Acabei a minha licenciatura há cinco anos e meio.
Estive (apenas) cerca de 5 meses desempregada, durante os quais fiz cursos de formação e um estágio, como voluntária, para me manter próxima da área.
Vi um anúncio para um trabalho a 500km de distância da minha família, não era nada de especial, mas arrisquei.
Não precisei de emigrar mas, para mim, esse ano que passei longe foi como se tivesse ido para outro país.
Concorri e consegui vir para mais perto.
Com pouco menos de 2 anos de serviço, concorri para a especialidade de saúde materna, a minha praia na enfermagem.
Fui a aluna mais nova do meu curso.
Se dúvidas tivesse, fiquei a adorar ainda mais a área, sobretudo ter a possibilidade de trabalhar em conjunto com os pais e o bebé e ajudar no nascimento.
Apesar de me terem cortado os subsídios, para ter a especialidade tive de investir(?) mais de 5000 euros em propinas, viagens, material de estudo... Após os cerca de 2 semestre de aulas teóricas, tive de fazer mais de 24h de estágio por semana (além do meu trabalho), durante 27 semanas. E não sei se algum dia irei ser compensada por este esforço.
Os enfermeiros não têm a especialidade paga e contando como tempo de serviço (como tem, por direito, outra área da saúde). Desde há uns anos, também não têm atualização salarial após o aumento de competências como especialistas, mesmo que exerçam na área de especialidade...
Trabalho por turnos, não tenho os fins de semana sempre livres. Nem os feriados, nem o Natal ou a Passagem de Ano, a Páscoa...
Continuo a trabalhar no Bloco Operatório e não no Bloco de Partos, como gostaria, mas orgulho-me muito de fazer parte do grupo de trabalho que iniciou o Contato Pele a Pele nas cesarianas. Pertencemos a uma das poucas maternidades do nosso país onde esse procedimento é possível.
Algumas adversidades à parte, posso dizer que tenho tido imensa sorte.
Terminei a licenciatura na altura certa. Vejo os estudantes de enfermagem e os recém-licenciados com perspectivas bem diferentes da minha...
Tenho vários colegas de curso emigrados e algumas desempregadas... por opção ou por falta dela.
Ser enfermeira, não é fácil, mas continuo apaixonada pela profissão que escolhi.
Todos os dias, tenho a possibilidade de melhorar a vida das pessoas de quem cuido, de transformar a experiência de estar internado/ser operado em algo mais facilmente suportável, com gestos simples, palavras acolhedoras ou com o silêncio, se assim for preciso.
Hoje é Dia Internacional do Enfermeiro.
Tenho uma licenciatura e um mestrado quase concluído. Frutos do meu trabalho.
Não sou doutora. Nunca quis ser.
Sou enfermeira.
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