesar disso, e mesmo sem a companhia da minha amiga que fará dupla comigo no TriChallenge, estava decidida a ir e chegar ao fim. Mais um pódio "garantido" portanto ;)
Acabámos por ficar em Braga na véspera e ainda fomos dar uma voltinha às ruas do centro histórico depois de jantar, já que era o fim de semana do São João. Mesmo de noite estava imenso calor e previa-se um bom dia de praia no sábado...
À partida, o speaker com o seu sistema de som móvel tipo troley (achei piada à coluna com rodinhas :P) veio logo falar comigo, porque supostamente eu era a única mulher no arranque. Já estava com os nervos pré-prova, mas ainda deu para trautear a música do Anselmo Ralph :D
Acabei por saber, um pouco mais tarde, que havia outra senhora na prova individual, uma espanhola, sem GPS. Não me perguntem como fez a prova, mas acredito que tenha andado sempre colada ao grupo do fim.
Arrancámos uns minutinhos depois da hora prevista e o meu GPS vai abaixo passados uns segundos!!!
Pensei que estava tramada, mas depois de o desligar e voltar a ligar (velho truque de engenharia avançada LOL) ele voltou à vida e nunca mais falhou.
Siga, pela estrada, a ganhar velocidade para não ficar muito atrás. No entanto, percebi que nem era preciso esforçar-me muito, o pessoal parecia ir a medo, afinal ainda tínhamos muitos kms pela frente...
Já no trilho, consegui passar dois meninos (adoro passar gajos eheh) e fui andando bastante tempo sozinha, a um ritmo satisfatório para mim que não percebo nada de BTT, sempre a ver se não me enganava muito com a navegação.
Depois do km 20, comecei a ver dois rapazes à minha frente e meti na ideia que havia de os ultrapassar. Há que criar objetivos para motivar :P
O problema foi que pouco depois começamos a subir a sério, pelo meio de calhaus de granito, à bela maneira da montanha dos Amigos.
Um pouco mais à frente, acabei por conseguir apanhar os rapazes e ultrapassá-los, toda contente. Mal eu sabia que iam ser a minha companhia e apoio no trail...
Mais ou menos aos 30kms comecei a ouvir rancho, estava no Minho, carago!
Tão bom sair do monte e perceber que já estamos perto da civilização :P
Estava quase a acabar a primeira etapa!
Tirando o calor e já ter um bocadinho de fome, estava bem disposta e pronta a seguir.
A verdade é que não havia um único abastecimento de sólidos em nenhuma das etapas, só na zona de transição. Estava à espera disso e supostamente precavida, mas um dos géis que levava deve ser saltado do bolso do equipamento...
Antes de chegar à zona de transição, cruzei-me com um atleta com dorsal de trail a correr, perdido, no percurso do BTT. Tinha a certeza que ele estava enganado, não havia ali coincidência dos tracks de GPS, por isso avisei-o para voltar para trás.
Na transição, confirmei com o meu sogro que a prova do André estava a correr bem, comi o que pude, certifiquei-me que levava os flaks cheios e geis e barritas para o que fosse preciso.
Custou bastante fazer a mudança das pernas do modo bicicleta, para modo corrida. Já estava imenso calor e eu que nem gosto muito de BTT, só me imaginava a fazer os 14,5kms de trail em cima da bike...
Lá segui em passo meio lento e encontrei o atleta-perdido (esqueci-me de lhe perguntar o nome!), já tinha feito 2km a mais. Seguimos a par num single track agradável junto ao rio e ainda acompanhámos por um bocadinho dois atletas das estafetas, todos frescos.
O calor da hora de almoço era insuportável, mesmo à sombra não se sentia grande alívio... Quando aparecia uma subidita, parava logo de correr. Ia seguindo a passo, não dava para mais.
Fui seguindo sozinha e pelos 3/4km apanhei um grupo de rapazes da zona de Vila Real que também iam quase sempre a passo. Ainda brincaram comigo "Vais ao pódio, mas ainda tens de penar!"
Agradeci com o melhor sorriso amarelo que arranjei e lá fui andando com eles até que o trilho tornou-se mais plano e acabei por recomeçar a correr, devagarinho e eles ficaram para trás.
Pelos 5,5kms, tínhamos de atravessar uma estrada bastante movimentada. Estive ali uns minutos ao sol a tentar passar e já meio desorientada, vi uma paragem de autocarro do outro lado da estrada com um banco de madeira. Tinha MESMO de parar.
Sentei-me, e acabei por me deitar logo a seguir e pôr as pernas para o ar. Estava super quente e quase de certeza hipotensa.
O grupo de rapazes apareceu, perguntaram se precisava de ajuda, mas disse-lhes para seguirem. Na altura ainda acreditava que ia recuperar.
Tentei levantar-me duas ou três vezes mas estava muito zonza...
Ia ter de desistir... Caramba, logo no início do trail!!
Quando estava a ponderar se esperava mais um pouco ou ligava para a organização, apareceu um casal de carro a oferecem-me água. Lembraram-se de vir dar apoio só porque sim. Como disse o rapaz "eu também faço trails e sei como é levar a marretada"
Entretanto, apareceram os dois rapazes que eu tinha ultrapassado no BTT, o João de Famalicão e o Miguel de Rio Tinto. Continuaram a partir daí sempre comigo.
Só me comecei a sentir melhor depois de me molharem as pernas e braços. Estava mesmo quente e sem aquela preciosa ajuda não tinha conseguido continuar.
O casal ofereceu-nos água, cola, bananas, melancia. Tinham tudo! Sem outras palavras, simplesmente fantásticos!
Já estava bem melhor quando apareceu uma carrinha da organização. Estavam uns metros à frente e o grupo de Vila Real tinha-os avisado que eu não me estava a sentir bem ;)
Com a recuperação possível, agradecemos imenso ao casal e lá segui na companhia dos meus novos amigos.
Desde esse momento, sempre que havia pontos de controlo com água, fazia questão de me molhar toda e encher os sacos, sempre a sonhar com um mergulho no rio quando fosse a parte da canoa.
