... às vezes surge o negro. O outro lado da obstetrícia. Aquele que tento aceitar mas ao qual nunca me hei-de habituar.
Pode-se dizer que tenho tido sorte nos meus turnos. É que depois de mudar de serviço e passar a prestar cuidados imediatos aos recém-nascidos, regra geral, nascem bem ou então não me calha a mim essa função.
A verdade é que em mais de dois anos foi na semana passada a primeira vez que colaborei numa intubação traqueal.
Lembro-me bem do nome da mãe, de outros pormenores acerca da senhora e da cesariana em si e também que os pais ainda não tinham decidido o nome da miúda.
Nasceu antes do tempo e, soube hoje de manhã, morreu antes (?) do tempo.
Fiquei triste, pensei na mãe, no pai, na irmã mais velha... Mas o meu turno seguiu e não voltei ao assunto.
Na creche, reparei que a educadora do S. quase me pediu desculpa pelas coisinhas que tinham feito.
Só quando cheguei a casa percebi porque não consegui sorrir com as lembrancinhas do Dia da Mãe.
Tínhamos de escrever num papel que dizia "Ser mãe é..."
Estamos a pouco mais de um dia do Dia da Mãe, no meu serviço afixámos uns cartazes todos engraçados a desejar um dia feliz e preparámos umas lembranças para as parturientes, na tv o tema é super frequente, na creche também tinha umas pequenas surpresas, mas só me vem à ideia as mães de colo vazio...
Penso nesta mãe e em todas as outras que nunca o chegaram a ser biologicamente, ou que perderam os seus bebés antes ou depois de nascerem...
De todas as mães que amam para sempre, mas sem ter a quem dar esse amor.
Faz-me lembrar e agradecer muitas vezes pela sorte que tenho.
Ouvir a palavra "mamã", vê-lo a sorrir enquanto corre para mim, sentir os abracinhos fofos do meu pequenino, apreciar cada momento do seu crescimento e desenvolvimento, ensina-lo a ser melhor pessoa.
Ser mãe é ter motivos para sorrir e ser feliz todos os dias. É amar para sempre.
Foi o que escrevi no papelinho.
Um abraço apertado a todas as mamãs que amam a um céu de distância!
1 comentário:
Pesado... Força, um abraço.
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