A nossa última caminhada deu, finalmente, resultado!
No fim, as contrações já eram mais fortes que o habitual. Tu achavas que ainda não era desta, mas passada uma hora, elas começaram a ser regulares e não pararam mais.
Quase à meia-noite puff!, a bolsa de águas rebentou. Mesmo assim, duvidaste que fosse líquido amniótico.
Recebi uma mensagem no telemóvel: "...não é xixi, nem é rolhão, é água. Tem um cheiro qualquer, a mim parece-me musgo".
Foi a descrição mais adequada que li das características do líquido amniótico.
Resposta óbvia: "Parabéns, estás em trabalho de parto!" ;)
Bora para a maternidade. E aqui a prima a fazer telefonemas para assegurar que a mantinham informada dos teus movimentos, caso tu não conseguisses.
Noite complicada. Sempre em sobressalto, mas a tentar aguentar até às 7 para sair de casa. E as dores não eram minhas... Ser prima.
Entrar ao serviço, ver-te aflita e cansada da noite looonga, pedir para ficar na obstetrícia, passar o turno a correr (efetivamente!) contra o tempo, a tentar que tudo fosse feito como deve ser, não deixar nada, nem ninguém para trás, sobretudo vocês, que eu sentia que precisavam de mim como nunca. Passar-me, dizer disparates, mandar uma cabeçada a um colega (sem querer, juro!), esforçar-me por corrigir tudo e pedir desculpas, chorar só um bocadinho com os nervos e obrigar-me a parar, a manter-me firme, para te transmitir força e confiança.
Perceber que chegada a hora, o parto não ia ser normal e que eu não o podia fazer, como tu querias. Receber incentivos dos meus colegas médicos obstetras para me equipar na mesma e ajudar no parto.
Ver a cabeça do J. a sair para este mundo, poder agarrar nele e ajudá-lo a escorregar,, só mais um bocadinho, cá para fora. Segurá-lo no colo pela primeira vez e, a tentar controlar as lágrimas, dizer-lhe qualquer coisa como "Benvindo, seu palermita!" ;)
Vê-lo a chorar pela primeira vez. Pô-lo no teu peito (com ele a tentar agarrar-se à minha bata pelo meio :P).
Ver-te chorar de alegria e alívio...
Concentrar-me, tentar abster-me de tudo o resto e continuar a fazer o meu trabalho, o melhor que sei. Ser enfermeira obstetra.
Tentar ajudar a pô-lo à mama pela primeira vez.
Vê-lo a fazer o seu primeiro xixi, em cima de ti (e o que nos rimos todos com a cena... ;D).
Ser sobrinha e chamar de "avós" aos meus tios. Ver as reações estranhas deles a esta palavra... :P
Tomar banho, trocar de roupa. Ligar ao A. a cancelar a ida ao ginásio, para irmos jantar a casa dos pais dele. Afinal era Dia do Pai...
Certificar-me que estavam todos bem e vir embora para casa ao fim de quase 12 horas intensíssimas.
Pegar no telemóvel e ligar, finalmente, ao meu pai. Mandar-lhe um beijinho do Dia do Pai, contar as novidades e combinar o almoço com ele no dia seguinte. Desligar o telefone e desatar a chorar que nem uma madalena.
Chegar a casa, recostar-me no sofá com as pernas para o ar e fechar os olhos.
Ver o A. a chegar. Ouvi-lo dizer "o que é que tu tens? Estás tão mole..."
Levantar-me do sofá e começar a responder-lhe com "nem imaginas como foi o meu dia..."
Contar-lhe tudo, chorar e rir ao mesmo tempo, feita tolinha. Ver a cara dele de aflito perante as minhas reações. Ser namorada.
Sair para jantar. Ser tia e divertir-me com os progressos do crescimento do outro J., um ano e 5 meses mais velhinho ;)
Dormir. Mas pouco.
Ir almoçar com o meu pai.
Rir-me e "discutir" com ele sobre assuntos que não lembram a ninguém.
Ser filha.
Beijinho pai.
1 comentário:
;)
gostei tanto deste post
Enviar um comentário