Apanhámos o grupo de Trás os Montes no ponto de controlo seguinte. Um deles estava muito em baixo, o Daniel, lembrava como eu estava há uns minutos atrás. Molhei-lhe as pernas e dei-lhe algum ânimo mas sabia que, felizmente, ele tinha companhia e eu tinha que seguir enquanto podia.
Depois de subir um bom bocado e nos debatermos com o track do GPS (se estivesse sozinha tinha-me perdido muito mais vezes...), finalmente chegámos ao marco geodésico, o pico mais alto do trail (onde me lembrava de ter passado no primeiro trail em que fiz na minha vida!). A partir daí era "só" descer até Barcelos. Foi a parte mais rápida e divertida. A saltitar pelo meio das rochas de granito.
Quase no fim da descida da montanha, acabámos por apanhar novamente o atleta-perdido. Já ia com quase 19km!!! Que pontaria pro engano :P
Nos últimos kms do trail, fui tentando correr mas a falta de sombra à chegada à cidade, estava outra vez a dar cabo de mim.
Passámos pelo riacho que nos tinham dito que existia, mas o muro para sair de lá era demasiado alto para eu conseguir trepar... Siga, ao calor...
Já em Barcelos, os meus companheiros começaram a correr e eu fui andando conforme podia, a tentar estar à sombra tanto quanto era possível.
Em 14,5km de trail devo ter feito mais de metade a andar. Nunca me tinha acontecido.
Lembrei-me imensas vezes do TSM debaixo dos 40 graus de Portalegre. Foi demais. Mas o que interessava era chegar ao fim.
Perto da zona de transição, vejo o André já sem o equipamento. Estava contente por só faltar a parte da canoa, mas ao mesmo tempo, completamente estourada! Nem me lembrei de lhe perguntar como tinha corrido a prova e em que lugar ficou.
Só lhe pedia água, cola, bananas... :P
Enchi duas garrafas de água, enfiei-me dentro do colete, dei uma beijoca ao meu pequenito que estava todo sorridente na zona da meta e segui a passo para a zona de entrada no rio.
Ainda não conseguia voltar a correr.
Tinham-nos avisado que ainda ficava a uns 300m de distância e bem que custaram a fazer esses metros.
De qualquer maneira estava feliz, eram mais ou menos 14h. Ainda tinha uma hora para fazer a parte da canoa até ao suposto limite temporal da prova.
Quando cheguei ao rio, esqueci-me de dar o tão esperado mergulho. Tava mais preocupada em orientar-te com os pedais (nem sabia que existiam pedais na canoa! :P) e pagaias!
Lá fui andando aos esses até me orientar mais ou menos com aquilo e siga rio acima.
Do lado direito começo a ver um atleta na água. Tinha virado a canoa! Pensei "tou lixada, então isto vira?"
Uns metros à frente percebi que era o atleta-perdido. Só podia!!
Decidi continuar porque se o tentasse ajudar caía à água também. Entretanto veio um barco a motor da organização ajudá-lo a virar a canoa.
Do outro lado do rio, já vinham em sentido contrário os meus companheiros do trail. Todos contentes e a dar-me força para continuar.
Só nesta altura apareceram algumas nuvenzitas no céu e vento para ajudar a refrescar. Já me sentia outra. Só faltavam um bocadinho de nada para acabar!
Antes de chegar à bóia, ainda me atrapalhei com as algas que prendiam o leme, mas um senhor da organização que estava de canoa, veio-me dar um empurrãozinho.
Já no sentido da corrente, fui aumentando o ritmo.
Passei pelo Daniel (aquele que estava a morrer no trail como eu) e fizemos uma festa! Pensei que ele tinha desistido, mas lá vinha ele com o resto da malta de Vila Real.
Fui o mais rápido que consegui até à margem e depois de ter calçado as sapatilhas, bota a correr pelo trilho fora até às meta! Já não parei. Estava fresca e cheia de energia. Nem parecia a mesma.
Ainda deu para mandar um salto ao cruzar a meta :D
O pessoal da organização veio ter comigo a dar os parabéns. Já disse que eles foram todos super simpáticos? Acho que não, mas digo agora: impecáveis!
"Parabéns, e ainda tens direito a uma canoa!"
"O quê?!?"
Só aí fiz o clic: o André tinha ganho a prova! Uhuuuu!!!
A canoa é nossa!!!
E vai ser em rosinha-choque, como eu pedi... 😊
Antes da entrega dos prémios, já passava das 15h, vimos chegar do trail um grupo grande onde estava a outra mulher em prova individual.
A organização fez questão de esperar para ver se ela acabava a prova e ia ao pódio comigo, mas demorou bastante a ir para a canoa e lá fui eu (sozinha) mais uma vez ao pódio:
1.º lugar femininos! Eheh
Depois deste relato super extenso (sorry not sorry!), só posso acrescentar:
Que prova espetacular!
Recomendo! Sem dúvida alguma.
Organização 5 estrelas, super simpáticos, trilhos bem escolhidos e com técnica q.b. dada a dimensão da prova, pontos de controlo bem espalhados pelo trilho. Melhor só mesmo com um posto com comida a meio do BTT.
segunda-feira, 30 de março de 2015
Saber agraceder e viver em paz
Hoje consegui pôr a leitura em dia.
Enquanto estava na oficina, à espera da mudança do óleo do carro, li mais um capítulo do meu 2.º livro do ano (aquele que já era para ter sido lido em Fevereiro... :P) e, quando cheguei a casa, pude, com calma, passar os olhos pelos meus blogs favoritos. Já não era sem tempo...
Também já não era sem tempo que vinha aqui, dar um pouco de atenção este meu cantinho. Pelo que saíram 2 posts hoje, em vez de um.
Pelo meio destes dias tão ocupados, alegres, cansativos, tristes e stressantes, tinha que parar um bocadinho e partilhar esta frase que li no blog Pés no Sofá - a minha última aquisição para a lista de blogs favoritos (muito obrigada Sílvia, pela sugestão!) - a propósito da tragédia da semana passada:
"When the world ends we will all be gone, so we should just live in peace"
(É como diz a Maria João, o blog só me tem trazido coisas boas! Ideias, pensamentos, pessoas. É mesmo.)
Vai daí, fez-se luz no meu mini-cérebro (é um nome carinhoso que gosto de chamar àquilo que me permite pensar): realmente, independentemente dos obstáculos que a vida nos ponha à frente, mesmo que sejam muros altos e com arame farpado, há que continuar a lutar e saber agradecer pela nossa família, por quem está ao nosso lado, pelos nossos amigos, por todas aquelas pessoas que nos marcam, nos ensinam, nos oferecem um degrau para ser mais fácil saltar o muro.
Nos últimos dias, para além de mim, tenho convivido com muita gente triste ou irritada. Parece que anda tudo com os nervos à flor da pele e a precisar de férias.
Pessoas chateadas com alguém, com o trabalho ou "simplesmente" com a vida.
Vale a pena? Vale a pena martirizarmo-nos com o que a vida nos traz de mau, com as dificuldades que nos impõe, com merdices que, vamos a ver, e não interessam realmente nadinha a ninguém?
Ou será melhor procurar o lado bom das coisas? Parar e recomeçar de novo. Analisar o que se passa conosco ou à nossa volta sobre outra perspectiva.
Devemos deixarmo-nos chorar ou sorrir perante as pequenas coisas boas que acontecem?
Sim porque, elas continuam a acontecer. Nós é temos tendência a andar distraídos...
Saber agradecer o bom que temos nesta vida, esquecer mágoas, rancores, stresszinhos de nada, por nadas do dia-a-dia sem jeito nenhum, viver em paz, conosco (primeiro) e também com os outros. Deixarmos neles marcas, daquilo que temos, fazemos e somos de bom, enquanto por aqui andamos.
Por isso, deixo as referências às pessoas que me inspiraram a escrever isto e obrigada a todos os outros que fazem dos meus dias, dias bons!!
Sem querer, voltei a ser a otimista que sou na maior parte do tempo e, antes do almoço, em vez de ficar agarrada ao computador a adiantar trabalho sob stresse, pus a música alto e comecei a dançar feita maluquinha! (não adianta dizer que isso me deixou toda contente, mas cheia de vertigens, rai's ma partam!... ;)
Enfim...
Muito obrigada pessoas boas!
Ficam estas notas. Para quem as ler e, sobretudo, para mim.
Uma semana de paz e otimismo para todos!
Enquanto estava na oficina, à espera da mudança do óleo do carro, li mais um capítulo do meu 2.º livro do ano (aquele que já era para ter sido lido em Fevereiro... :P) e, quando cheguei a casa, pude, com calma, passar os olhos pelos meus blogs favoritos. Já não era sem tempo...
Também já não era sem tempo que vinha aqui, dar um pouco de atenção este meu cantinho. Pelo que saíram 2 posts hoje, em vez de um.
Pelo meio destes dias tão ocupados, alegres, cansativos, tristes e stressantes, tinha que parar um bocadinho e partilhar esta frase que li no blog Pés no Sofá - a minha última aquisição para a lista de blogs favoritos (muito obrigada Sílvia, pela sugestão!) - a propósito da tragédia da semana passada:
"When the world ends we will all be gone, so we should just live in peace"
(É como diz a Maria João, o blog só me tem trazido coisas boas! Ideias, pensamentos, pessoas. É mesmo.)
Vai daí, fez-se luz no meu mini-cérebro (é um nome carinhoso que gosto de chamar àquilo que me permite pensar): realmente, independentemente dos obstáculos que a vida nos ponha à frente, mesmo que sejam muros altos e com arame farpado, há que continuar a lutar e saber agradecer pela nossa família, por quem está ao nosso lado, pelos nossos amigos, por todas aquelas pessoas que nos marcam, nos ensinam, nos oferecem um degrau para ser mais fácil saltar o muro.
Nos últimos dias, para além de mim, tenho convivido com muita gente triste ou irritada. Parece que anda tudo com os nervos à flor da pele e a precisar de férias.
Pessoas chateadas com alguém, com o trabalho ou "simplesmente" com a vida.
Vale a pena? Vale a pena martirizarmo-nos com o que a vida nos traz de mau, com as dificuldades que nos impõe, com merdices que, vamos a ver, e não interessam realmente nadinha a ninguém?
Ou será melhor procurar o lado bom das coisas? Parar e recomeçar de novo. Analisar o que se passa conosco ou à nossa volta sobre outra perspectiva.
Devemos deixarmo-nos chorar ou sorrir perante as pequenas coisas boas que acontecem?
Sim porque, elas continuam a acontecer. Nós é temos tendência a andar distraídos...
Saber agradecer o bom que temos nesta vida, esquecer mágoas, rancores, stresszinhos de nada, por nadas do dia-a-dia sem jeito nenhum, viver em paz, conosco (primeiro) e também com os outros. Deixarmos neles marcas, daquilo que temos, fazemos e somos de bom, enquanto por aqui andamos.
Por isso, deixo as referências às pessoas que me inspiraram a escrever isto e obrigada a todos os outros que fazem dos meus dias, dias bons!!
Sem querer, voltei a ser a otimista que sou na maior parte do tempo e, antes do almoço, em vez de ficar agarrada ao computador a adiantar trabalho sob stresse, pus a música alto e comecei a dançar feita maluquinha! (não adianta dizer que isso me deixou toda contente, mas cheia de vertigens, rai's ma partam!... ;)
Enfim...
Muito obrigada pessoas boas!
Ficam estas notas. Para quem as ler e, sobretudo, para mim.
Uma semana de paz e otimismo para todos!
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
V Trilhos dos Abutres (27k) - Frio, lama, chuva, lama, granizo, lama, vento, lama, paisagens incríveis, trilhos fantásticos, mais umas amizades no trilho e mais uma chegada ao fim!
Pois, o título ficou muito comprido, eu sei...
A culpa foi da lama, retiro da minha pessoa qualquer responsabilidade. E assim também se vão preparando para o meu maior post de sempre.
Se estás já cansado de ouvir falar ou ler sobre os Abutresde certeza que é porque não participaste na prova, sugiro que não continues a ler o que se segue.
Eu sei que já passou quase uma semana do acontecimento, mas só ontem tive acesso à amostra de uma foto numa zona mítica do percurso e fazia questão de ilustrar este post com ela.
Além disso, o meu sistema imunitário, afinal, não é assim tão poderoso e, esta semana, tive direito a relembrar o que é estar com 38,5º C de temperatura e a definhar no sofá, depois de mais uma noite de serviço daquelas...
Mas bem, bora lá contar-vos como foi a minha experiência "abútrica".
Estão preparados?!?
Na noite anterior, para não falhar à tradição, não consegui dormir nadinha de jeito. O A. uma vez mais, vomitou a meio da noite (as desculpas que ele arranja sempre para falhar às provas de trail running :P), depois, também eu fui tratar de ir mais leve para a prova (o meu sistema nervoso é um querido!).
Lá fora, continuava a chover a potes.
De manhãzinha, toca a despachar para ir ter com os outros 2 resistentes da nossa equipa. De 12 inscritos, apenas sobraram 3 malucos que insistiram viver o V Trilhos dos Abutres: um homem e duas mulheres.
Esqueci-me que era dia de feira e fui pelo percurso mais chato para ir ter com eles. Ir por lá, fez-me ver que o rio já tinha ultrapassado, e bem, as margens. Os campos estavam completamente alagados, como ainda não tinha acontecido este ano. E no meu pensamento "Ok... Mas não é isto que me vai fazer desistir!"
Siga caminho e sem grande chuva, mas sempre com nuvens negras a pairar em cima das montanhas que iríamos trepar. Soubemos que a prova da ultra tinha sido adiada umas horas, a organização tinha ponderado cancelar/adiar o evento, mas optaram por alterar alguns percursos e esperar que as águas da chuva intensa da noite, escorressem montes abaixo e aliviassem os trilhos...
Em Miranda do Corvo estava bem fresquinho e ora fazia sol, ora desatava a chover como nunca...
Às 10h começou a Ultra (50k). Lá foram eles todos contentes. Começaram com sol.
A nossa prova ficaria para as 10h30. Stresszinho a aumentar com a aproximação da hora. Só pedíamos que não chovesse no arranque, para podermos aquecer um bocadinho. Com o atraso, tínhamos também receio de já chegar ao fim da tarde, com pouca luz natural, o que, sem frontal (aquelas luzinhas que se põem na testa p.e.) seria bem mais complicado...
10h40 arrancámos. Eu e a A.L. mantivemo-nos juntas, apesar de eu achar que ela corre mais que eu. Sabíamos que os trilhos iam ser muito duros (até perigosos) e era importante ter alguém conhecido por perto em caso de necessidade.
Nem 1km fizemos e começou a chover. Os trilhos estavam cheios de lama, mole onde enterrávamos as sapatilhas, que pareciam querer sair dos pés, ou então, de pequenos riachos castanhos que não nos deixavam ver o que estava por baixo, fossem pedras escorregadias, paus ou mais lama...
O pessoal que ia por perto estava super animado e nós também. Dizíamos piadas, ríamo-nos dos que escorregavam na lama (e dávamos uma mãozinha se fosse preciso, claro!), sorríamos para as câmarazitas de filmar dos outros participantes. Um deles andava, de cada vez que passávamos por uma zona mais escorregadia, tentava, a todo o custo, apanhar quedas aparatosas no vídeo... :P
Primeiro desafio:
Saltar um riacho de água por baixo de um viaduto, com mais ou menos 1m de largura. Safei-me bem. E afinal este nem era bem um desafio, como percebi pelo que se seguiu... Mas deu logo para ficar molhada até aos joelhos...
Bem pior que eu, pessoal que vi nas fotos a atirarem-se completamente à água, só para passaram mais depressa... Diria, pouco inteligentes...
Tipo isto:
Continuámos o nosso caminho e, durante um bocadinho, deu para correr, esticar as pernas e aquecer (dentro do possível...).
Começamos a andar a par do rio e de pequenas quedas de água. Decidi calçar as minhas luvinhas novas (tê-las levado foi o que me safou, mais à frente... sem dúvida, foram a minha melhor aquisição de equipamento de trail até hoje) sempre que fosse preciso agarrar-me a alguma coisa ou trepar.
Apanhámos a primeira descida cheia de lama e sem vegetação a onde nos pudessemos agarrar. A A.L. ía à minha frente com medo de escorregar. Até que eu experimentei baixar-me, juntar os pés e escorregar por ali abaixo com a ajuda das mãos. Tipo "sku", mas sem pousar o rabo no chão, estão a ver? Resultou. E a partir daí não quis outra coisa. ;)
Sempre que possível tentávamos correr, mas era difícil, pela lama, a inclinação e a quantidade de gente que, nesta fase, ainda ia à nossa frente. Entretanto, pude adorar a paisagem, ver a água a correr furiosamente riachos abaixo, mesmo ao nosso lado.
Desafios seguintes:
Descemos por um "mini-precipício", agarrados a uma corda (benditas luvas!) que acabava antes do final da descida... E, mais uma vez, tive de recorrer à "minha" técnica maravilha de sku. Teria sido exemplar, não tivesse eu afastado a perna esquerda a escorregar, o que fez com que eu ficasse com um tronco entre as pernas... Valeu por mais um momento de risada graças à posição parva em que fiquei. :P
Trepámos uma parede de lama imensa em que tínhamos que encontrar socalcos mais ou menos firmes para subir. A A.L. começou a ficar para trás e a queixar-se de dores nas costas...
Começámos a subir a montanha e o granizo a atacar-nos com força. Só imaginávamos apanhar neve lá em cima...
Pior que a parede de lama, tivemos que trepar um muro de pedras, mais alto que eu, que se tinha transformado numa pequena queda de água...
Passamos por várias pontes rústicas de madeira. Uma delas mesmo em frente a uma cascata que, nesse dia, graças à chuva, estava gigante. A força da água era tanta que sentíamos as gotas do vapor de água na cara. Um cenário simplesmente magnífico! Lindo, lindo!
Lembro-me de pensar "isto sim, são os Abutres..."
(Tenho pena que a amostra não faça jus ao que vimos...)
A subida da montanha foi-se fazendo nas calmas. Subíamos agarrados a cordas, correntes, de gatas, como calhava! Apesar do frio e da chuva que nos ia dando algumas tréguas, sentia-me bem. Não estava ainda muito cansada e fui incentivando a A.L. a continuar e a ir bebendo água aos poucos. Tínhamos que chegar, pelo menos, ao Posto de Abastecimento dos 17km que sabíamos ser já a descer. Ela que é uma força da natureza, estava de rastos, com dores "nos rins" e as mãos a inchar... :S
Cheguei ao ponto mais alto e percebi que a A.L. estava um pouco mais para trás. Lá em cima estava um vento gélido. As minhas luvas, mesmo meio molhadas e cheias de lama, conseguiam manter as minhas mãos quentes, graças à capinha para as pontas dos dedos. Para não arrefecer, decidi continuar ao meu ritmo e esperar por ela no abastecimento.
Na descida, surgiu mais um desafio:
O trilho tinha-se transformado em linha de água. A água corria sem parar por ali abaixo e eram raros os sítios onde nos conseguíamos desviar um pouco do seu trajeto.
Siga água abaixo e não reclama! :P
De facto, era mais fácil descer por onde havia água, porque o solo era mais firme que nas margens cheias de lama. Sempre com cuidado, para não dar um malho em sítios com pedras e a usar a "minha" técnica nas descidas lamacentas.
Até que, já a ver um estradão e dois marmanjos da organização ali parados a ver-nos passar, enquanto grelhavam umas febras (nem senti fome com o cheiro, só me apeteceu aquecer aos mãos nas brasas...), existia um lago lamacento enorme...
Vai a D. cheia de confiança, à frente de uns poucos de gajos (ainda por cima! Burra de não os ter deixado passar primeiro para ver o melhor caminho...), segue em direção ao lago e, já dentro dele, com água pelos joelhos, sente o pé esquerdo a escorregar (outra vez o esquerdo!)...
Conclusão: água gelada até à cintura! ;) Só não mergulhei, porque fiquei segura num tronco que estava debaixo de água (ufa!).
Mando uns berros. Os meus companheiros de luta ajudam-me a sair da água e perguntam-me se estou bem, se me magoei. "Não, estou bem. É a água!...". Eles "tá fria?!". Eu "Nãaaaaoo, tá booooaaaa!" :P
Toca a correr dali para fora, para tentar aquecer. O abastecimento dos 17km estava a uns metros... Gondramaz, uma pequena aldeia no meio do nada, mesmo muito gira. Hei-de lá voltar.
Parei. Neste abastecimento, como nos outros todos. Coisa que não costumo sentir necessidade nas provas, mas nos Abutres era crucial. Além disso, queria ver como estava a A.L.
Esperei um pouco, comi uns deliciosos bocados de laranja, banana e uns quadradinhos de marmelada. A minha colega de equipa tardava em aparecer e eu estava a ficar gelada...
Decidi continuar. Não sem antes pedir a umas pessoas que estavam ali a assistir para a avisarem que eu tive de continuar para não arrefecer mais.
Logo a seguir, vi o J.P. (que bom ver uma cara conhecida!), marido da A.L. Estava a ver se nós passávamos. Pedi-lhe que voltasse para trás e fosse ao encontro dela. A minha colega optou por desistir neste ponto da prova.
E eu segui sozinha. Faltavam 10km, não haviam de custar mais que os que já tinha feito...
(E vocês, se aguentaram até agora, deixem-se estar. Afinal só faltam 10km de descrição. O pior já passou... ;)
Ouvi dois corredores que iam perto de mim a queixarem-se do frio nas mãos. Comecei a mandar bocas na brincadeira "eu vou aqui com as minhas mãos quentinhas!" "estas luvas são um espetáculo! A melhor compra de sempre...". Eles entraram na brincadeira e começaram a conversar comigo. Soube de onde eram. Afinal eles conheciam provas onde eu já tinha participado e outras que foram realizadas na minha terra. E eu conhecia uma prova organizada pela equipa de um deles ;)
Seguimos por trilhos e levadas, fizemos uma pequena parte de um percurso pedestre, passámos o rio de um lado para o outro, em cima das pontezinhas de troncos, mais umas poucas vezes. Nesta zona, passaram por nós os dois primeiros classificados da Ultra, em altas velocidades, como se nada fosse (como se não levassem, pelo menos, mais 25km que nós nas pernas...).
Na altura, nem cheguei a saber o nome dos meus novos companheiros de luta... Mas, até ao último abastecimento a 5km do final, continuámos juntos, na galhofa, como se nos conhecessemos há mais tempo... Como não podia falhar, veio à baila o tema TopMáquina e respetivas Teorias-Top-do-Trail, o facto de eu ser enfermeira e, alegadamente, ter andado a meter-prá-veia e outros assuntos nessa linha... ;D ;D
Uma risada, que nos manteve bem dispostos e distraídos por um bom bocado, esquecendo um pouco as dificuldades vividas e o que ainda estava para vir até à meta...
No último abastecimento antes do fim. A A.L. e o J.P. estavam à minha espera. Incentivaram-me a continuar. A não perder muito tempo porque era uma das 10 ou 12 primeiras.
Nem sei o que me deu, até ali não tinha pensado na classificação, nunca foi o meu objetivo primário. Mas, na altura, meti na cabeça que tinha de me manter nas 10 primeiras classificadas. Afinal, não me lembrava de ser passada por nenhuma mulher pelo meio da prova, eu é que fui passando... "São só mais 5km? Ok, vamos lá!"
E, para terminar, segui outra vez sozinha.
Eram só 5km, de facto, mas não eram 5km de corrida. Destes, 3 ou mais eram de lama, pura. Mole e falsa como a que tínhamos apanhado no início... Fui andando, como pude. Ainda tive oportunidade de fazer uma pose parola para um fotógrafo que estava a seguir a um lago de lama à espera de apanhar um qualquer descuidado que lá se enfiasse... :P
Custou-me muuuiiito esta parte. Só me imaginava a perder ali o chip ou uma sapatilha e ficar ali que tempos, sozinha, à procura... Demorei imenso tempo aqui e fui passada por uma data de gente.
Acabou, finalmente, a lama e começou a corrida em plano, estrada, até chegar quase à meta. Seria um bom sprint final, não tivesse eu meio quilo de areia nas sapatilhas e mais de 20km impossíveis nas pernas. Mesmo assim, nesta fase, passei uns 3 corredores (homens, à pois é!... ;)
E, só para acabar em beleza, uma rampa até ao pavilhão da meta, super inclinada, escorregadia e cheia de lama... Foi o único sítio do percurso onde fui incapaz de me rir para a foto. Ainda por cima, logo aqui, fui ultrapassada por uma mulher... :S
Chego ao cimo dessa rampinha. Expiro com força, espero 2 ou 3 segundos e arranco a correr para os últimos 200m até à meta.
E já está! Aquela sensação incrível de dever cumprido! Objetivos superados!
Consegui chegar ao fim... ;) Braços no ar, um sorriso na cara.
Comer qualquer coisa, debater-me para tirar o chip dos atacadores da sapatilha e dar um abraço os meus companheiros de luta e novos amigos do mundo trail ;)
V Trilhos dos Abutres (27K): 12.º lugar Fem., 9.º lugar Sen F (o meu escalão), 4h49. Feito. ;)
Para mim, a prova de trail running mais dura mas mais bonita de sempre!
Podem ler aqui um excelente relato de quem viveu a experiência do Ultra Abutres.
Se ainda tiverem coragem, para melhor perceberem aquilo porque passámos, deixo-vos o link de um vídeo (onde eu apareço! uhu :P).
Alerto apenas para a edição "meio-esquizo" do vídeo. Os mais sensíveis podem ficar enjoados ou a convulsivar ao fim de uns minutos... Eheheh
Fotos minhas durante a prova?
Simplesmente impossível. Para além de não ter levado nenhum aparelho à prova de água e lama, precisei das minhas duas mãos livres em todo o percurso e muito admiro quem conseguiu fazer vídeos como este...
Deixem-se de tretas, o vídeo tem 20 min e meio, ok. Eu estive lá quase 5 horas... Custa-vos assim tanto?!
Ok, façam como entenderem... :P
Pronto, já acabei.
A culpa foi da lama, retiro da minha pessoa qualquer responsabilidade. E assim também se vão preparando para o meu maior post de sempre.
Se estás já cansado de ouvir falar ou ler sobre os Abutres
Eu sei que já passou quase uma semana do acontecimento, mas só ontem tive acesso à amostra de uma foto numa zona mítica do percurso e fazia questão de ilustrar este post com ela.
Além disso, o meu sistema imunitário, afinal, não é assim tão poderoso e, esta semana, tive direito a relembrar o que é estar com 38,5º C de temperatura e a definhar no sofá, depois de mais uma noite de serviço daquelas...
Mas bem, bora lá contar-vos como foi a minha experiência "abútrica".
Estão preparados?!?
Na noite anterior, para não falhar à tradição, não consegui dormir nadinha de jeito. O A. uma vez mais, vomitou a meio da noite (as desculpas que ele arranja sempre para falhar às provas de trail running :P), depois, também eu fui tratar de ir mais leve para a prova (o meu sistema nervoso é um querido!).
Lá fora, continuava a chover a potes.
De manhãzinha, toca a despachar para ir ter com os outros 2 resistentes da nossa equipa. De 12 inscritos, apenas sobraram 3 malucos que insistiram viver o V Trilhos dos Abutres: um homem e duas mulheres.
Esqueci-me que era dia de feira e fui pelo percurso mais chato para ir ter com eles. Ir por lá, fez-me ver que o rio já tinha ultrapassado, e bem, as margens. Os campos estavam completamente alagados, como ainda não tinha acontecido este ano. E no meu pensamento "Ok... Mas não é isto que me vai fazer desistir!"
Siga caminho e sem grande chuva, mas sempre com nuvens negras a pairar em cima das montanhas que iríamos trepar. Soubemos que a prova da ultra tinha sido adiada umas horas, a organização tinha ponderado cancelar/adiar o evento, mas optaram por alterar alguns percursos e esperar que as águas da chuva intensa da noite, escorressem montes abaixo e aliviassem os trilhos...
Em Miranda do Corvo estava bem fresquinho e ora fazia sol, ora desatava a chover como nunca...
Às 10h começou a Ultra (50k). Lá foram eles todos contentes. Começaram com sol.
A nossa prova ficaria para as 10h30. Stresszinho a aumentar com a aproximação da hora. Só pedíamos que não chovesse no arranque, para podermos aquecer um bocadinho. Com o atraso, tínhamos também receio de já chegar ao fim da tarde, com pouca luz natural, o que, sem frontal (aquelas luzinhas que se põem na testa p.e.) seria bem mais complicado...
10h40 arrancámos. Eu e a A.L. mantivemo-nos juntas, apesar de eu achar que ela corre mais que eu. Sabíamos que os trilhos iam ser muito duros (até perigosos) e era importante ter alguém conhecido por perto em caso de necessidade.
Nem 1km fizemos e começou a chover. Os trilhos estavam cheios de lama, mole onde enterrávamos as sapatilhas, que pareciam querer sair dos pés, ou então, de pequenos riachos castanhos que não nos deixavam ver o que estava por baixo, fossem pedras escorregadias, paus ou mais lama...
O pessoal que ia por perto estava super animado e nós também. Dizíamos piadas, ríamo-nos dos que escorregavam na lama (e dávamos uma mãozinha se fosse preciso, claro!), sorríamos para as câmarazitas de filmar dos outros participantes. Um deles andava, de cada vez que passávamos por uma zona mais escorregadia, tentava, a todo o custo, apanhar quedas aparatosas no vídeo... :P
Primeiro desafio:
Saltar um riacho de água por baixo de um viaduto, com mais ou menos 1m de largura. Safei-me bem. E afinal este nem era bem um desafio, como percebi pelo que se seguiu... Mas deu logo para ficar molhada até aos joelhos...
Bem pior que eu, pessoal que vi nas fotos a atirarem-se completamente à água, só para passaram mais depressa... Diria, pouco inteligentes...
Tipo isto:
Continuámos o nosso caminho e, durante um bocadinho, deu para correr, esticar as pernas e aquecer (dentro do possível...).
Começamos a andar a par do rio e de pequenas quedas de água. Decidi calçar as minhas luvinhas novas (tê-las levado foi o que me safou, mais à frente... sem dúvida, foram a minha melhor aquisição de equipamento de trail até hoje) sempre que fosse preciso agarrar-me a alguma coisa ou trepar.
Apanhámos a primeira descida cheia de lama e sem vegetação a onde nos pudessemos agarrar. A A.L. ía à minha frente com medo de escorregar. Até que eu experimentei baixar-me, juntar os pés e escorregar por ali abaixo com a ajuda das mãos. Tipo "sku", mas sem pousar o rabo no chão, estão a ver? Resultou. E a partir daí não quis outra coisa. ;)
Sempre que possível tentávamos correr, mas era difícil, pela lama, a inclinação e a quantidade de gente que, nesta fase, ainda ia à nossa frente. Entretanto, pude adorar a paisagem, ver a água a correr furiosamente riachos abaixo, mesmo ao nosso lado.
Desafios seguintes:
Descemos por um "mini-precipício", agarrados a uma corda (benditas luvas!) que acabava antes do final da descida... E, mais uma vez, tive de recorrer à "minha" técnica maravilha de sku. Teria sido exemplar, não tivesse eu afastado a perna esquerda a escorregar, o que fez com que eu ficasse com um tronco entre as pernas... Valeu por mais um momento de risada graças à posição parva em que fiquei. :P
Trepámos uma parede de lama imensa em que tínhamos que encontrar socalcos mais ou menos firmes para subir. A A.L. começou a ficar para trás e a queixar-se de dores nas costas...
Começámos a subir a montanha e o granizo a atacar-nos com força. Só imaginávamos apanhar neve lá em cima...
Pior que a parede de lama, tivemos que trepar um muro de pedras, mais alto que eu, que se tinha transformado numa pequena queda de água...
Passamos por várias pontes rústicas de madeira. Uma delas mesmo em frente a uma cascata que, nesse dia, graças à chuva, estava gigante. A força da água era tanta que sentíamos as gotas do vapor de água na cara. Um cenário simplesmente magnífico! Lindo, lindo!
Lembro-me de pensar "isto sim, são os Abutres..."
(Tenho pena que a amostra não faça jus ao que vimos...)
A subida da montanha foi-se fazendo nas calmas. Subíamos agarrados a cordas, correntes, de gatas, como calhava! Apesar do frio e da chuva que nos ia dando algumas tréguas, sentia-me bem. Não estava ainda muito cansada e fui incentivando a A.L. a continuar e a ir bebendo água aos poucos. Tínhamos que chegar, pelo menos, ao Posto de Abastecimento dos 17km que sabíamos ser já a descer. Ela que é uma força da natureza, estava de rastos, com dores "nos rins" e as mãos a inchar... :S
Cheguei ao ponto mais alto e percebi que a A.L. estava um pouco mais para trás. Lá em cima estava um vento gélido. As minhas luvas, mesmo meio molhadas e cheias de lama, conseguiam manter as minhas mãos quentes, graças à capinha para as pontas dos dedos. Para não arrefecer, decidi continuar ao meu ritmo e esperar por ela no abastecimento.
Na descida, surgiu mais um desafio:
O trilho tinha-se transformado em linha de água. A água corria sem parar por ali abaixo e eram raros os sítios onde nos conseguíamos desviar um pouco do seu trajeto.
Siga água abaixo e não reclama! :P
De facto, era mais fácil descer por onde havia água, porque o solo era mais firme que nas margens cheias de lama. Sempre com cuidado, para não dar um malho em sítios com pedras e a usar a "minha" técnica nas descidas lamacentas.
Até que, já a ver um estradão e dois marmanjos da organização ali parados a ver-nos passar, enquanto grelhavam umas febras (nem senti fome com o cheiro, só me apeteceu aquecer aos mãos nas brasas...), existia um lago lamacento enorme...
Vai a D. cheia de confiança, à frente de uns poucos de gajos (ainda por cima! Burra de não os ter deixado passar primeiro para ver o melhor caminho...), segue em direção ao lago e, já dentro dele, com água pelos joelhos, sente o pé esquerdo a escorregar (outra vez o esquerdo!)...
Conclusão: água gelada até à cintura! ;) Só não mergulhei, porque fiquei segura num tronco que estava debaixo de água (ufa!).
Mando uns berros. Os meus companheiros de luta ajudam-me a sair da água e perguntam-me se estou bem, se me magoei. "Não, estou bem. É a água!...". Eles "tá fria?!". Eu "Nãaaaaoo, tá booooaaaa!" :P
Toca a correr dali para fora, para tentar aquecer. O abastecimento dos 17km estava a uns metros... Gondramaz, uma pequena aldeia no meio do nada, mesmo muito gira. Hei-de lá voltar.
Parei. Neste abastecimento, como nos outros todos. Coisa que não costumo sentir necessidade nas provas, mas nos Abutres era crucial. Além disso, queria ver como estava a A.L.
Esperei um pouco, comi uns deliciosos bocados de laranja, banana e uns quadradinhos de marmelada. A minha colega de equipa tardava em aparecer e eu estava a ficar gelada...
Decidi continuar. Não sem antes pedir a umas pessoas que estavam ali a assistir para a avisarem que eu tive de continuar para não arrefecer mais.
Logo a seguir, vi o J.P. (que bom ver uma cara conhecida!), marido da A.L. Estava a ver se nós passávamos. Pedi-lhe que voltasse para trás e fosse ao encontro dela. A minha colega optou por desistir neste ponto da prova.
E eu segui sozinha. Faltavam 10km, não haviam de custar mais que os que já tinha feito...
(E vocês, se aguentaram até agora, deixem-se estar. Afinal só faltam 10km de descrição. O pior já passou... ;)
Ouvi dois corredores que iam perto de mim a queixarem-se do frio nas mãos. Comecei a mandar bocas na brincadeira "eu vou aqui com as minhas mãos quentinhas!" "estas luvas são um espetáculo! A melhor compra de sempre...". Eles entraram na brincadeira e começaram a conversar comigo. Soube de onde eram. Afinal eles conheciam provas onde eu já tinha participado e outras que foram realizadas na minha terra. E eu conhecia uma prova organizada pela equipa de um deles ;)
Seguimos por trilhos e levadas, fizemos uma pequena parte de um percurso pedestre, passámos o rio de um lado para o outro, em cima das pontezinhas de troncos, mais umas poucas vezes. Nesta zona, passaram por nós os dois primeiros classificados da Ultra, em altas velocidades, como se nada fosse (como se não levassem, pelo menos, mais 25km que nós nas pernas...).
Na altura, nem cheguei a saber o nome dos meus novos companheiros de luta... Mas, até ao último abastecimento a 5km do final, continuámos juntos, na galhofa, como se nos conhecessemos há mais tempo... Como não podia falhar, veio à baila o tema TopMáquina e respetivas Teorias-Top-do-Trail, o facto de eu ser enfermeira e, alegadamente, ter andado a meter-prá-veia e outros assuntos nessa linha... ;D ;D
Uma risada, que nos manteve bem dispostos e distraídos por um bom bocado, esquecendo um pouco as dificuldades vividas e o que ainda estava para vir até à meta...
No último abastecimento antes do fim. A A.L. e o J.P. estavam à minha espera. Incentivaram-me a continuar. A não perder muito tempo porque era uma das 10 ou 12 primeiras.
Nem sei o que me deu, até ali não tinha pensado na classificação, nunca foi o meu objetivo primário. Mas, na altura, meti na cabeça que tinha de me manter nas 10 primeiras classificadas. Afinal, não me lembrava de ser passada por nenhuma mulher pelo meio da prova, eu é que fui passando... "São só mais 5km? Ok, vamos lá!"
E, para terminar, segui outra vez sozinha.
Eram só 5km, de facto, mas não eram 5km de corrida. Destes, 3 ou mais eram de lama, pura. Mole e falsa como a que tínhamos apanhado no início... Fui andando, como pude. Ainda tive oportunidade de fazer uma pose parola para um fotógrafo que estava a seguir a um lago de lama à espera de apanhar um qualquer descuidado que lá se enfiasse... :P
Custou-me muuuiiito esta parte. Só me imaginava a perder ali o chip ou uma sapatilha e ficar ali que tempos, sozinha, à procura... Demorei imenso tempo aqui e fui passada por uma data de gente.
Acabou, finalmente, a lama e começou a corrida em plano, estrada, até chegar quase à meta. Seria um bom sprint final, não tivesse eu meio quilo de areia nas sapatilhas e mais de 20km impossíveis nas pernas. Mesmo assim, nesta fase, passei uns 3 corredores (homens, à pois é!... ;)
(a areia por baixo da sola das minhas sapatilhas. Litros e litros de água limpa depois, que os meus pais lhe passaram, para tentar tirar a lama...)
Chego ao cimo dessa rampinha. Expiro com força, espero 2 ou 3 segundos e arranco a correr para os últimos 200m até à meta.
E já está! Aquela sensação incrível de dever cumprido! Objetivos superados!
Consegui chegar ao fim... ;) Braços no ar, um sorriso na cara.
Comer qualquer coisa, debater-me para tirar o chip dos atacadores da sapatilha e dar um abraço os meus companheiros de luta e novos amigos do mundo trail ;)
V Trilhos dos Abutres (27K): 12.º lugar Fem., 9.º lugar Sen F (o meu escalão), 4h49. Feito. ;)
Para mim, a prova de trail running mais dura mas mais bonita de sempre!
Podem ler aqui um excelente relato de quem viveu a experiência do Ultra Abutres.
Se ainda tiverem coragem, para melhor perceberem aquilo porque passámos, deixo-vos o link de um vídeo (onde eu apareço! uhu :P).
Alerto apenas para a edição "meio-esquizo" do vídeo. Os mais sensíveis podem ficar enjoados ou a convulsivar ao fim de uns minutos... Eheheh
Fotos minhas durante a prova?
Simplesmente impossível. Para além de não ter levado nenhum aparelho à prova de água e lama, precisei das minhas duas mãos livres em todo o percurso e muito admiro quem conseguiu fazer vídeos como este...
Deixem-se de tretas, o vídeo tem 20 min e meio, ok. Eu estive lá quase 5 horas... Custa-vos assim tanto?!
Ok, façam como entenderem... :P
Pronto, já acabei.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Subida à Torre
Mesmo não estando a 100%, o menino A. também quis ir e lá fui eu acompanhar o pessoal na subida. De carrinho, claro!
Não conhecia o caminho por Seia e acreditem que, apesar de não parecer uma subida tão inclinada, é muito dura. E eles ainda tiveram o fator calor-que-metia-nojo a dificultar a tarefa...
Nos tempos de espera fui apreciando a paisagem, as lagoas. Dava vontade de ficar a fazer praia na Lagoa Comprida ;)
Vimos alguns grupos, com ou sem apoio, a tentar cumprir o mesmo desafio, incluindo duas mulheres!
Mas impressionou-me mais o senhor que aparece numa das últimas fotos... Que grande exemplo de força, vontade de viver e coragem!
E ainda houve quem fez o caminho de regresso de bicicleta... :S
quarta-feira, 21 de maio de 2014
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